100nada

Aconteceu uma coisa má na comunidade portuguesa do SL

e não sei lidar com isso. Estou em estado de choque e, embora não fosse minha amiga, várias pessoas de quem gosto muito, estão de luto. Na vida real. Não sei como é que se processa uma coisa destas internamente. Não conhecemos aquela pessoa (no meu caso), mas falei com ela várias vezes, boa onda, boa pessoa, boa amiga do seu amigo. Uma rapariga normal, uma morte estúpida, são todas estúpidas.

É aflitivo, isto. Amigas minhas eram muito amigas dela. Algumas chegaram a conhecê-la, outras logo se combina, fica para um dia destes. Nunca se chegaram a ver. Esta coisa das relações virtuais chegadas, das amizades reais que se fazem e que, por mero acaso, não calha alguma vez darem um abraço. É tudo muito confuso.

Penso nisto, penso nas pessoas com que todos os dias falo. Por email, em blogs, ao telefone. Vivem longe, nunca nos vemos, algumas nunca nos vimos. E, um dia, já não há mais oportunidades para tudo o que se vai fazer qualquer dia, um dia destes. Estão tão perto e nunca nos vimos. São tão importantes para mim e nunca nos vimos. São AMIGOS e nunca nos vimos.

Eu sei que é assim, que um corte total e absoluto nos impede de fazer tudo aquilo que ainda faltava. Mas, foda-se, nisto falta muito. Nem um primeiro abraço. Há aqui alguma coisa que não está certa, nas nossas prioridades por pensarmos que há tempo.

Às vezes não há. Para as minhas queridas amigas, amigas dela, um grande abraço.

0 thoughts on “Aconteceu uma coisa má na comunidade portuguesa do SL

  1. ana r.

    Querida Catarina, não é uma resposta que te deixo. Não é um comentário, uma frase,um pensamento (elaborado ou nem por isso). É um abraço.

  2. Catarina C.

    Obrigada, querida Ana. Neste caso, assisto apenas ao desgosto de pessoas quem gosto muito. Sem poder fazer muito mais. Mas reorganizando-me internamente nas minhas prioridades: há pessoas que me falta ainda dar um primeiro abraço. E isso, percebi hoje, não se deixa para “um dia destes”.

  3. maria

    É isso mesmo Catarina. Primeiro custa a acreditar, segue-se a revolta, depois a dor, finalmente aceita-se. Depois, depois é só aprender a viver com a saudade. E é nesta altura, que revemos as nossas prioridades ou as baralhamos todas outra vez.

    Vai fazer um ano que perdi uma amiga. Cancro. Estive diariamente presente nos 3 últimos meses da vida dela. Indescrítivel o sofrimento porque passou. Jamais esquecerei. E a falta que fazem os cuidados paliativos inexistentes no nosso país faz. Nem apoio para os que ficam. No caso da minha amiga, ficaram dois filhos, marido e a mãe. Esta é a maior dor. A de uma mãe que vê partir um filho.

    Afinal a morte é um tabu para todos nós e quando a enfrentamos, percebemos o quão precários somos.

    Catarina, só a conheço daqui, do blog, e a mim parece-me ser uma mulher de fibra. Sensível q.b. Tenho a certeza que saberá lidar com a sua dor e ajudar as suas amigas a ultrapassar a perda.

    Desculpe-me este comentário longo.
    Um abraço.

  4. Crezia

    Um beijinho Catarina.
    É horrivel, às vezes falava com pessoas que nunca conheci pessoalmente e pensava “se lhe acontece alguma coisa não sei, passa simplesmente a estar offline e pode ser porque morreu”.
    É sempre uma bela porcaria morrer alguém, é o que é.

  5. migas

    Catarina,

    Desculpa-me a “intromissão” neste assunto tão pessoal mas, confesso que sei bem o que sentes. Pior. Eu consegui fazer pior. Na minha última viagem a PT pensei: visito a M.J. em Dezembro, pelo Natal. Estava doente com cancro à dois anos mas, eu achava que se já se tinha “safado” na primeira operação, também iria conseguir agora… Na semana que cheguei a Luanda, recebi a notícia que tinha falecido na minha última semana em PT. Sou confiante demais com a vida e acho que ainda vou sempre a tempo para fazer o que quero. Obviamente não iria mudar o facto de ter visitado antes da minha partida para cá mas, o que me revolta é antes deixar para amanhã aquele telefonema, aquele penso em ti, aquela visita, aquele gosto de ti. Como é óbvio para mim, que recebi e-mails destroçados foi duro sentir que fui demasiado despreocupada. E no fundo, sinto-me um bocado culpada por esta falta de atenção que dou às pessoas de quem eu gosto e a quem talvez, nunca tenha dito isso. Enfim, resta-nos pensar que da próxima vez faremos diferente.

    Um abraço para ti.

  6. sem-se-ver

    abraço, claro.

    e sim, não deixe para amanhã os cafés que lhe apetece tomar hoje com quem ainda não conhece ou quem já conhece mas pouco vê.

    percebo e subscrevo a crezia. é uma das desvantagens da net: conhecemos e afeiçoamo-nos a imensa gente que nunca vimos que carne e ossos contêm. sem hipótese de saber a que corresponde o seu estado offline – se pelas melhores razões, se pelas piores. assusta um bocadinho.

    (no outro dia dei com um blog. pelos comentários ao último post soube que o respectivo autor tinha falecido, operação que correu mal. e foi tudo muito estranho.)

    (isto é tudo muito estranho)

  7. AmarPerdidamente

    Para ti Catarina, o meu abraço ainda que virtual. Permite-me só um partilhar um pensamento coma Maria do comentario acima. Tens a minha compreensão relativamente ao assunto cancro e cuidados paliativos já que faz dois anos em 30 de Novembro que faleceu a minha mãe, vitima de um cancro em condições desadequadas porque o nosso Estado ainda está muito aquém de ter em conta as necessidades dos doentes terminais. Existem muito poucas unidades com capacidade para fazer face às necessidades destes doentes. Uma das melhores unidades que visitei está pertinho de Belas, mas com mensalidades fora do alcance do mais comum dos mortais. Com condições fisicas, ambientais fora de série. Com funcionários fora de série também. Com uma lista de espera enorme. Quero dizer não tão enorme assim, porque se trata de doentes em fase muito terminal mesmo. Já se comemora o dia Nacional dos cuidados paliativos. A ARS (Administração Regional de Saúde) já fez alguns acordos, mas não chega para as necessidades que existem. Apetece-me dizer que já não se pode morrer em Portugal.

  8. AmarPerdidamente

    Embora não tenha nada a ver com o assunto aqui exposto para mais uma coisinha, perdoa-me sim? Falando em saudades… há muito tempo que não te oiço escrever, há muito tempo que não te leio sobre o teu R. sempre que acedo dá-me qualquer coisa de inacessivel. Há algum sitio onde possa “matar” saudades? Um beijinho grande.

  9. catarina

    Muito obrigada a todas. Creio que as pessoas mais amigas dela, ao lerem isto, sentem mesmo a solidariedade e amizade destes comentos. Obrigada mesmo.

    (AmarPerdidamente, já segue email)

  10. Summer Wardhani

    E eu, sempre má como as cobras, a primeira coisa que me salta à vista é o título. Estás a admitir a existência de uma comunidade portuguesa in-world ? Pensei que isso tinha ficado mais que esclarecido aquando do lançamento do livro do José Esteves…

    E sim, a solidariedade sente-se, querida – e serve para quê mesmo ? A ela, não lhe serve já de nadinha…

    (me volta a enfiar a amargura no bolso e faz de conta que não aconteceu nada).

  11. catarina

    A ela nada, claro (sim, eu entendo, quando precisou não havia…) mas a quem fica, ajuda. É sempre assim.
    Quando ao “SL tuga”, enfim, não será uma comunidade propriamente unida, mas é comunidade na medida em que são portugueses.
    Beijos, minha querida.

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