100nada

Coisas que me interessam a mim e pouco mais

Na verdade, a minha maior preocupação hoje eram três:

Se o peixe estava a boiar de barriga para cima (não estava, está bom e recomenda-se. E nem lhe mudei a água. Fiquei elucidada sobre o tratamento a dar à coisa – tá bem tá, água do Luso pró menino, não queria mais nada…- e resolvi seguir a teoria do Darwin: ou se aguenta assim ou não merece viver.)

Se os óculos novos me ficavam bem.

E mais um detalhe ou dois, impeditivos da verborreia habitual e afins, que consistem (pra que conste e assim enfiado no meio do post, ninguém dá por nada) na certeza absolutamente irracional mas não menos absoluta que daqui por uma semana já estou a servir de comida a minhocas – prontes, pá, um gajo pifa, acontece. Nada de grave.

Ou seja, importante, importante, eram mesmo os óculos.

Lá os fui buscar, ansiosa pela estreia. Abra-se aqui um parenteses para mais um pequeno capítulo da história da minha vida: eu não vejo um chavelho. E uso lentes de contacto. Mas, de vez em quando, um gajo precisa de óculos. E não pode continuar o resto da vida com uma haste e duas lentes, completamente fora de prazo, a equilibrá-los para não cairem e a entortá-los para conseguir ver. E depois, convenhamos: há alturas na vida em que um gajo precisa de óculos. Ou porque vai a meio da noite beber um copo de água ou comer uma maçã ou fumar um cigarrinho ou porque quer tomar um pequeno almoço sem se preocupar com as lentes, ou isso. E, por vezes, pode dar-se o caso de ter algumas preocupações de ordem estética nessas circunstâncias. Para além de, por assim dizer, conseguir ver o que está a comer.
Portanto, os óculos eram uma prioridade adiada, coisa que faço sempre a todas as prioridades, conseguindo despriorizá-las recorrendo a imensos afazeres completamente inúteis. Creio até que, as alturas em que ando mais activa (em afazeres inúteis), coincidem sempre com uma enorme lista de prioridades adiadas.

Não é que precise de óculos ou de qualquer outra coisa muito mais tempo; mas no caso muito improvável de sobreviver a uma laparoscopia, são capazes de fazer falta, de forma que resolvi experimentá-los quanto antes.

São extraordinários os meus óculos novos. Os antigos tinham arrancado a frase materna ‘pareces mesmo o John Lennon’ quando os coloquei pela primeira vez (isto ali nos anos oitenta, talvez…); estes novos a frase filial, pareces uma professora. Tendo em conta que a única professora de óculos conhecida do meu filho é a personagem principal de uma série muito estúpida do Canal Panda, não sei se fiquei a ganhar…mas em qualidade da visão, lá isso, cinco estrelas (os anteriores corresponderiam a uma pensão com uma casa de banho ao fundo do corredor para cada andar, movimento muito grande à hora de almoço e ao fim da tarde e um nome como ‘Pensão Familiar Leonardina, aguas correntes’).

Entretanto aconteceram uma data de coisas à margem de todas estas minhas preocupações e eu instalei-me a ver televisão, net, jornais, blogs, o diabo, porque gosto sempre de participar na vida activa do país (quando somos putos, chama-se a isso, ir lá dar umas biqueiradas no meio da confusão).

Pois os óculos são bestiais. São tão bestiais que vejo tão lindamente bem que pouco passa da meia noite e tenho os olhos para obras. Naturalmente já não estavam habituados a tanta dioptria corrigida.

Amanhã vou-me queixar de vista cansada. A idade não perdoa.

0 thoughts on “Coisas que me interessam a mim e pouco mais

  1. monalisa

    Querida Catarina, eu sei que há uma data de tempo que não passo por aqui (minha culpa..minha culpa..mas as coisas cá para estes lados não andam muito bem)mas eu percebi mal ou vais faZer uma laparoscopia..o que é que se passa, estás doente??? e claro que se sobrevive..é só um exame..tems medo da anestesia é??? dos resultados??
    Beijinhos.

  2. monalisa

    Agora reparo que posso estar a ser intrometida..desculpa…podes muito bem não me responder…ignora o comentário e manda-me dar uma curva.

  3. duende

    Adiar proridades é um grande lema. Podemos sempre dizer que temos assuntos urgentes a tratar, sem mentir. 😉

  4. catarina

    Querida monalisa, não é nada de grave. Vou só tirar umas coisas que já não estão lá a fazer nada. Preocupo-me realmente com os buracos da memória que a anestesia pode causar. O resto são macaquinhos no sotão, motivados em parte por uma propensão genética para doenças menos simpáticas. :) Beijinhos.