100nada

(maio – agosto)

(continuação de outra história noutro lado)

E depois acabou mal. Nada adiantou. Saberei mais tarde aquilo que já sei, que já sabia: que não vale a pena o esforço. Não valeu a pena o esforço: esgotou-se na tal amizade, no tal respeito; do lado de lá recebeu o mesmo desprezo, o mesmo desamor. É por isso que me desdigo agora: não vale a pena o esforço, não teria valido a pena o esforço que tanto invejei na altura por não conseguir eu ser assim: toda aquela pureza de sentimentos, toda aquela entrega desmedida, todo aquele esquecimento de si mesmo, todo aquele altruísmo. Destruidor no fim, do lado de lá nunca reconhecido. Roubou-lhe as forças, até para se levantar, mas que se levantou, é certo e que, não ficando nada satisfeita por me ver reconhecida a certeza do meu cepticismo (que não me alegro com o sofrimento de quem gosto), me orgulho de saber que há gente assim, que resiste – mesmo em vão – até ao fim.
(embora seja um esforço estúpido, convenhamos: que amar só como se sabe e pode, com todos os senões que nos limitam; esforços para lá de nós, vácuo futuro garantido – mas isso sou eu, uma criatura pragmática).

0 thoughts on “(maio – agosto)

  1. Emiéle

    Aceito que seja uma “continuação/fim” de uma história de outro lado, mas como está já chega.
    O resto adivinha-se bem.
    Acabar é quase sempre mal. ‘Acabar bem’ é nos contos de fadas…

  2. Crezia

    Não vou dizer que estou de lágrima no olho que isso não é para nós lol. Mas identifiquei-me arrepiantemente com várias passagens deste post.

  3. catarina

    Mad, em certos casos sim. No amor, não me parece que valha a pena. Mais vale cortar antes que nos transformemos em cacos totais. (sou uma pragmática, que nisto é um eufemismo para egoísta, claro. :))

    Emiéle, tens toda a razão. Só nos contos de fadas.

    Crezia, beijinhos, minha querida.

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