Elefantes reloaded
Diz-se que nunca se deve voltar aos sítios onde fomos felizes, o que é uma grande cretinice ou saudosismo estúpido, como se fosse mais saudável voltar aos sítios onde fomos infelizes ou indiferentes. Claro que devemos voltar aos sítios onde fomos felizes, desde que existam sempre novos sítios onde também somos e isso tudo. Esta porra até parece um capítulo do Manual de Auto Ajuda e Vida Saudável, entre o capítulo do “o que vestir numa corrida pela marginal ao sábado de manhã” e o das receitas de batidos verdes, de banana, atum, couves e sementes de uma merda qualquer. Mas não, é apenas um prólogo sobre elefantes sob o formato psicocoiso que, trocado em coisas simples quer dizer que até posso escrever mais sobre elefantes (é regressar a um “sítio” feliz) mas não vou reler, porque quero escrever outra coisa que só vou saber o que é quando acabar o texto: por agora, só formigueiro nos dedos e umas vagas ideias ali apanhadas com as toalhas e as cascas de cenoura.
Havia elefantes. E voavam. Este é – sempre – o princípio de tudo. É uma lei imutável do meu universo, mesmo que estejam pregados ao chão. Isso do pregado ao chão é tão relativo, como se um prego ou uma corrente alguma vez tenha prendido o que quer que seja que tenha asas por opção. Só depende disso, da opção, da vontade, de impulsos eléctricos entre células e do uso que se lhes dá. Pode é ser simples ou não, isso é outra coisa sobre a qual não me debruço, embora oiça ao longe (isto do politicamente correcto é uma lavagem ao tal cérebro que acaba por deixar uma nódoa ou duas) as vozes do ah pois tá bem, a liberdade é a do pensamento mas há quem não possa e o caneco, pois há, mas esta tasca é um sítio de exercícios de escrita e não diz ONG em lado nenhum. Adiante.
Deixei lá mais atrás (não reli mas lembro-me) um elefante numa ilha a explicar, sabiamente (ou assim me pareceu na altura) que se estava a transformar em areia, mas era tolo. Podia ser fixe para efeitos literários e apelar à tal melancolia do não-regresso aos lugares onde fomos felizes, mas era tolo à mesma. A auto-mutilação de qualquer pedaço (ainda mais as asas!) é uma estupidez sem limites, um sacrifício em nome de nada senão da peninha que se tem de si mesmo, é patético e merdoso. Este meu elefante ficou ali preso porque quis, ninguém o obrigou. Mais nada. E agora voa, à biqueirada nem que seja, que nesta tasca não se deixa ninguém para trás, como nos filmes de piratas um bocado brutos mas, no fundo, até decentes. Ou há-de voar (ainda está meio coxo de ter ficado com as patas na areia e tal).
- Autofocus
- Caos(zinho)