100nada

Era eu, era

Também te vi. Apareceste de uma esquina e travaste para me deixar passar. Vinhas da esquerda e que não viesses, darias sempre prioridade a uma senhora. Naquele segundo percebi a tua incredulidade, o reconhecimento, mas sabias tão bem como eu que alguma vez nos haveríamos de voltar a cruzar. Talvez não tão literalmente, ali num insignificante cruzamento de cidade, terás imaginado um jardim (sempre tiveste essa mania) e eu mais que te atravessarias fora da passadeira para te tratar da saúde de vez. Não te podias escapar e lá vieste, meio aos solavancos, atrás de mim, nem deixaste passar mais carro nenhum, as tuas prioridades esquecidas já, naquela de me perseguir (sempre tiveste essa mania). Tive mais sorte que tu, porque apenas me vislumbraste e eu pude admirar as tuas enormes bochechas no espelho retrovisor. Claro que envelhecerias mais ainda, embora não tivesses muito mais espaço de alma para isso, mas nunca pensei que fosses engordar. A andropausa é mesmo fodida, não é? Eu faço ideia do que não sofrerás a olhar para o espelho, a barriga, meu Deus, agora deves ter mesmo uma digna de referência. Já não és o homem ainda rapaz vaidoso de corpo e velho rezinga de alma, serás um barrigudo de bochechas caídas. Pelo menos ficam a condizer com outros lados, que temias caídos (“acho que estou a ficar com os tomates descaídos, não achas?”) e que devem estar completamente pendurados.

Não é que eu seja uma ingrata e se aqui estou é por tua culpa ou causa. Mas há muito tempo que te deixaste de atravessar fora da passadeira da minha imaginação. Para te dizer com franqueza, nem me lembrava que existias. Teria sido escusado que eu te tivesse sabido agora com bochechas descaídas, mas o tempo passa e não perdoa: os desistentes não merecem muito mais.

0 thoughts on “Era eu, era

  1. catarina

    Zé, a monalisa é gaja, portanto pela tua lógica, pode. :p

    O teu dador de esperma tinha-os dependurados? Caneco, isso não me parece um controlo de qualidade muito eficaz…

    Tá é a animar, Zé. 😀

  2. e eu sou gajo e não tenho barriga nem desisto facilmente, ora

    pese embora, pese, … e também, tou no embora

    monalisa, e faz muito bem :)

  3. catarina

    A Monalisa é uma melher cinco mil estrelas. :)

    Oh Zé, mas tu aqui neste blog tens estatuto de gaja! Tazabontade!

    ahhhhhhhhh, pp, também lá foste aproveitar a melhor parte, pois fizeste muito bem, gastar-lhes os últimos…ahn…fôlegos; fica-nos sempre lindamente.

  4. catarina

    O tricotadeiro que emoção! Isso é como? Vazas olhos com as agulhas ou fazes só crochet mesmo?

    (monalisa, fica fica! Ó Zé, tu não me espantes as leitoras daqui pra fora!)

  5. quem espantou a monalisa foste tu pá!

    eu até ando a angariar comentadores noutros blogues para ti

    mal-agradecida do caneco

  6. catarina

    pp, isto do tricot é coisa antiga, actividade activa à qual eu e o Bill nos dedicamos e que quase destrói caixas de comentos de certos blogs.

    Eu? EU??? Ó Monalisa, depois repõe aqui a verdade dos factos, pulise!
    noutros blogues? o Bill tava noutro blog? ahhh!
    mal-agradecida…bof…

  7. o cabrão está sempre ponto de agulhas em riste para me esteragar aquilo tudo, mas depois um gajo pede-lhe ajuda e nem um novelo de lã é capaz de trazer

  8. catarina

    Pois, se calhar faz cerimónia aqui, ou então é porque não se vêem os naperons neste blog (não sei porquê).

    Pode-se, claro, a @na lá em cima é que tava a dizer em código, mas isso é porque também faz cerimónia e isso. E é menina bem educada, mas entre gajos tá-se.

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