100nada


Ah e antes que me esqueça

se acaso estiver aí algum jornalista na plateia, peço o favor de informar os seus colegas do telejornal da SIC que não se diz ‘como agora dissesteS‘ (ainda ouvi mais duas destas declinações de salada de segunda pessoa, mas não me lembro exactamente do que era). Antecipadamente agradecida.

E já agora, se me conseguirem explicar qual é exactamente a diferença entre “uma tourada de touros de morte” e “apenas um touro que é morto no fim de uma tourada”, também agradeço.


(embrutecendo e contente)

Durante as férias cheguei à conclusão que, entre o AXN (que tinha) e o Fox (que não tinha) e mais umas quantas séries em dvd, um gajo podia viver a vida frente à televisão e morrer estúpido. Pensava que era só com novelas…

Papei dois CSI, estive na net enquanto o creme de cogumelos ficava pronto, agora vou passar para a parte dvd embora ainda na dúvida:

ou ?


Eu já nem a aritmética simples

Comprei cigarros depois de jantar. Era capaz de jurar que tinha fumado uma meia dúzia (se tanto), mas espreitei agora para dentro do maço e está lá outra meia dúzia (se tanto). Acho que estamos todos a ser aldrabados, nós os fumadores: pensamos que os maços trazem vinte cigarros, vai-se a ver, é isto! Não há direito!


Ora então

vamos lá a isto de empurrar aquele acesso de vaidade (obrigada!) mais para baixo, para que não fique agora aqui a boiar à tona do tasco mais um dia ou assim. Embora, em boa verdade, não se me ocorra grande coisa. Anda tudo pela hora da desinspiração ou da pouca vontade em escrever aquilo que realmente me apetece (esta frase parece taralhoca mas não é). E depois, os semáforos, uma coisa sem interesse nenhum nos últimos dias. Só gente que atravessa a rua, nada de especial. Ainda pensei em transladar duas velhotas. Estavam a conversar animadamente no meio de um átrio e a minha atenção foi para ali desviada pelo chapadão de cores que as duas traziam, quer nas cabeças, cabelos oxigenados e ripados, quer na roupa: uma de azul turquesa, a outra de verde alface, mas em look total, saias, casacos, sapatas e carteiras. Ao todo não deveriam medir três metros de altura mas em peso, para lá dos cento e sessenta no total. Umas escrivaninhas baixinhas e coloridas, que pensei arrumar ao lado de um semáforo para poder escrever um post. Mas depois, nem cortinas (ramagens verdes, flores azuis) nem sequer um tapetinho, nada? Não podia ser, deixei-as ficar no mesmo sítio, tão entretidas e satisfeitas, tão postas por ordem que estavam. É assim a vida, encontra-se tema e o tema foge-nos, vestido de cor de rebuçados.



No semáforo vermelho

(durante Agosto apenas)

A pedinte do costume, saia até aos pés, trança caída e criança pendurada na mama, desaparece e, durante uns dias, ainda no final de Julho, o lugar – aquele excelente lugar, em cruzamento de avenidas e um bom minuto de tempo entre o vermelho e o verde – fica vago. Nos primeiros dias de Agosto aparece um novo pedinte. Homem quase rapaz, ainda muito novo, de bom aspecto. Não bate nos vidros, não insiste, um pedinte que não incomoda. Traz uma criança pela mão. Essa é a primeira diferença: nunca, mas nunca larga a mão do rapazinho que o acompanha. Leva-o para o meio da fila de carros, mas coloca o corpo de forma a proteger o garoto e nunca larga a mão. A outra diferença é no rapazinho. Tem um boné, veste t-shirts e calções, meias e ténis. E, todos os dias, todos, traz a fralda da t-shirt dentro dos calções. Sempre composto, mais composto que quase todas as crianças que conheço.

E eu convenço-me, quero convencer-me com muita força que está ali um pai com um filho. Faz de conta que a escola fechou em Agosto e o pai é pobre e não tem emprego e não há onde deixar a criança e leva-o com ele. Convenço-me que é um pai preocupado com o facto de o filho estar no meio da rua, por entre os carros. Que é um pai que quer que o filho, ao menos, ao menos, esteja composto e com bom aspecto. Porque – convenço-me eu – não tem outra alternativa senão pedir.

Convenço-me, é certo. Convenço-me e comovo-me. Mas não lhe dou, não dei, naqueles dias todos; nunca dei.