De mão estendida, essa puta de vida
Cada vez que vou de carro e páro e olho para as pessoas ao lado, mesmo ali ao lado, à espera para atravessarem (ou qualquer coisa, não atravessarem, por exemplo) penso sempre, gosto de ver pessoas. Quando me cruzo com elas na rua, não posso gostar tanto de olhar para pessoas, porque vou a andar e porque fica um bocado estúpido parar só para ver pessoas a passarem por mim. Está a olhar para onde, arriscar-me-ia, se parasse para olhar…embora pare, sim, paro de repente, às vezes tem de ser mesmo. Não sou basbaque de desgraças mas sou muito curiosa (voyeur?) de ver a vida a passar por mim, distraída com ela mesma, a pensar para dentro, a olhar para o relógio, a marcar números em telemóveis, a olhar para as montras: sou vidrada em gente que passa.
Dentro de um carro parado num semáforo é a melhor forma de ver a vida a passar. Ninguém estranha que se olhe para fora naquele momento entre um vermelho e um verde. E a vida passa, encasacada, de sacos na mão, sozinha ou a conversar para o lado, apressada e elegante, pobre e miserável, lenta e velha, de todas as maneiras, de todas as cores, com todas as caras. Às vezes, a vida bate na janela do carro com uma criança ao colo. Ou entrega uns papéis que recolhe antes do semáforo cair para verde, com a mão estendida. A vida a estender-nos a mão enquanto a outra ampara o filho (?) e a gente a abanar a cabeça, a dizer que não, a pensar na cadeira de bebé do banco de trás e a continuar a acenar que não, que não, que há gente como tu, vida, que se faz a ela (vida), em vez de estender a mão e ficar à espera. Ou então os papéis não são de recolher e anunciam mais um condominio por construir que vai ter jardins e árvores e que bom que será para as crianças (mas quais, quais?) e, nesses casos, abrimos a janela à vida (só uma nesga que está frio) e recebemos o panfleto que vai para o chão do carro e depois para o lixo mas pensamos: coitada da rapariga, do rapaz, quanto mais cedo despachar esses panfletos mais cedo vai para casa contar o ordenado que ganhou na distribuição e estamos a ajudar quando estendemos a mão para receber a publicidade, não é?
- Qual dia mais triste!
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