100nada

Farta deste país de merda

E eu gosto dele, deste país de merda. Gosto. As pessoas são feiosas, muitas delas são umas verdadeiras bestas, brutas, selvagens, mal educadas e nem se pode dizer que não tenham culpa e que a culpa é do país, porque ao lado de gente assim está gente cinco estrelas, pessoas maravilhosamente humanas, pessoas boas e tudo isto é transversal à sociedade. Mas estou farta deste país de merda e, embora diga parecido muitas vezes e que me queixe de montes de merdas do país, não me costumam ouvir dizer que é um país de merda. Não devia ser, devia ser só um país normal com montes de merdas como os outros, não temos que ser uma merda total. Não temos e temos capacidade para não ser. Mas somos. Somos uma merda. E é bom chamar os bois pelos nomes e começar a olhar mesmo de frente para a merda de país que somos, a ver se deixamos de ser.

Estou farta. Farta da areia nos olhos, da merda do casamento entre homossexuais, do carnaval de Torres Vedras, dos casos manhosos isto e aquilo, estou farta que toda a gente gaste tinta e tempo a discutir tricas e coisas que não adiantam nada, estou farta de levar com areia nos olhos e ver pessoas que os deveriam ter bem abertos, caírem nessas esparrelas, produzirem ruído até à exaustão sobre assuntos que não interessam, não contam e não adiantam. Quase oiço daqui as gargalhadas de quem vai manobrando a sociedade desta forma tão hábil, a desviar o trânsito para as cenas que interessam ao povo seguidor de novelas e neste momento, começo a temer outra maioria absoluta.

Vai acontecer. Continuem a berrar sobre a areia que vai sendo atirada aos baldes e vai acontecer. Estamos em Fevereiro e o ruído é já ensurdecedor. Daqui a nada não se vai ouvir coisa nenhuma e, nessa altura, saem os coelhos do chapéu da campanha eleitoral. E depois, como é?



Poeira

Toda eu sou poeira e isto não é imagem não sei o quê, de estado de alma, não, é mesmo poeira. Poeira, cheiro a cola de madeira e silicone e mais poeira de muda daqui para ali e rios de livros em sacos e um armário novo e outro para amanhã. Casa de pantanas uma vez mais e a sensação que, quanto mais armários temos, menos sítio há para arrumar coisas, mas deve ser da puta da cola, que devo ter respirado a mais. Tenho o som adiado/adiantado do berbequim ainda a furar-me os neurónios e é melhor ir dormir antes que se organizem em prateleiras e depois é que nunca mais me entendo com o meu cérebro.

[tá-se mesmo a ver que se vão passar meses e eu sempre a dar cacetadas nos armários a ver se consigo passar nos sítios onde não estavam antes]



New Order, Your Silent Face (2)

Mesmo assim, prefiro a versão original, coisa de hábito, talvez.

aqui no blip

em repeat mode, ainda numa cassete, há duzentos mil anos, entregue à porta? pelo correio? não, à porta, entregue a correr, às escondidas, isto é para si (querida) [ah os homens crescidos que tratavam as meninas novinhas por “a menina”, “a menina não percebe nada de música, mas isto é bom e tenho a certeza que vai gostar”]

Sempre tive queda para ser pigmaliada. Sina minha [desculpa para não confessar que (não gosto nada) se calhar gostava.]


New Order, Your Silent Face

“Your Silent Face”, New Order

A thought that never changes
Remains a stupid lie
It’s never been quite the same
No hearing or breathing
No movement, no colors
Just silence

Rise and fall of shame
A search that shall remain
We asked you what you’d seen
You said you didn’t care

Sound formed in a vacuum
May seem a waste of time
It’s always been just the same
No hearing or breathing
No movement no lyrics
Just nothing

The sign that leads the way
The path we can not take
You’ve caught me at a bad time
So why don’t you piss off


escrita-brita

road 66
(pic daqui)

Tal como há alturas em que estamos (alguns, enfim, eu nem por isso) com os pés um tudo nada levantados no chão e a cabeça a bater contra meteoritos e satélites já fora de uso, noutras alturas estamos enterrados em asfalto quente de realidade

ah pés quentes no asfalto e pedaços de

memórias

de alcatrão colado aos pés (onde?)

colados ao alcatrão, alturas em que estamos colados ao alcatrão. E não é mau. Não tem que ser mau. O alcatrão é uma coisa assim meio nojenta mas necessária, como a política, a economia e as batatas fritas já moles dentro do molho de bitoques. Temas alcatroados, com o rolo a passar por cima e depois gastos de passagem e uso.

E é assim que, quando estamos alcatroados quase, não sobra tempo para bater em satélites até porque não serve de muito, o lixo espacial não vem para baixo só com umas pancadas.



Estragando um post por completo (não resisto)

Aquele “Alicendo” (o nome em si) saiu-me mesmo bem, caneco!
[sou muita boa! foda-se!]

– …dizes tu…
– ahn?
– presunção e água benta…
– diz?!
– já disse, ouviste muito bem!
– não ouvi, li, sua estúpida!
– sim sim, chama nomes…
– eras capaz de fazer igual, não?
– era capaz de fazer melhor!
– ai é? então faz, anda, quero ver, faz faz!
– n’mapetece
– aaaah tá bem!
– mas se quisesse…
– sim, sim, tá bem, tá bem
– vou dormir, só vim aqui picar-te o balão do ego, tavas a precisar
– picaste o caralho!
– já estás irritada, vês? piquei mesmo! olarilas!
– não picaste coisa nenhuma!
– piquei! piquei! piquei!
– cratina…
– já me fui embora!
– anda cá já! Vais corrida à biqueirada!
– …
– alter ega de merda.