100nada

No semáforo vermelho

(meio da Av.Berna, hora de ponta)

Oiço um carro a apitar e não ligo nenhuma. Mas depois percebo que são buzinadelas seguidas, compridas e que não param. Olho para todos os lados e começo a ver, pelo espelho retrovisor, um carro a tentar avançar pelo trânsito (compacto), sempre a mudar de faixa. Alguns carros afastam-se e deixam-no passar e, aos poucos, cada vez mais carros se afastam a abrir a quarta faixa destinada a ambulâncias, carros de bombeiros e afins. Passa por mim, sempre a apitar, bastante depressa, das pessoas dentro apenas distingo o condutor, de óculos escuros e cara crispada. Os restantes passageiros vão no banco de trás.

Perde-se lá para diante, sempre a mudar de faixa quando não o deixam passar e eu fico ali, alarmada e angustiada, com o que se passará naquele carro, que não pode esperar por ambulância e que avança num desespero de buzinadelas contínuas, em hora de ponta. Coitado, coitados! penso, desgraçados, espero que cheguem ao hospital ou onde for depressa, a tempo.

E só na A5, depois de terem passado algumas ambulâncias do costume e de ter ouvido outras ao longe é que reparo que me angustiei com aquele carro, mas cada ambulância que passa apenas me preocupo com ter espaço para sair da faixa. E nunca, nunca me lembro que, dentro de cada uma delas, está a acontecer mais uma história de tempo contado, porque a isso já estou habituada.

0 thoughts on “No semáforo vermelho

  1. Catarina C.

    não me digas nada…a primeira tentativa, no meio da Uma Thurman e afins, aparecia o John Glenn (e já careca). Acho que aquilo está avariado…

  2. Catarina C.

    Qual revisionismo estético, eu sou gaja, pá! Claro que não vou escolher uma foto que me faz parecida com o John Glenn!

  3. mermaid

    acordei da indiferença quando vi um INEM a trepar a rotunda da Estefânia. “bateu-me” quando percebi que era para levar um miudo ao hospital, em desespero. dez anos depois angustio-me a cada sirene e lembro-me do olhar do condutor, na sua ansia de salvador. não há ambulância que passe que eu não lhe agradeça.

  4. catarina

    Pois é, Crezia…

    Cool, eu também estive dentro de uma com o R. . Uma aflição, pois é mesmo. Mas a pessoa habitua-se a tudo (vê-las a passar ao lado) e já nem liga, o que é muito mau.

    Mermaid, eu entendo. Mas a indiferença, na rotina, acaba por distrair (ou então somos nós que desligamos para não querer pensar)

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