100nada

Sono

pois é isso…fome, sono…coisas interessantes dessas…mas importantes, lá isso…vou fumar um cigarro e pensar em mais. Talvez cabelos. Ou igrejas, igrejas é giro. Ou morteiros. A estoirarem por cima da A1, já de noite e eu a pensar que era proibido, mas devo estar enganada. Livrei-me dos morteiros das festas, quando o meu mato ficou ainda mais longe dos ruídos da civilização. É um ruído da civilização, um morteiro…os primeiros que ouvi na vida (ou talvez já tivesse ouvido em festas de aldeia) eram dos verdadeiros. Aulas de matemática, morteiros certinhos como um relógio suiço e todas as meninas debaixo das secretárias, as madres a tremerem…umas, outras nem por isso. A de matemática não tremia, a menos que tremesse de fúria por mais uma aula interrompida. Para as meninas era menos uma aula, mas se não abrandasse, era intervalo nos claustros, junto à parede, em vez de ser no jardim. Há vinte e nove anos a guerra chegou à cidade e nunca mais deixou de lá estar. Ainda lá está hoje, em meninos estropiados e dinheiros esbanjados descarados. Não, não é um post de Abril este; era um post de sono, passou a ser um de pesadelo. Voámos para fora do pesadelo, na altura era um sonho de brincadeira, mais uma, vamos brincar às guerras? E eu sou os maus, lanço morteiros por cima de um colégio de meninas, que por acaso fica nas costas de um hotel quartel. Mas ninguém morreu, só um monte deles, sem nome e sem cruz e sem memórias que os lembrem, um a um. Só um monte deles. Um monte. Tudo ao monte, ao molho. E fé em quem?
Não gosto de morteiros, são feios.

0 thoughts on “Sono

  1. maria

    Sei do que fala. Ao ler o que escreveu, a minha memória disparou flashes de imagens e sons e cheiros… fiquei um bocadinho triste. Quando puder escreve outras coisas daquelas que me fazem sempre sorrir? No entretanto vou espreitar a Mamã ou a Lili, talvez tenha sorte…

  2. carlos a.a.

    Este blogue de 100 nada, mistura de “non-sense”, dia-a-dia, actualidades, sonos, fomes e fomes de sono é uma amálgama que pendura “voyeures” como eu, comentando exactamente a vida de que 100 nada se vai construíndo com um pouco de tudo.
    E é quando deparamos com textos como este que, 100 nada, sentimos que está lá tudo, tudo o que importa – o sentir da vida.
    Beijinho, Catarina! Valapena!