Os blogs não têm som
Recomecei a ler (poucos, muito poucos) blogs. Alguns (ainda menos) porque não tinha realmente deixado de ler, embora de forma errática. Outros, recomeçando, por curiosidade ou retorno ao hábito. Ainda não ultrapassei a fase de me aborrecerem, quase todos, mais do que qualquer outra coisa, a menos que se trate de coisa gira ou texto magnífico. E com isto, esperando não ofender os seus autores, explico-me: não que os menospreze ou o que escrevem; antes que são mais, uns porque sei, outros porque os adivinho mais. Mais do que aquilo que ali está. Mais porque lhe encontro, nos escritos, uma falta de voz. Se os lesse em voz alta, seriam monocórdicos e sei que aqueles autores têm, de certeza, mais som.
E esse som, encontro-o escrito noutros lados. Mais leves? Não, não são mais leves. São, provavelmente, muito mais profundos, talvez menos encerados. Assim como eu estou a polir este post com um paninho quando me bastava escrever
foda-se escrevo e leio muita gente noutros lados que escrevem inteiras, sem merdas, com o coração todo, com o estômago, com medos enormes, com alegrias imensas, com intensidade, com alma, com corpo, com gargalhadas e com pavores e com tudo ali, escarrapachado, pessoas inteiras cheias de som.
Comparativamente, os blogs parecem-me uma seca. [sim, incluindo o meu]
- Groupie mode
- The Eight
este texto poderia ter algum som se indicasse onde a leitora lê as tais belas coisas com som, com medas, com estomago e visceras, com medos e alegrias, intensidade e alma, corpo, gargalhadas e pavores, e mais coisas. Se é na biblioteca da autora (ou dos amigos ou nas municipais que frequenta) fantástico e concordo logo, mas podia dizer isso para nos desinquietar. Se é noutros sítios podia divulgar, para irmos fruir, ou infirmar. Se é só assim, ora bolas, é uma atoarda, típica do ga(i)jismo bloguístico (olhem para mim tão gira ,tão longe de vocês, tão esperta e sensível).
Este é um avatar, incompetente, do 100 nada,
Catarina,
ainda assim, mesmo uma seca, sigo lendo-te.
bjs
JPT, tens toda a razão. Por momentos, esqueci-me que estava a escrever num blog e que não era só para mim. Não era, de todo, esse sentido de ser tão gira e tão sensível, antes que este blog era uma seca, porque só tinha uma dimensão, como grande parte dos blogs que leio, comparativamente a (está nas tags) outras redes sociais e a algumas dinâmicas que aí se desenvolvem, principalmente em grupos restritos (daí a não publicidade aos mesmos). E sim, mais incompetente ainda, porque nem sequer isso ficou claro no post. Agora bibliotecas, não, não comparo, salvo raras excepções, o que vou por aqui lendo ao que leio em livros. Dependendo do livro, obviamente…
O post era meramente uma constatação (que já não consigo escrever decentemente porque não lhe meto alma ou tutano), que escrevo e leio dessa forma em grupos restritos e, de alguma forma, mostrar uma espécie de agradecimento às pessoas que comigo partilham essa alma delas.
João, obrigada (mas é uma seca de blog).
ok. mas isso, no tempo do meta-bloguismo, daria para elaborar algo. Mas já não é esse tempo. Os blogs feneceram? Acho que já passaram. Haverá menos, e acima de tudo muito menos convivenciais (isto existe?) [há os políticos ou os especializados]. E já quase não há diálogo [os comentários desapareceram]. Haverá muitas razões para isso mas até acho do que mais importante do que as vísceras expostas, que tu lamentas, é a questão tecnológica (o “partilhar” das redes é muito mais simples e rápido – se eu clicasse e metesse um filme ou música no meu blog com a mesma rapidez poderia escrever sobre isso de imediato, e acredito que tantos outros o fariam)
Quanto ao resto que dizes no comentário é diverso. E é mais do que lamentável, pois é o passar da praça pública, da conversa de jardim ou café ou de bar onde escuta quem quer e participa quem quer e é aturado, para o regresso à casa própria. Ou, pior ainda, ao grupo da catequese ou loja maçónica, esses “grupos restritos”. Claro que é um direito das pessoas (multiplicado pela mais-exposição (até fotográfica) das “redes sociais”, a gente cuida-se mais). Mas é uma pena. Mais que não seja porque as tais vísceras ficam expostas apenas aos conhecidos.
Não tem muito a ver com o teu postal mas vem na sequência, tipo conversa, como dantes se fazia nestas caixas. Nós no nosso blog continuamos a meter as tais vísceras, será mais a mioleira do que as entranhas uterinas ou a tal da próstata, mas sempre são humores. E os leitores mudaram exactamente devido ao que metes em “tags”. Os leitores do blog “dos tempos” desapareceram (cansados de blogs? cansados do blog, isso com certeza). E veio um outro contexto (além-blog) via facebook. Também se cansarão, porventura, do talho diário. Mas digo-o apenas para sublinhar que não são (apenas) os suportes que mandam
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Embora concorde que uma melhor tecnologia (e aí está ela, fresquinha) ajude, acho que as vísceras expostas não têm a ver com isso e sim, ter agora vários tons para vários lados. E adaptamos o som ao sítio, baixamos a voz no café, já só para a nossa mesa ou vamos até para a varanda de alguém, com os chegados ou os interessados no tema. Há mais escolha, há maior exposição (antigamente eram meia dúzia de cromos, os bloggers, agora é anormal não ter conta no FB) e maior recolhimento, por consequência, se assim se entender, obviamente.
Quanto ao fenecer dos blogs, é um bocado como quando dizemos que não saímos à noite porque a noite acabou. acabou a nossa, a que gostávamos, mas está cheia de gente nova. A fazer as mesmas coisas ou parecidas. nós, blasés, da varanda com os amigos, “olha-me aqueles palermas, que falta de originalidade”. Been there, seen that, quantas vezes pensas isso ao dia? É a velhice? É e não é, há outras coisas, há mais exigência. Somos uns chatos, mas enfim, tentemos ainda – falando por mim, apenas, que o teu blog sempre se manteve firme, mesmo quando nem lá estava – ter alguma interesse nisto.