Pode ser sono. Pode, claro, mas não é só sono. É muito ser sono, mas não é só sono. É cabras também, das a sério mesmo, tiram-me o sono. Não, não é comigo, a parte das cabras (antes que os comentos fiquem todos solidários) mas faz mossa, de qualquer forma. Um gajo não poder ir às ventas de uma cabra, pronto, tava resolvido e, de caminho, ainda se enfiavam umas cadeiras por mais uma cabeça ou duas. Acho que é mais isso, vontade de varrer à estalada uma série de pessoas com cornos e barbichas (as cabras têm barbichas, não têm?) ah e com cascos de cabra. Bom, já pintei o retrato, parece-me, só faltou acrescentar cabra sonsa. Nem todas são, mas há as que são.
Agora deixa lá dissecar isto um bocado, abrir a cabra ao meio. Ok, estamos todos de acordo, temos aqui uma cabra a sério das sonsas. E a pessoa que essa cabra é, que tal? É feliz? Hum, temos uma amostragem de um, não serve para generalizar, mas vá, nesta é notório. É uma infeliz. É uma tipa amarga. É uma tipa que nunca na vida discutiria com as amigas, em privado (por exemplo, numa mesa de restaurante cheio) coisas como “ui ui tem sido de tal forma que ando a encher-me de halibut” ou “ai não acredito! Tu gostas que te vão ao cu?!” e o tipo de saltos dos sapatos deste ano e isso. Tá-se mesmo a ver que na vida dela, é criatura para não tirar as meias, fechar sempre a luz e provavelmente ir a correr ao bidé depois. Aliás, não se está a ver, que a luz está apagada, é só aquele fiozinho de luz a sair da porta lá adiante e o chap chap das abluções. Claro que depois se vinga fodendo o juízo aos outros, mas sempre muito lavada e desinfectada.
Esta minha raiva não é quente, dei por isso agora: não estou convictamente a insultar a cabra.
É mesmo a frio. Se fosse comigo, estava a berrar, matem-me essa puta, caralho! Atirava tudo ao ar, mandava tudo à merda aos gritos (dando mais uns tiros nos pés), enfim, fazia um cagaçal desgraçado. Mas não é comigo. E isso é que me custa. Não é comigo e, quando não é connosco e não podemos fazer um cagaçal e conseguimos dizer “não faças um cagaçal” quando o que apetecia era fazer um dos grandes, esta merda rói tudo por dentro.
adenda: não obstante tudo isto, não vale a pena ser-se cabra de volta. Não vale a pena. Não vale a pena. Um gajo tem que saber dizer a si mesmo: eu estou certo aqui. E ficar muito direito a dizer “aqui, nisto, eu é que estou certo”. E, bolas, eu vejo isto, assisto a isto, à coluna muito direita de alguém que diz, muito calmamente, sem cagaçal, mas cheia de espinha dorsal “eu estou certa nisto” e
bom, é só para dizer uma coisa, isto tudo, só uma: sinto um orgulho tremendo em ser tua amiga.