Obrigo-me pois tá claro
Lembro-me de um lago. Coisa estranha, no meio do mato. Provisório, creio, de águas de chuvas, mais charco que lago, um buraco aberto que terá enchido. Ou então seria mesmo um lago verdadeiro, mas duvido. Tinha dezenas de, não, não eram nenúfares, mas eram folhas a boiar, plantas vivas. À volta um lamaçal, já seco que era verão. E lembro-me de se referir isso, já que ninguém o tinha visto antes. Que não se voltaria ali, provavelmente, porque o lago já teria desaparecido, porque já teríamos desaparecido até. Mas, acima de tudo, porque não se regressa aos sítios onde fomos felizes.
Os anos passaram, morremos (morre-se sempre um bocadinho), nunca lá voltei. Ficou a memória, intacta, a lama seca nas pés descalços, nas mãos a lembrança do peso das pedras que tentámos fazer saltar na água. O sítio é indiferente que exista ou não, porque o que nos fica – sempre – é a imagem: dessa tarde, de outras tardes, de outros dias, de outros sítios e outras pessoas.
Mas a linha traça-se entre os mundos e nunca jamais em tempo algum não voltarei a algum local onde tenha sido feliz que ainda ali esteja, cheio de gente.
- Me, myself and I
- O Princípio de Peter dos escrevinhadores
Nice
Era “ai que lindo” que devias escrever! 😉
Ai que lindo…!
Mas aconselho toda a gente (mormente portuguesa) a voltar aos sítios onde foram felizes: não apaga a memória; ressuscita a saudade. E, em português, é muito bom sentir saudade.
Paulo, o “ai que lindo” é uma piada ali a um post mais abaixo
Sim, de alguma forma acontece isso, mas não voltando, a memória fica intacta à mesma, se é das que valem a pena (o que não quer dizer que se tenha saudades ou sequer se queira ter).
O que subjaz à expressão (provérbio milenar, penso eu de que) é a desilusão e subsequente deformação da memória. Porém, sempre que pude, voltei aos sítios onde fui (muito ) feliz; não propriamente para a celebração da saudade (não sou masoquista, nem agiganto passados – o contrário não é forçosamente verdade…), mas por uma questão do “deixa cá ver”. Retira-se muitas conclusões da observação directa, in loco. oh-oh!
Quanto ao “ai que lindo”, foi provocaçãozinha 😉
“ai que lindo”
Gosto desta minha fotografia verde. Só não percebo porque é que estou só com um dos olhos abertos. Será que estaria a piscar o olho ou terá sido tirada antes 1º do café da manhã?