100nada

Nem tanto as redes sociais: é mais a pressão social mesmo

Vou aqui fazer uma salada com as duas coisas que assombraram as redes sociais e, num dos casos, os media institucionais. Não porque tenham alguma coisa a ver, a ser realmente salada, seria de bróculos com pregos ferrugentos ou qualquer coisa do género. Refiro-me, claro, ao caso anúncio Pingo Doce e ao Maitêgatorada. Nada a ver, mas os dois a inundar de opiniões tudo quanto mexe ou, pelo menos, twitta ou facebooka. Não é exactamente para acrescentar grande opinião minha às duas coisas: sobre o Pingo Doce já escrevi em baixo, sobre a outra estupidota já amplamente dei os meus dois cêntimos, que se resumem a, pessoalmente estou-me cagando no video e na criatura mas, para além do meu umbigo não ofendido, penso que não é tão inócuo quanto a intelligentzia quer fazer crer. Tudo o que contribui para o aumento da xenofobia já existente seria, a meu ver, perfeitamente dispensável, no mínimo. É que, convenhamos, o grosso da nação não são os twitters, facebookers e bloggers mas sim uma massa que se aproxima perigosamente dos níveis europeus de xenofobia. Até podem não querer limpar retretes, lavar escadas e servir cafés, mas qualquer pessoa com um sotaque diferente num país onde o desemprego aumenta como cá é para abater, porque “nos está a tirar os nossos empregos” e por aí fora. Para além daquela porcaria ser rasca e ter tanto humor como uma pedra da calçada atirada à cabeça de um estrangeiro. Ou, pelo menos, ao vidro da janela. Mas claro, cada qual vê até onde quer, para além do seu umbigo que não ficou nada ofendido. Esta é a minha parte mais opinativa do post, vamos à outra.

Na minha salada dos dois casos, o que têm em comum é uma coisa que acontece muito: sofrem ambos de pressão social. No caso do anúncio da esganiçada, pois é piroso, bacoco, saloio, parolo, enfim, mas uma data de coisas que fui lendo por aqui e por ali. Ou seja, quem gostar daquele anúncio é piroso, bacoco, saloio e parolo. Indo mais além, o contrário de se ser piroso, bacoco, saloio e parolo é ser-se, portanto, contra o anúncio. Até já estou com pena da Jerónimo Martins, que fez um anúncio que ainda por cima – o cabrão – fica infernalmente no ouvido e um gajo passa o dia inteiro a ouvir aquilo lá ao longe e a sonhar com bancadas de batatas, cenouras e peixe em cima de pedras de gelo. Não é coisa que se deseje a alguém, vá.

No caso da cuspidora da fonte, lá encontramos, desta vez com muito mais energia, genica e empenho, os educadores da classe operária a indicarem o caminho certo mas não dirigido ao video em si: desta vez é à indignação, de menor ou maior grau; essa é que é pirosa, bacoca, saloia e parola. Quase me sentiria isso tudo, por realmente achar aquilo uma merda desnecessária e sim, ofensiva e até um tudo nada despeitada :na radio alcatifa diz-se que a senhora teria sido preterida por príncipe português ou então as vendas dos livros não estariam a correr bem, mas eu ainda sou do tempo em que ela era a Malvina ou a Cruela (sei que não era Gabriela) e nem sabia que vendia livros. Não sinto nada disso porque eu não tenho vergonha nenhuma de me indignar com o que quer que seja. Mas o que vejo é a onda a virar e onde se lia indignação, alguma, enfim, até moderada em vários casos, agora vê-se um silêncio que cede perante a tal pressão: para se estar dentro, para se pertencer à rapaziada que faz a opinião que deve ser seguida pela massa, então é melhor calar para não se parecer piroso, bacoco, saloio e parolo.

Tem piada isto. Às vezes dou mesmo graças a Deus por existir povão. Que é para nos relegar ao nosso lugar de fazedores de opinião de meia dúzia de outros gatos pingados, armados ao pingarelho intelectual. Se dependêssemos deles, já estava tudo vendido aos talhões.

[eu por acaso também vendia a minha parte mas, por enquanto, se alguém cuspir nela, leva com uma sacholada nos cornos]

14 thoughts on “Nem tanto as redes sociais: é mais a pressão social mesmo

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  3. dicanes

    adorei este post. :)
    Como não sofro de “prisão-social”…qt ao anúncio do pd, acho que está mt bem conseguido. É “catchy”. Destina-se não ao consumidor-tipo do pd ( esse sim com “capacidade”/ “curiosidade” de o dissecar) mas ao “freguês” do Dia e do Modelo.
    qt à MP…nada a dizer e já demais se disse.

  4. kooka

    Em relação à cuspideira:

    – vi o vídeo pela primeira vez há dois anos. Não me lembro como me chegou “às mãos”, mas quando o revi aqui há dias lembrei-me que já o tinha visto. Através do YouTube, claro, mas não me lembro como nem porquê.
    Na altura achei aquilo sem piada nenhuma. Se o intuito era ter piada, para mim não teve e eu considero-me uma pessoa com algum sentido de humor.
    Senti, admito, uma falta de respeito por parte da dita senhora pela atitude de arrogância com que apresentava a sua piadinha.
    Achei que a cuspidela tem em si uma pose de actriz porno que vou-te contar!
    Mas acho um absurdo a onda que se levantou à volta do caso. E já não posso com isso no twitter, no facebook, no flickr ou seja lá onde for.
    No FB entrei no grupo “Portugueses que ensinam Maitê Proença a cuspir” porque realmente há cuspidelas com estilo, e cuspidelas sem estilo nenhum ou com um estilo manhoso de actriz porno.
    Eu até nem sou muito cuspideira (detesto ver o pessoal a cuspir para o chão…), mas até eu cuspo com melhor pose que ela =D

    Pingo Doce: acreditas que nunca vi o anúncio do princípio ao fim?! As horas que passo em frente à televisão são ou no computador ou na máquina de costura. Não me deixa grande espaço de manobra para olhar para a televisão. Lembro-me que tem uns campos verdes (estou certa?) e lembro-me de ver beringelas. Mas se calhar isso até nem faz parte do anúncio, sinceramente não sei mesmo.
    Mas já me irrita o dito cujo. Por duas razões muito simples:
    1ª – pelo mesmo motivo que já não aguento a maitêcoisa – too much talk. Demasiada indignação, bla bla bla.
    2ª – porque, e isto sim eu já reparei com atenção, o raio da música é irritante e a senhora que canta (parece a voz da Anabela, será?) faz-me realmente doer os ouvidos. Coisinha esganiçada…..irra! Que dói!

    Resumindo e baralhando, seja maitê-cuspideira-porno ou seja pingódoce-ca-esganiçada-da-anabela, é como diz o ditado: o que é demais, enjoa.

  5. emiele

    Bem vinha concordar inteiramente contigo, mas a kooka disse quase palavra por palavra o que ia escrever.
    O anúncio fui ‘ver’ de propósito, porque tiro o som quando passam anúncios e não tinha ligado à coisa. OK, é piroso, e depois? O movimento contra é espantoso. Até porque estamos fartos (eu estou) de ver ou ouvir anúncios palermas. Parece mais coisa orquestrada pela agência que perdeu o contracto.
    A «Maitêgatorada» como chamas, é óbvio que é irritante. A verdade é que contamos montes de anedotas com um inglês um francês e um português (ou outros países que tanto faz) onde o português não sai lá muito bem mas isso somos nós, não é lá preciso que nos digam nada. O sketch é parvo, e o tom superior/trocista não ajuda a ter a tal graça que ela disse que era para ter. Mas daí a abaixo-assinados e intervenção na embaixada… Haja bom senso.

  6. Kooka

    Ana, ao que parece o dito programa só agora passou em Portugal (não faço a mais pequena ideia em que canal, mas para aí no GNT).
    E foi a partir daí que foi lançada a confusão.

  7. catarina

    Nopes, creio que foi metido no youtube no final de Setembro; só depois da polémica se instalar é que começou a passar nas televisões.

    e obrigada pelos comentos todos!

  8. Kooka

    Cat, o vídeo está na net há muito mais tempo.
    Não tinham era dado por ele até passar na TV cá.
    Como disse no meu primeiro comentário, eu vi o vídeo há uns dois anos.

  9. Kooka

    Está há mais tempo, sim 😉
    Eu li ACHO que no site da Globo que isto tudo começou a tomar estas proporções depois do programa ter sido passado cá. E aí nessa altura deve ter sido novamente colocado na net por qualquer outra pessoa.

  10. Catarina

    É a primeira vez que por aqui passo e gostei deste post, gostaria, por isso, de também deixar o meu bitaite :)
    O mentor do anúncio referido devia ser premiado pelo excelente trabalho que fez, conseguiu pôr toda a gente a falar do dito supermercado, segue a velha máxima “prefiro que falem mal de mim a não falarem de todo”, a verdade é que os anúncios irritantes (e são muitos) produzem o efeito desejado, fazem com o produto anunciado fique gravado na memória dos consumidores, acredite que resulta! Estratégias de marketing 😉
    Quanto à pobre desgraçada da Maitê… não havia necessidade… é censurável o vídeo, é sim senhora, mas é sobretudo do mais ridículo e oco que podia haver, não fosse o vídeo gravado para um programa de e para gajas fúteis e parvinhas! Eu sinto-me mais envergonhada pelas reacções extremistas e fundamentalistas que surgiram, ora sinceramente, é caso para tanto? Eu penso que não! E noto que a maior parte das reacções surgiram de grupos de pessoas mais inclinadas assim… para o lado direito e que andam sempre mortinhas por um episódio destes para ver o “circo pegar fogo”!
    Enfim…

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