Marcas climatéricas, tractores e roupa no estendal
É engraçado que anos e anos que passamos em alguns sítios nos deixam na mesma, enquanto que períodos muito mais curtos de tempo, comparativamente, que passamos noutros sítios, nos deixam marcas para sempre. Não me refiro a marcas de pessoas ou locais ou coisas ou frases, essas marcam ou não marcam, seja onde for e podem ter durado eternidades ou segundos. Nada disso, não esperem coisada poética daqui que se me esgotou essa há muito tempo e good riddance. Refiro-me a coisa mais prosaica, a marcas climatéricas. Pois, exacto, leram bem, climatéricas. Marcas que certos climas nos causam e ficam para sempre: bastaram-me meia dúzia de anos em África, para transformar o Atlântico que está na costa já ali (que até lhe vejo a ponta daqui) num mar onde nem o dedo do pé consigo enfiar sem gritos de tá gelada esta porcaria! E, no entanto, antes disso, não me lembro que esse mesmo mar fosse frio. Mas ficou e nunca mais, para mim, mudou.
Isto tudo para dizer que mais uma meia dezena de anos em local (momento tenho de ir ao google…ah! e querem ver que ainda me vou enganar? bem adiante…se sair bujarda, azareco) de latitude mais (ai a porra! não volto lá outra vez! mais acima de onde estamos agora, não sei se é mais alta se mais baixa) mais qualquer coisa, isso, onde era frio mais cedo, inverno mais cedo e noite mais cedo, deixaram-me com falta de outonos e primaveras; e, por mais que os tente repor, como fazem falta em cada ano, o balanço continua negativo. Ainda hoje e já passaram uma data de anos, qualquer dia de bónus é isso mesmo, um enorme bónus, um euromilhões climatérico, um dia daqueles que ficam na memória, principalmente se a gente escrever sobre eles (porque se não escrever, ficam na memória mas é na parte RAM da coisa e o resto é conversa).
Já vai longo este iadaiadaiada mas chega enfim o dia. O de hoje, o de ontem, estas noites extraordinárias, quentes, de verão, no meio do outono, quase inverno. Ali no gizmo do tempo que se chama estação meteoqualquer coisa (a minha é só metade, que a outra parte que se deixa lá fora nunca funcionou) vejo (a hora errada, que não sei mudar aquilo, perdi as instruções) 24 graus. VINTE E QUATRO GRAUS. Inacreditável e lá fora, quase juraria, está ainda mais quente. 24 graus dia 29 de Outubro de 2006. Que aqui fique registada a data e a temperatura, esta maravilhosa, amena, doce, temperatura, uma temperatura de promessas de verão, para que fiquem essas melhor guardadas durante esse que aí vem, longo, muito longo, inverno. Um tempo oferecido assim, sem se esperar, um presente bestial.
E que fique também aqui registado que, nesse tal fim de semana de tempo de bónus, que em certo sítio do mapa teve direito a cortar erva com um tractor acabadinho de chegar, eu, aqui a estúpida azarada, em vez de ter passado o tal tempo de bónus em cima do dito tractor, esteve fechada em casa a tomar antibióticos e mais umas quantas merdas e a pensar, olha que bom, assim a roupa seca mais depressa…
- Ah é verdade
- Sem ofensa, já bos fudestezes
pois. eu também lá estive e tomo banho no (mesmo) atlântico… agora a outra latitude tal e coisa, não é que continuo a nunca ter roupa de meia-estação?!
(ena, o tractor, o tractor!, não sabia!)
(esquece esta janela? Não? Bom, então tá bem…)
Pois viste? As marcas climatéricas não marcam de forma igual. Até porque eu tenho imensa roupa de meia estação (tá bem que trabalho na meia estação o ano inteiro…)
(não sabias do tractor??? Ó filha, não sabes de nada! É o sucesso total! Tázaber a pessoa mais improvável em cima do tractor, toda contente, a cortar erva? Poizé…até vai haver bicha para usar a coisa, é a conclusão! :DDD)