Um banco não é uma padaria
Os portugueses têm vários talentos mas, acima de tudo, têm jeito para uma coisa que é gestão. Não há português que do alto da sua sabedoria não saiba gerir melhor seja o que for, do Barcelona aos dinheiros públicos, das empresas privadas ao café da esquina, do fisco à fiscalização das matas. Quanto é para gerir, sabemos todos muito melhor do que quem lá está de facto a dar o seu melhor (seja para que efeito for). Aliás, só há duas alternativas para quem lá está: ou são uns incompetentes porque corre mal e faríamos melhor, ou são uns ladrões porque corre bem e faríamos melhor. É por isso mesmo que este país está coberto de empresas de sucesso e empreendedores que não querem trabalhar por conta de outrem com contrato sem prazo, porque todos estes gestores estão ansiosos por apostar o deles e mostrar ao mundo que eles é que são bons.
Adiante.
O Souzé, padeiro de profissão, desde miúdo a amassar bolos no negócio dos pais, com padaria de renome que vende excelentes carcaças, regueifas e pastéis de nata, ganha o euromilhões e decide expandir o negócio. Abre o jornal, na secção de compras, vendas e trespasses de casas comerciais e, ali no meio da lista de negócios de pastelarias, cafés, restaurantes, empresas de construção, casas de ferragens, sapateiros, chaves minuto e outras empresas para venda, compra e ou trespasse, vê um banco. Olha que giro, diz o Souzé, sempre quis ter um banco. Um banco é fixe, varia das carcaças. E está por quanto? Ora a ver e resolve enviar uma proposta em envelope fechado, já que tem o dinheiro ali parado, em conta à ordem, sem saber o que lhe fazer. E como é muito, faz logo uma proposta daquelas mesmo irrecusáveis, atira logo um montante dos grandes, que aquele banco há-de ser dele, fica mesmo a dizer bem com a padaria e nada – nada! – impede um padeiro de ser banqueiro. Nada. Quem diz palmier, diz empréstimo, quem diz pão de forno de lenha diz depósito, quem diz tarte de morangos diz swap de taxa de câmbio e quem diz bola de berlim diz imparidade. Isto não tem nada que saber.
O Souzé manda a proposta e, passados uns tempos, recebe a resposta que temos pena mas decidimos vender o banco por metade do que vocelência ofereceu. O Souzé, danado, não entende. A proposta dele dava muito mais a ganhar ao vendedor. Ele, padeiro excelentíssimo, o melhor da freguesia. Um tipo conhecido, sério, honesto. Pagava o dobro. Inacreditável isto, só neste país de incompetentes e ladrões. Só cá é que uma coisa destas acontece!
[Adenda: não faço ideia porque é que o BPN foi vendido por 40 milhões de euros em vez de por 100. Mas uma coisa sei de certeza: o Ministro das Finanças sabe muito mais de banca do que eu. Ou vocês que me estão a ler à espera de uma explicação técnica e levam com uma historieta. Mas uma coisa é certa: eu não arriscava nem sequer comprar a padaria ao Souzé, porque não sei fazer pão ou bolos. Comprar um negócio é só comprar um negócio: saber andar com ele para a frente é que é importante.]
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Eu português no alto da minha sabedoria não concordo nada do que aqui foi escrito, mas apesar de ter biblioteca nada sei de finanças, portanto não vou argumentar.
Mudando de assunto: mais uma vez a dona do tasco vai de férias sem dar cavaco ao fregueses…
Espero que hoje (ou seja ontem..porque como é sabido eu ando sempre atrasada) tenhas tido um dia muito feliz.
Bjs.
Sábado sai à rua pela verdadeira Democracia, contra a máfia politico-financeira.
há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não!
mas ninguém garante que o Souzé não fosse um fabuloso gestor do banco que comprasse. e garantidamente estaria a geri-lo em proveito próprio, com o seu próprio dinheiro, não com o dinheiro dos outros.