100nada

Alicendo

Alice sendo, apenas pouco original na escolha da imagem, mas não encontrando outra que o (não) diga de forma que lhe sirva (só a ela). Alice sendo, aprendiz de feiticeiro do lado de lá do espelho (monstro mascarado de Alice) admirando-se, revendo-se, aprendendo, Alice (ainda) sendo.

Alice (sendo deveras muito Alice) mergulhando, afundando, nadando (para trás do espelho. Por engano?) retira a máscara: é agora Alicendo.


Desculpa mas esse corpo é meu

O corpo é meu e ponto final. Não interessa a quem foi antes dado ou se foi roubado. É minha propriedade, está na minha posse, guardado, é meu e não é para ser partilhado. Não porque me importasse, nada mesmo, corpos é o que mais há e nem quero este por aí além, nem o quero muito, só de vez em quando, quando me apetece este e até me pode apetecer outro e isso é comigo e mais ninguém. O corpo é meu e ponto final. A quem pertence deixou de pertencer, não tem dono porque é meu. Não me interessa que ande ou fale ou se mexa ou durma ou acorde, fará o que tiver que fazer, que respire, que coma, que se canse, que corra ou se ria ou chore, tudo isso são actos mas o corpo, em si, é meu. É meu tudo o que ali está, desde a pele até aos ossos, todos os sinais, os espirros, as unhas dos pés. Não é perfeito, mas é meu e eu quero-o para mim.
E, se decidir partilhá-lo, seja com quem for, seja como for, sou eu quem decide, não és tu. Desculpa, mas esse corpo é meu.
Não mo devias ter dado, agora aguenta-te à bronca e rola no chão que quero ver.




Há uma tontura (repost)

Há uma tontura. Não é bem uma tontura nem é grave. Não tira o sono (não?) nem se pensa muito nela, mal se sente. Não é bem uma tontura, é uma curva. Não, também não é bem uma curva, é um cruzamento à beira do sentido do pensamento. É curva na medida em que se pode virar de repente e enveredar por esse atalho e é tontura por causar um certo desfasamento da realidade.
Falo da estrada que tem por placa de entrada a palavra Se. É o caminho para Se embora o caminho seja já Se, como se Se começasse logo ali, umas casas ainda antes de chegar a completamente Se, uns bairros-satélite, uns prédios no alto de um monte, um muro meio a cair de uma quinta, tudo prenhe de Se mas ainda sem se ter lá chegado.
Imagino a placa, de madeira pregada num pau, enter Se at your own risk, como nos filmes, quem sabe uma caveira se for série B, ou um abutre desenhado por Morris, gosto mais desse, e uns bocados de alcatrão e penas; Se, beware of the alcatrão e penas (tar and penas? adiante, inglesismos é o que dá, depois saem todos mal), mas o aviso, seja ele qual for, é sempre um aviso visível. A Terra de Se é um local perigoso para qualquer um, mesmo avisado. E claro, com avisos assim, poucos resistem. Não me faz mal a mim, todo esse Se, estou bem agarrado ao chão, exclama o incauto com bravata, a pior forma de entrar em Se; Se não gosta de falta de respeito, Se é sítio que morde a coragem, que rói todos os ossos dos que pensam que não são afectados por Se.
Se entra-se pé ante pé, pois resistir é quase impossível, mas melhor seria. Pezinhos de lã e bico calado, um pouco fora da estrada, atrás das árvores, à espreita, discreta e silenciosamente. E talvez Se não dê por nada e talvez não atire
uma hipótese qualquer das que, de repente, parecem tão plausíveis
um Se dos mesmo grandes
um daqueles que transformam a tontura numa amona que arrasta para dentro de mais completamente Se
talvez assim (mas só assim) Se não nos afogue.

posted by luisa c. (aka eu) 25.10.05 na Soca





Stop the press! O João Pedro da Costa regressou às Ruínas

Não exagero em considerar esta como a melhor notícia bloguística do dia, do mês e mesmo do ano, apesar de estarmos ainda no início de Fevereiro. O As Ruínas Circulares é o meu blog de culto e o João Pedro da Costa um dos melhores bloggers que alguma vez apareceu na história da blogsfera. De vez em quando lá regressa, a última vez para o AspirinaB, mas tenho a sensação que o João bloga melhor sozinho sem ninguém a chatear.

Estou, pois, contentíssima e nem de propósito, que não foi mesmo, hoje nos confins dos backups de um disco antigo, encontrei o desenho dos Coelhinhos Suicidas dedicado aqui ao 100nada. Vou já metê-lo aqui antes que se volte a perder e entretanto, boas (re)vindas às Ruínas e espero que desta vez, não te ponhas ao fresco ao fim de meia dúzia de posts e fiques por lá durante um tempo minimamente aceitável (o resto da vida ou assim).