100nada

São Cristóvão me valha, perdi algures o gene da engenharia mecânica!

Lá vou eu, toda contente (dentro do contentamento que é uma fila de trânsito da A5, a horas que as pessoas normais acham normais e eu um atentado ao direito humano de dormir até ao meio dia) pela estrada fora, dou uma aceleradela mais puxada e a luz verde daquela mudança muda de fixa para a piscar. Passado um bocado dou conta e faço aquele número ó que porra e agora? ai que a luz está a piscar e o que será isto e digo para o lado, vê aí no livro das instruções, não tenho nada calma, vê aí no livro de instruções, não! Não é nada normal, vê aí no livro de instruções, senão pagas tu o arranjo se esta merda se fanar toda e encosto, não encosto, encosto, não encosto, encosto, não encosto. O livro de instruções informa: se a luz estiver a piscar contactar a oficina. Se a luz estiver a piscar e estiver aceso o aviso de avaria, contactar a oficina. Não acelere com força e etc e tal.

Lá vou eu para Lisboa muito devagarinho, achas que se desligue o carro? e depois fica aqui parado? se calhar é melhor não, não desligo nada agora vamos assim, que porra esta, prá semana tem a revisão marcada e logo havia de me acontecer isto quase em vésperas de fim de semana grande e refilo sempre até parar num semáforo e desatar a berrar: foda-se! desligaste-me o carro? eu não disse que não desligava e agora se não volta a arrancar? ah…ok…ligou outra vez…ah…a luz deixou de piscar.
E agora, falo para a oficina? Não sei, sim já sei como sou, não vou falar porque ficou bom, mas se é alguma coisa, oh que se lixe não há-de ser nada

e passo o dia e não telefono para a oficina.

Mas quando volto ao carro vou já naquela, esta merda na volta está mesmo avariada.

Ligo o motor e acendem-se logo duas luzes vermelhas, uma da mudança e outra ao lado.
Pânico.
AFINAL ESTA MERDA TÁ MESMO TODA FODIDA!

E saio logo do carro e telefono para a assistência e explico o que se passa e, do lado de lá, dizem-me, isso de luzes vermelhas aconselhamos logo a não mexer mais no carro.
Chamo o reboque. Lá vai o meu rico carrinho e mais o meu rico fim de semana comprido no reboque e eu a vê-los, já lá no fim da rua, ali parada aos palavrões interiores (e até alguns mais alto).

Hoje telefono para a oficina e explico o que se passa, suspeito de problema na transmissão (armada em boa). Vão ver, depois dirão alguma coisa. Durante a tarde, sms, o seu carro já está pronto, pode vir buscar até às tais horas e o preço do arranjo é x.

E aí vou eu para os confins do raio que o parta, buscar a porra do carro.
Lá chegada, o segurança dá-me a factura, pago e não percebo nada do que lá vem escrito, de chapeiro e material. Chapeiro?!

Entro no carro, ligo o cabrão e acendem-se carradas de luzes, como sempre, INCLUINDO AS DA AVARIA. Essas luzes vermelhas da avaria acendem-se todos os dias há cinco anos, todos os dias há cinco anos, repito, e uma é a da mudança que, como é P acende vermelha e a outra é a do travão de mão…

…demoro uns segundos a tentar enfiar o meu ego intelectual dentro de um cérebro que afinal é muito mais pequeno do que eu pensava.
E depois vou a rir até casa.

(mas sempre convencida que ainda bem que mandei arranjar o carro, de qualquer forma tinha uma avaria e, não fosse o pânico, nem ligava mais e depois ficava agarrada em estrada)

até googlar o material.

Mudando a mudança deste texto para R, estais lembrados que a revisão está marcada para a semana que vem? Na revisão a fazer, está uma recomendação para se ver o que se passa com os vidros da frente que encravam a subir.

O material eram as calhas dos vidros.

[devem ter-se rido tanto, os gajos…]


Os turbanões das finanças

Como toda a gente sabe (aqui toda sendo toda a gente, os meus caríssimos e fiéis leitores), os turbanões são os anões que vivem dentro dos buracos das paredes onde passam os cabos eléctricos e que atacam quando estamos a olhar para o lado.

Os turbanões não vivem só em nossa casa. Também vivem dentro das paredes dos edifícios públicos e alteram as coisas quando toda a gente está distraída, o que quase nunca acontece, mas vá, chega e sobra. Entram dentro das contas e dos pareceres. E dos contratos. E dos pontos de situação. E dos cenários. E das análises. E disparam umas munições que têm dentro das armas laser, mas são umas munições especiais, que têm um ingrediente secreto, inventado por uma sociedade – também secreta – que domina os mercados mundiais quase todos. Estes turnanões são os GOI especiais do labirinto (também mundial) dos buracos e calhas das paredes internacionais: os “Finançoturbanadators”, com missões especiais de bancarrotar alguns países escolhidos para que outros possam enriquecer à conta deles.

São eles os verdadeiros culpados e não há spray que os arranque da parte de trás das paredes do mundo. Não há ninguém que resista a um ataque de finançoturbanadators. Não há saída. Não há entrada: só há furos nas paredes da realidade.

Eles andem aí. Fica o aviso. Olhai para as fichas e tomadas, frinchas das paredes, coisas minúsculas e secretas. O resto são apenas explicações (pouco) lógicas para os fenómenos que desconhecemos.




Bola PEC4

– Tenho uma bola nova e não te mostro!
– Dá cá a bola!
– Não dou!
– Dá cááá!
– Não! É minha!
– Dá-me!
– Então toma!
– Agora já não quero.
– Estúpido!
– Parvalhão!
– Levas uma chapada!
– E tu um pontapé!

– ah…desculpem! Mas não reparei que aqueles dois meninos estavam a estrafogar-se…foi tudo rápido demais…

dedicado ao @pfigas e inspirado neste tweet dele:

“A ironia deste PEC IV é que vai ficar provado que o PSD só o chumbou por puro amuo pelo Governo não ter negociado antes”


IVA 0% (post explicativinho da silva)

Porque há montanhas de coisas com IVA (ainda) a zero por cento e porque, nos dias que se avizinham, cada vez mais, iremos necessitar não só de coisas com IVA a sabe-se lá quanto, que sejam menos caras do que coisas similares com esse mesmo IVA mas, acima de tudo, de coisas boas de IVA a zero por cento. Coisas que animem o dia, que alegrem o cinzento, coisas que passam por nós ou que nos batem em cheio nas trombas e, muitas vezes, nem damos por elas, tão preocupados que estamos a pensar no IVA e merdas afins. Porque é preciso desligar da existência material e não é ir para a espiritual de cima, nem para o caminho das pedras da sabedoria nem da alma não sei que mais e o caneco: é mesmo só olhar para uma coisa pequena qualquer e sorrir. Ou fazer / dizer / ouvir /pensar um disparate qualquer e desatar a rir. Qualquer coisa serve, qualquer camião coberto de carros coloridos que parecem de brincar é suficiente para nos dispor melhor. Mas é preciso olhar, saber ver e, na prioridade das nossas listas, ter uns segundos para desligar do resto e angariar aquela imagem, aquele som, aquela gargalhada. E guardar. Vamos precisar de todas as coisas boas e serão sempre estas as que nos iluminarão (eu sei, é um verbo difícil, mas quero mesmo usar este) nos dias mais escuros que estão a chegar.


IVA zero por cento

[série nova]

Hoje de manhã, na faixa de lá da autoestrada, passou uma caravana de camiões com os carros do rally em cima. Montes e montes de camiões daqueles abertos de dois andares, cheios de carros pintados às cores, com autocolantes, ainda a brilhar, com a chapa muito limpinha e direita. No meio dos carros escuros metalizados e claros metalizados, sob um céu meio branco, foi uma mancha de cor matinal brutal.
Isto é uma #coisaboa de#iva0%.


O tempo que antecede uma coisa boa

É este, em que estou a escrever este post, com um olho no FB e outro no Twitter, enquanto ali em cima da mesa me espera o “A Maldição dos Trinta Denários – volume 2“. Por baixo desse, para reler antes, o primeiro volume. Deixo-os sossegados, de vez em quando olho e sorrio. É o tempo que antecede uma coisa boa e ler mais um Blake & Mortimer, mesmo que não da autoria do grande mestre Edgar P. Jacobs, é uma coisa mais que boa. E até se têm saído bem, estes novos volumes, embora não me consiga habituar à presença de mulheres.

(continuo a achar que é a melhor série de BD de todos os tempos e universos, incluindo os paralelos)


Também por aqui: Já Basta!

Assim que o Movimento Já Basta (Movimento de Blogues contra o actual (des)Governo) apareceu no Facebook e nos blogs, claro que apareceu logo o “contraditório”: ah já basta (seus palermas)? e então soluções, ideias, não há? ah poizé, são do contra mas não sabem o que propor em alternativa! Coisa que me enervou logo imenso. Porque por cá, se não se se faz nada, é porque se é um manso dentro do sistema e se quer facturar alguma coisa com isso e se se faz alguma coisa, é para angariar assistência e porque se quer facturar alguma coisa com isso. Porque há três espécies de portugueses: a que não faz um cu, a que tenta fazer qualquer coisa e a que diz mal. Esta última, claro, é transversal às outras e eu consigo dizer mal de todas num só post, como se nota.

Prosseguindo: portanto os blogs não se podem juntar num objectivo comum, que é basicamente dizer que chega desta porra, siga e venha outro, que estamos fartos deste desgoverno galopante, porque não apresentam alternativas nem soluções. Mas era só o que faltava agora, hein? Quer dizer, ninguém se podia manifestar contra nada sem apresentar soluções, por essa ordem de ideias. Um gajo chateava-se com o atraso do autocarro, mas não se podia manifestar contra sem apresentar um pacote de medidas para reorganizar o sector. Assistia a um assalto mas não podia berrar “cabrão do ladrão, estou farto desta corja nesta rua” sem ter uma solução para o crime organizado na área. Ora porra. Uma pessoa tem todo o direito e é mais do que legítimo dizer, alto e bom som, Já Basta! e não tem qualquer obrigação de apresentar um programa alternativo de governo para manifestar o seu desagrado (o eufemismo do ano deste blog) sobre o governo vigente. E qualquer pessoa que saiba ler, vá lá, minimamente, verá que, na grande maioria dos posts sob a chancela do Já Basta, alguma coisa que está mal e se quer mudada está ali sublinhada, desde o o IVA do golf, até à forma como se gastam os dinheiros públicos. É, aliás, todo um programa. Basta saber ler. Coisa que, para muita gente analfabeta é muito complicado, já estamos fartos de perceber.

No entanto, posso aqui fazer uma listinha das minhas soluções assim mais gerais. Por exemplo honestidade, seriedade, sobriedade na governação. Para começo. Depois um abanão na justiça, para que ela funcionasse realmente, resolvia logo metade dos problemas do país. Acabar com uma boa parte dos institutos que não servem para nada e por aquela gente toda a apanhar cocós de cão na rua, resolvia dois problemas de uma só vez: reduzia a despesa e melhorava a saúde pública. Excedentários do funcionalismo público, tudo a limpar florestas e matas, só faz é bem levantar o cu da cadeira e respirar ar puro, enquanto se exerce uma actividade física: era num instantinho enquanto a saúde fazia logo poupanças nas consultas de obesidade e coronárias. Querem mais coisas? Podia ficar aqui a noite toda. E o mais giro era que afinal toda a gente já tinha ouvido falar nessas soluções. Nestas e nas outras mais a sério. Então afinal alguém já as tinha referido antes. Pois, lá está.

Fiquemos por aqui e de preferência a meio caminho entre Portugal e a República das Bananas em que isto se está, sem qualquer vergonha na cara, a transformar.

Por aqui, também se diz


O nosso planeta e o nosso universo

Há uns tempos recebi um .ppt engraçado, que guardei para ver com o meu filho. Era a história do planeta em 24 horas, desde a bola de fogo e os rios de lava até aos dias de hoje. Tinha micro-organismos e dinossauros e coisas giras. E tudo aquilo era às x horas. Ao meio dia (não sei se seria, creio que seriam já seis da tarde ou mesmo dez da noite), apareciam os dinossauros e o homem, aquele ainda vestido de peles que vivia nas cavernas, o tal pré-histórico, aparecia já no último segundo. 24 horas de planeta e nós – a humanidade – nem um segundo ocupava. Convenhamos que dá um bocadinho que pensar, quando a história de um planeta nos remete para o nosso humilde lugarzinho. Nem um segundo inteiro, nesse dia-vida de um planeta.

Não sei se por isso ou por outra razão qualquer, tive uma conversa com uma amiga que vê as coisas (a vida e o mundo) de uma forma que, para mim, me deixa sempre a reflectir. Estávamos a conversar sobre “salvar o planeta” e ela disse-me qualquer coisa como “atenção: quando falamos em salvar o planeta, estamos de facto a falar sobre salvar o planeta para nós. Salvar a sobrevivência da raça humana no planeta, porque o planeta está-se bem nas tintas e organiza-se com ou sem nós. Temos esta mania que a vida somos nós e mais uns bichos e umas árvores, mas a vida é muito mais que isso, ou muito menos: pensa que há outras formas de vida e que, se calhar, sobrevivem depois de deixarmos de cá estar, como por exemplo os vírus.”

E eu a matutar naquilo. Fiquei mesmo a remoer os vírus, confesso. Um gajo ser assim substituído por um cabrão de um HIV ou Ébola e o planeta cagando e andando; e a gente ter ocupado o nosso micronésimo de segundo e depois outra coisa qualquer nas seguintes 24 horas feitas de biliões de anos. Outro tipo de vida qualquer. E o planeta, se calhar, até mais contente, aos menos estes vírus não me andam a picaretar a superfície dia e noite. Em suma, não me conformo com os vírus, mas remeti-me ao meu grão de areia de segundo de reflexão.

Não vou dizer em grande detalhe (até estava a pensar que sim, mas passo rapidamente sobre esse assunto) que tratemos bem nosso planeta: não tratamos nada bem, toda a gente sabe e eu lá faço o meu esforço para a pegada não sei quantas, para salvar o planeta para servir mais um bocado de tempo a raça humana. Mas realmente não sei se merece: a raça, não o planeta, esse é indiferente a todo esse esforço, quando precisar de se organizar, logo manda vir uns vulcões e mais uns quantos soluços que arrase tudo. A raça humana, convenhamos, é uma espécie parasita, não serve rigorosamente para nada: não produzimos oxigénio, não polinizamos, nem sequer filtramos água. Animal, vegetal, mineral com utilidade e mais uns bicharocos que picaretamos por aqui e por ali e sujamos tudo. Até as baratas comem merda, nós é mais produzi-la. Claro, temos intelecto e alma, o que nos permite pensar e canalizar os instintos para a matança do resto da raça, o que também é uma coisa simpática. Só porque o bicho tem a pele de outra cor ou se cobre de panos, siga, não serve para o planeta. Para o nosso, que cada vez se torna mais pequenino e acaba, basicamente, ali no fim da rua.

Tudo isto, obviamente, por causa de tremores de terra, maremotos, explosões em centrais nucleares e manifestações da sociedade civil. Tudo no mesmo fim de semana, com escalas tão dispares. No nosso bairro, o nosso universo, vários milhares sairam à rua e disseram, cada um com a sua voz e pelas suas razões, já chega disto, queremos outra coisa. Enquanto do outro lado do mundo, o planeta dava um soluço e causava uma calamidade pavorosa. Há calamidades e calamidades, há essas e há das outras, menos mediáticas, mais selvagens, mais brutais, mais desumanas por serem pela mão de seres humanos. E o nosso planeta, absolutamente nas tintas.

Remeto-me para o meu micronésimo de segundo. Egoísta, talvez, mas é o meu. Horrorizo-me com as calamidades, tenho pesadelos que sejam aqui no meu bairro, na minha rua, na minha casa. Emociono-me com o passeio cívico, penso, ainda há esperança neste bairro, neste país, neste nosso segundo. Só temos este, teremos que ser egoístas até um certo ponto, na medida em que há que vivê-lo enquanto dura. De forma decente, sem qualquer dúvida, pensando no futuro, como é evidente, mas acima de tudo, no presente, no dia que agora ainda temos e que nos pode ser tirado a qualquer momento, numa onda ou numa poeira radioactiva ou na pedrada que voa e não acerta no alvo.

Enquanto o nosso planeta uivava, talvez aos nossos ouvidos um bocado mais alto (noutras alturas não ouvimos ou fazemos de conta) e, no nosso universo as pessoas saíam à rua, no meu universo, dois miúdos, encantados porque iam passar o fim de semana juntos, jogavam à bola. Mais três que por ali andavam de bicicleta, foram também jogar. A mãe de um deles, emocionava-se entre a tristeza e alegria, entre o maremoto e a Avenida da Liberdade, enquanto os vigiava pela janela. Os miúdos jogam à bola e não querem saber do futuro a não ser que traga mais um domingo também com tempo para jogar mais bola. Não se estão nas tintas para o planeta, querem salvá-lo (para a raça humana) e reciclam e preocupam-se. Desde que se jogue à bola, no entretanto.

Não há nenhuma conclusão neste post, nenhuma moral da história. Que seja um segundo longo, é a única coisa que se pode desejar. E, já agora, que se jogue à bola.