100nada

No semáforo vermelho

(5 de Outubro)

Está um pobre aleijadinho a pedir. Sofre de uma canadiana, arrasta as duas pernas que entortam para dentro e de tremuras pelo corpo todo. Para além disso sofre de um caparro porreiro, barba por fazer e cara de quem arranca máquinas de multibanco só à força de braços, nas horas vagas. Estende as mãos para os carros, benze-se todo duas ou três vezes e depois, como ninguém abre a janela, faz outros gestos que devem significar uma praga qualquer por ninguém o acudir. Lembro-me logo dos pedintes mais conhecidos dos meus tempos de estação de comboios do Cais do Sodré, a caminho das aulas: o cego que saltava poças de água no inverno e o aleijado que sofria de uma perna das calças arregaçada.

Vá lá que o semáforo abre antes de chegar a minha vez de levar uma praga. Mas antes isso que uma canadiana pelo vidro adentro. Ou abrir a janela e ficar sem carro. Isto hoje em dia anda perigoso e já nem nos pobrezinhos coitadinhos podemos confiar.

0 thoughts on “No semáforo vermelho

  1. @na

    é verdade, mas os que mais me irritam são aqueles que andam a pedir nos semáforos com crianças ao colo… esses é que até me reviram as tripas…

  2. Mlee

    Eeeehhhh lááááá … eu lembro-me do cego salta-pocinhas!
    HAHAHAA … muito bom.
    Ao pé do meu escritório, há um romeno que tem sempre uma conta diferente para pagar consoante a hora do dia, de manhã é a luz, à hora do almoço é a da farmácia e à tardinha é a do gás.
    O número de filhos também varia …

    Beijukaaaaaaa

  3. Catarina C.

    Mlee, era o cego mais conhecido dali. :)
    Pois, esses das desgraças todas, também os há e não conseguem sequer ser originais…
    beijinhos!

    LNT, vai-se fazendo, vai-se fazendo.

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