(aqui onde estou agora e assim) e sei bem quais são. Eu não me baralho toda e passo a explicar: passa-se que nos últimos minutos anda aqui a voar uma traça. Entrou atraída pela luz pela porta aberta lá para fora. Andei atrás dela de longe, mas desapareceu dentro do candeeiro e eu agora não quero saber.
Não é uma traça de esquerda. Não é uma traça presidencial. Não é uma traça manifestante ou grevista ou politicamente incorrecta ou cretina ou extremista ou perigosamente subversiva. Não. É uma traça. Tem asas, voa, é escura, tem cara de traça: é traça. Entrou pela porta que estava aberta. Não entrou pelo buraco da fechadura, pelo fio da netcabo, não flutuou através das paredes, não surgiu do ar, não era uma abelha que se transformou em traça. Era uma traça. Era uma porta.
Escondeu-se dentro do candeeiro. Fartou-se de voar contra as paredes e depois meteu-se dentro do candeeiro e eu não olhei mais para lá. Não interessa se o candeeiro é branco, se é quadrado, se é um puzzle de peças que se encaixam umas nas outras (e se desencaixam com muita facilidade pensando melhor nisso), se está a precisar de uma limpeza sem ser só a fazer de conta: o candeeiro é só o sítio onde se escondeu a traça. Poderia ter sido atrás do monitor. Poderia ter sido atrás do cinzeiro. Poderia ter sido em qualquer lado. Não interessa. Foi ali, facto, podia ter sido noutro lado, redundância.
E eu não liguei mais, fiz de conta.
Acho que se passam coisas mas acho também que as coisas que se passam se passam ao lado para uma data de gente.