No semáforo vermelho
está parado um autocarro de dois andares. O de cima é sem tecto e, nesse andar, uma série de cabeças todas brancas; reformados turistas, vindos de países onde já é inverno, muito brancos, quase da côr dos cabelos, à procura do sol. Encontram-no ali, a cair-lhes em cima à hora de almoço. Preocupo-me em encontrar chapéus, mas apenas consigo ver uma cabeça coberta com um boné e, claro, o homem vai sentado num dos únicos lugares à sombra, mesmo à frente: a prudência do boné e a sombra; penso, nada daquilo é por acaso. Imagino-o o chato da excursão, a dizer à mulher que vai apanhar um escaldão e ela, debruçada para trás a conversar com as amigas que são, naquele momento, tão chegadas e que depois, talvez, talvez, ainda se resumam a um cartão de boas festas este ano. Mas isso já imagino, que o semáforo abre e a voz da guia dirá entretanto, if you look to your left, you will see a portuguese typical market.
Praça de Espanha, 12.30 pm
- Corymbia maculata
- No semáforo vermelho
Eu já por diversas vezes me senti tentada a comprar um ticket para um desses autocarros e ter a outra visão, a turística, da Lisboa cidade. Um destes dias, na hora de almoço, olhas para cima e vês umas ganforinas morenas a destacar a paisagem translúcida