A Cimeira Norte Sul primeira parte
Lili, Agente Secreta Zero Zero Imenso Sete, estava preocupada. Primeiro, tinha-se atrasado em casa a pintar as unhas dos pés. Tá claro que levava botas, sendo Inverno e porque aquelas iam lindamente com as calças de ganga e a pele do casaco, mas uma pessoa nunca sabe se vai ter um acidente e depois tem de despir sapatos e meias, Deus a livrasse de mostrar uma unha mal apresentada! Era só o que faltava!
E depois, BW . um dos batedores contratados – que tinha ficado de se apresentar no local de encontro à hora certa, estava também atrasado…nada corre como previsto, suspirou ela, enquanto mudava da Rádio Cidade (este brasileiro incompetente devia era andar a arrancar dentes, em vez de me esmifrar os ouvidos!) para a RFM.
Um barulho fora do ritmo dos U2 assustou-a, enquanto retocava o baton no semáforo de Alcântara: era o BW a bater no vidro da janela e a assinalar que ia andando à frente. Pelo menos, esta parte está resolvida, pensou ela, enquanto procurava um lenço de papel para comprimir entre os lábios…e se fosses apitar pró c***? Berrou ela para o apressadinho que vinha atrás, e voltou a aplicar o baton com todo o cuidado. Tás com pressa, vai de comboio, ó cab***! É preciso cá uma pachorra para estes tipos!
E avançou calmamente para o local de encontro. Avistou-os antes de virar a esquina. O Chefe ia disfarçado de Mafia Russa, via-se logo que era ele. L’Etranger, como todos os profissionais da classe (a soldo da facção nortista), estava mais bem disfarçado, podia ser qualquer um. Lili sacou do telemóvel e ligou ao Chefe: estou aqui a vê-lo Chefe…e ficou logo danada! Andam a distribuir material novo e a mim raspas! Que telemóvel é aquele que o Chefe agora usa, estou a ouvi-lo rosnar aqui no meu e, quando olho para ele, não o vejo a falar com ninguém!
BW bateu outra vez no vidro. Espera aí, acenou Lili, estou ao telefone, não vês? Ao que BW retorquiu: A menina deixe mas é de olhar para o passeio, está a atropelar aquelas duas alminhas que estão a andar em direcção a nós pelo meio da rua, não tarda nada!
Lili travou. Mesmo a tempo. O Chefe (disfarçado de Mafia Russa, pelos vistos está na moda) sacudiu um inexistente grão de areia do casaco, ajeitou os óculos escuros e disse: Como sempre atrasada. Vamos embora antes que se faça tarde. Além disso, tens cinco taxis a apitar atrás de ti e eu não trouxe a Mausie hoje. Este aqui é o L’Etranger. Não fales muito que ele está aqui para ouvir tudo e transmitir depois aos nortistas. Eu também me vou manter calado.
A viagem prosseguiu em silêncio, cortado apenas pelo ruído de um jacto a passar por nós. BW decidira ir à frente para marcar mesa na primeira estação de serviço, onde encontraríamos o segundo batedor, BC.
(à suivre)