O sentido da vida: um momento de rara beleza
Uma pessoa escreve um post sobre a relatividade dos problemas das baratas ou a importância na barata na infinitude do universo e, entretanto, encontra a resposta. Dentro de um balde de limpa-tudo multiusos marca Carrefour, mais precisamente.
Começando do princípio: estou eu a pendurar roupa e no ouvido um auricular agarrado a um telemóvel precariamente poisado num sítio ao lado, já que é verão e não tenho muitos bolsos. Do lado de lá da linha, alguém muito pacientemente vai ouvindo o meu rol de desgraças sobre a roupa que não acaba, os fins de semana a laurear a pevide em vez de dar o corpo ao manifesto no papel de Etelvina e mais a porra do chão da cozinha que está tão sujo que já se cola aos pés. A conversa dura a roupa toda e mais o tempo de ir buscar esfregona, líquido multiusos acima indicado e balde. E toca de eu-vou-mas-é-limpar-esta-merda-toda-e-é-já-que-não-aguento-nem-mais-um-segundo-é-quase-meia-noite-mas-que-se-lixe e ataco o chão da cozinha com a fúria que até aí destinei a maldizer a vida das donas de casa a desoras.
É então aí que se dá a epifania sobre o sentido da vida.
Quando a cozinha já vai a meio e o rol das desgraças quase no fim, resolvo limpar um canto que me escapou. Estico-me mais e, de repente, agarrado ao auricular e à cabeça que acompanha o movimento do braço, voa o telemóvel de cima da banca e
claro
tinha de ser
mergulha exactamente a meio do balde. Dentro da água a ferver (que assim o chão seca mais depressa) misturada com o líquido multiusos marca Carrefour (isto é importante: quando secar se ainda funcionar, ficamos a saber que também limpa telemóveis por dentro), mesmo a meio. Notei que tinha mergulhado a direito, nada de chapões, um mergulho de cabeça, digamos. Pesquei-o com o fio do auricular (também disse – acho que muito alto – um grandessíssimo foda-se com pelo menos cinco pontos de exclamação)e depois desatei a rir. Desatei a rir e não conseguia parar. Continuei a rir enquanto ligava pelo outro a dar conta da ocorrência e da razão de ter deixado a conversa a meio tão de repente, continuei a rir enquanto me ensinavam a abri-lo para o limpar por dentro (estava já a atacar a tampa de chave de parafusos a fazer de pé de cabra) e fiquei a rir enquanto acabei de limpar a cozinha. Chorei a rir. Não há nada como realmente, como diz a minha mãe e todas as desgraças são assim, há sempre mais uma para acontecer.
E percebi (uma vez mais) que aquilo que cá estamos a fazer no universo é rir.
Rir imenso. Rir sempre. (nós e as hienas.)
- Life, the Universe and Everything *
- O sentido da vida: opções culturais
Fazemos por isso, pelo menos.
Não leias a National Geographic deste mês :-))
É o que chama meter água.
(Então e limpa telemóveis por dentro ou não?)
Pois é, Inês, mas às vezes n é de propósito! 😀
Porquê, Rui, baratas ou hienas?
PN, neste momento estou a soprar-lhe para dentro pelo coiso de ligar o auricular e na fase do vou dar-lhe umas pancadinhas a ver se bule.
Ainda tinhas motivo para rir 😀 as hienas é que ainda não percebi de que é que riem… 😉
É rir para não chorar.
Com líquido limpa tudo não te garanto que o dito telecoiso volte a funcionar, mas se tivesse caído num copo de whisky…ainda dava lol
Comentário dois em um, a este e ao de cima:
– as hienas riem comó caraças, mas só fazem sexo uma vez por ano. Logo, só pode ser do desespero, como quando nos cai o cabrão do telemóvel dentro do balde da esfregona… 😀
:))))
Lindo…e ao de cima ah! pois há…..
Tomaste sem dúvida a melhor opção (rir!!!), porque não só evitou que com a fúria houvesse mais coisas estragadas, como ainda puseste a rir toda a gente que leu isto!!!
Hienas – a destruição do mito! Afinal até são animalzinhos muito “decentes”.
Olha que os bolsos também não são seguros: a minha amiga M. tinha-o no bolso, ouviu plof quando estendeu a mão para o autoclismo, deitou as mãos à cabeça quando o viu rodopiar e – adeus.
Já tá o update lá em cima e era mesmo só rir.:))