100nada

ok, chamem-me histérica a ver se me ralo muito

Fiquei caladinha até agora. Ia ouvindo e lendo, cada vez mais farta de sins, farta de nãos, farta de ouvir coisas estúpidas dos dois lados. Depois, chegou o dia, fui calmamente votar. Ouvi as sondagens calmamente. Os resultados prováveis. O sim. Eu, nas minhas emoções, sou uma rapariga mais dada a exteriorizar fúrias e irritações e outras manifestações de mau feitio que propriamente histerismos de gaja. Esses guardo-os para dentro. Mas não quer dizer que não os tenha.

E foi assim que, um grande bocado depois, ali na marginal, mais precisamente a ouvir a TSF, rebentei em lágrimas. Caiu-me o sim por mim abaixo. Caiu por mim abaixo e estoirou com os anos todos que se passaram desde que tinha eu 14 anos e a minha melhor amiga que também tinha essa idade, teve que ir a um quase vão de escada. Chorei por todas as minhas amigas, por todas as raparigas novinhas que passaram por isso. Por todas nós, por uma geração sem acesso a grande informação, sem grande acesso a contracepção, sem grandes orçamentos, sem grandes apoios. Só com medo e vergonha. E silêncio.

Oh, eu sei que os preconceitos sociais não mudam com referendos ou com leis. Mas sempre ajuda. Hoje foi um daqueles dias que contam. Por todas elas, por todas nós.

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