100nada

No semáforo vermelho

(5 de Outubro)

O semáforo estava vermelho, realmente, mas era lá mais ao fundo, para duas das filas. Para as outras (duas?três?) estava verde. O que quer dizer que estavam cinco filas de carros, uns mais devagar, outros mesmo depressa. No passeio está uma rapariga que já atravessou o outro lado a correr à frente dos carros. Pára ao meu lado, apressada. Fato calças e casaco, o power suit que eu detesto mas tão em voga nas mulheres que pensam que a igualdade nas carreiras também passa pelo uso de roupa de cariz masculino (expliquem-me esta lógica, por favor), carteira à tiracolo, pasta na mão. Atrasada para algum lado. E começa a fazer fintas à frente do meu carro, com os olhos postos nas faixas além, onde circulam mais rapidamente os outros carros. Avança, recua, avança, recua. A minha fila avança, eu avanço, ela recua mais uma vez. Continuo a andar devagarinho, enquanto vou espreitando pelo canto do olho no retrovisor. Penso no tempo que já passou, está naquilo há uns minutos. Tem uma passadeira a 20 metros. Finalmente, deixo de a ver, oiço uns travões, uma buzinadela zangada. A rapariga atravessou a rua.
Vou-me embora a roer que, se tivesse ficado debaixo de um carro, de certeza chegaria ainda mais atrasada onde quer que fosse. Tinha uma passadeira a 20 metros. Esta gente é doida, não é?

0 thoughts on “No semáforo vermelho

  1. PreDatado

    Esta gente é doida e o que mais me lixa é isso mesmo, a passadeira logo ali. Uma tipa dessas de fatinho calça e casaco (tinha gravata?) vá lá que não vai, mas eu já vi atravessarem-se-me à frente velhotas com crianças pela mão (que pressuponho, netos) com pasadeiras a 10 / 15 metros mal medidos. Fico fulo. Mas maluco mesmo, deixa-me contar esta que não resisto, sou eu quando sonho que faço o mesmo. E sabes onde? Naquela zona do garrafão da ponte que tem umas quinze ou mais vias na faixa. Só em sonho porque maluco na verdade não sou (quer dizer, quando estou ao espelho acho que não sou porque o gajo é a carinha chapada do dono!).

  2. Catarina C.

    Não tinha gravata, mas era como se tivesse. E, sim, também já apanhei velhotas com e sem crianças pela mão. Um dia destes, a uma dessas com criança pela mão, acho que não me aguento, paro o carro e BATO-LHE. Não com o carro, claro, bato mesmo na velha (há dias apanhei uma que ia toda contente pela rua – num sítio de passeios largos – a empurrar um carrinho de bebé; não apitei porque tive medo que largasse o carrinho com o susto, mas apeteceu-me nem sei o quê).
    Enquanto não sonhares que atravessas o garrafão da ponte TODO NU, acho que não é grave…

  3. Alfredo Caiano Silvestre

    É.

    Essa gente é doida.

    A vantagem de viver na aldeia é a de que aqui há uma passadeira. Frente à escola que a professora precisa dela para ensinar os meninos. Aqui na minha rua há dias em que, por volta das 10 horas, se encontram o padeiro, a carteira e o homem do táxi.

    É a nossa hora de ponta.

    :)

  4. catarina

    Que sorte, Alfredo! Eu também vivo numa ainda aldeia, quase desse género, o problema é que o mundo selvagem dos doidos está mesmo aqui à beira…(na passadeira à frente da escola do meu miúdo há gente que NÃO PÁRA à hora da entrada na escola… a começar por alguns pais que largam os miúdos no meio da rua, entopem o trânsito e depois avançam cheios de pressa e os putos a atravessarem a rua na passadeira que esperem)

  5. Crezia

    É doida, não pensa, e sobretudo, tem falta de gosto. Não vejo nada de bom nessa pessoa. Custa muito pensar. Mais ainda pensar nos outros, no não incomodar, o não chatear o próximo. É uma limitação de meia Lisboa. A falta de gosto já afecta 3/4.

  6. Moura

    Doida varrida, sem amor a vida, e com um enorme desprezo pelos semelhantes. (porque não a brindaste logo com duas ou três esguichadelas de limpa pára-brisas?)
    Felizmente não é generalizado e, à conta de gente assim, na vila (já não será aldeia, mas para cidade ainda lhe falta umas léguas) onde vivo, às horas da entrada e da saída da escola do pirralho estão lá dois ou três xôguardas fluorescentes a impôr a ordem…

    (Antes que descambe: a sugestão era brincadeirinha!)

  7. fernando antolin

    Eu JÁ ralhei com uma velhota que ia com uma criancinha pelo meio da rua,parei o carro e passei-lhe tal desanda que lhe deve ter servido de encomenda !!
    Sim confesso: moro em Almada e já sonhei estar lá no alto da esplanada-base do Cristo Rei,a acenar e a fazer manguitos aos automóveis no garrafão…todo nú!!

  8. Isa

    e quando nós lhes damos um raspanete e elas (velhotas e jovens de nariz empinado) olham para nós e com o maior desdém nos mandam pastar???

    Aí é que me salta a tampa e não há vernáculo em que eu não pense (só no o digo porque fico envergonhada. Mas pensuuuuuuuu.LOL)

  9. Márcia

    Alguns de nós vamo-nos desabituando de andar a pé. É doida, sim! Mas e na passadeira quantos carros param para dar passagem?! Não li os comentário para cima mas sobre este último é uma coisa que me aflige, de verdade! As crianças á beira da estrada mesmo que pela mão dos pais. Lembro-me tão bem do “sempre encostadinha” da minha mãe enquanto caminhávamos na rua. Quantos têm experiência de ensinar isto aos filhos? E os que têm já experimentaram a dificuldade de o fazer?! Quantos adultos vem de frente insistindo em não dar o lado de dentro à criança?! Circular na rua, como em tudo, é uma questão de bom senso. E o bom senso é o que mais se tem perdido por aí!

  10. Isto suicida é quem quer, agora juntar nesse saco a atrapalhação das velhotas é que me já me parece relativamente excessivo.

    Ora vamos lá pensar que um dia, lá muito para a frente e quando nós todos aqui já formos uns sobreviventes mas caquéticos velhinhos e os blogs forem palcos virtuais onde o autor/holograma (cuidado com os rolos no cabelo) declama os seus textos para a sua audiência, talvez possamos admitir que provavelmente os carros serão já pequenas naves suspensas por um campo magnético e que sobrevoam furiosamente a cidade a 1,5 mt do chão. Nessa altura, os escassos transeuntes que se arriscam a andar na rua movimentam-se de gatas, dolorosamente, mas já nós insistiremos em andar erectos, sem nos agacharmos, apesar dos impropérios da malta mais nova e dos automobilistas que indignados encherão comentários dos tais blogs holográficos. É assim, a vida é um ir e vir em que nós vamos mudando de papeís.

  11. pp

    ca’ nao usam essa farda mas sao piores.

    isto foi so’ para comentar o post pq vim ca’ para escrever:
    dias felizes 😉

  12. Kelita

    Nop.. não fui eu! lool

    É estranho que em sítios tão movimentados as pessoas se atirem desta forma à estrada! Se ainda fosse na aldeia onde à pouco transito, ainda se compreendia.. mas agora assim….É mesmo assustador!

    Blog porreiro pá! parabéns!

    bjs

  13. emiele

    Tal e qual!
    Volta não volta não resisto e escrevo também coisas que podiam encaixar neste «semáforo vermelho», como essa de não se ir até à passadeira que está logo ali ao lado… Ou como atravessar numa corrida de ziguezague à saída de um túnel para os carros (já uma vez vi um atropelamento a até é de estranhar como não há mais) como fazem muito na minha zona.
    Se é certo que nos dizem que há muitos acidentes em passadeiras, deviam também contabilizar os que acontecem fora das passadeiras e o desprezo pelas regras de trânsito que tantos peões manifestam.
    E os velhotes que atravessam na passadeira sim senhor mas sem se ralar de que cor está o semáforo! E dão-nos uma palmada no carro se nos atrevemos a passar com sinal verde para carros, berrando «Olha a passadeira!!!». :(
    Acontece-me imenso.

    Quando levam crianças, já chamei a atenção uma vez (e nesse dia eu ia a pé e a caminho da tal passadeira, já ali à frente) a uma mulher dessas e quase apanhei. Pelo menos uns palavrões ouvi!

  14. André

    Já escrevias qualquer coisa nova, não? É que a nossa mulher tem por hábito visitar aqui o tasco e fica mais feliz com novos ajuntamentos de letras.
    Bjs

  15. M

    Hoje vim visitar aqui o “tasco” , citando André, e fartei-me de rir com o q escreveu o Zé, :) o máximo!!!

    Lembrei-me q em Singapura há uns aparelhos para pôr nos semáforos com a contagem decrescente do tempo até vir o verde. Aqui neste semáforo se calhar já faz falta um! Ou o vermelho é uma alusão ao Natal?
    Bjis.

  16. catarina

    (nem me apetece abrir o editor do blog…)

    Estou offline e com MUITO mais tempo para fazer montes de coisas que prefiro, neste momento. :) Beijos e abraços e até breve.

  17. engricky

    Por Angola a coisa toma contornos… sinistros. Mas uma coisa é certa, no Largo do 1º de Maio já há semáforos com contagem decrescente muito modernos. Vá, também é certo que 2 dias depois de os terem inaugurado já se tinha espetado um Corolla contra um.
    Vim cá deixar uma palavrinha só porque hoje ia atropelando um gajo na passadeira, estava verde para os carros, e o cabrão ainda me insultou. O bonito foi ver um polícia que estava mesmo ao lado dele a dar-lhe uma repreensão por ele não ter respeitado o vermelho para os peões e ele a encolher os ombros e a fazer aquele sorrizinho à Mr. Bean “Fiz merda, né?”. O “Mulato do caralho!” fiquei com ele na mesma 😛

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