Escrevendo umas ideias sem saber do que se trata
(Vou já avisando que este post é apenas sobre o que tenho lido e sem qualquer conhecimento de causa. Se toda a gente pode amandar bitates sobre montes de coisas que desconhece por completo, não vejo porque não possa eu fazer o mesmo).
Consta que anda para aí um programa escolar a levantar uma celeuma do caráças. Trocando a coisa por miúdos e chamando os bois pelos nomes: não há fome que não dê em fartura (e este ditado aqui até se pode aplicar com alguma propriedade) e se ainda ontem a educação sexual nas escolas era inexistente, hoje parece que se está a ensinar a miudagem a bater umas punhetas. E toda a gente se insurge. Não faço ideia se com razão, se sem razão, mas eu como sou do contra e apetece-me escrever e defender umas ideias do contra sem qualquer base de conhecimento do que realmente se passa, vou inventar uns argumentos:
Escrevi ali em cima que a educação sexual nas escolas era inexistente? Péra lá! Mas isso é um enorme erro. Toda a vida existiu educação sexual nas escolas. As escolas foram sempre a maior fonte de conhecimentos empíricos e outros até muito mais práticos sobre o tema. Com miúdos com as hormonas aos saltos pela primeira vez na vida, a trocarem de voz, a acordarem de noite, a terem o período e maminhas a crescer e a sentirem coisas esquisitas e intensas como vontade de lamber a boca toda à/ao colega mais giro da turma ou dar uns valentes murros na loira/moreno que acaba por levar a taça, bater as portas em casa e chorar sem qualquer razão, a escola foi sempre o principal educador. Em todo o lado, excepto nas salas de aulas: nos intervalos, nos cantos dos recreios, nas casas de banho. Basta relembrar as portas das casas de banho dos nossos ciclos e liceus, todos aquele corações e frases brutais, escritas por (no caso das casas de banho das meninas) rapariguinhas pequenas que ainda deviam andar com as Barbies atrás (segundo os pais, que raramente dão conta que os filhos crescem), mas que em vez de trocarem vestidinhos e botas, escrevem coisas nas portas (coisas como a Vanessa é uma puta porca, lambe o caralho do Libório e engole ou apalpa-me as mamas e espeta-mo todo). Calculo que as portas das casas de banho dos rapazes não fossem muito diferentes.
O que nunca faltou na escola foi educação sexual. Concursos de pilinhas e performances privadas, revistas porno trazidas às escondidas, contam-me os meus amigos. Segredos de beijos e sensações e apalpadelas entre as meninas. Tudo muito baixinho para ninguém ouvir, que é mau e feio e porcaria, mas isso nunca impediu pré-adolescente ou adolescente nenhum de ir ver como era, experimentar aquela maneira, ler o livro Kama Sutra que apareceu roubado dos pais, e falar e fazer tudo quanto há com os amigos da escola.
Talvez eu seja de uma geração um bocadinho acima das pessoas que se indignam muito agora. Talvez eu veja as coisas de outra forma, por ser de um tempo em que as farmácias se recusavam a vender pílulas se as raparigas tivessem caras de miúdas, em que 90% das raparigas da minha geração fizeram abortos antes dos 15 anos, que os rapazes eram todos alérgicos à borracha dos preservativos e onde nasceram dezenas de bebés que se chamam bebés Rendel ou lá como se chamava a forma mais popular de (não) anticoncepção que existia na altura. De uma geração em que grande parte das mulheres agora com a minha idade e uma catrefada de filhos dizem que não fazem a mais pequena ideia do que seja um orgasmo.
Dito isto, a conclusão a que chego é a seguinte: nunca faltou informação a nenhum miúdo. Era má, deficiente, distribuida pelos outros que também não tinham os dados completos. Os resultados não foram grande coisa. Não vejo que os putos que têm acesso a tudo e mais alguma coisa, bastando para isso ligar um botão do computador e acedendo a um site porno (e se não for em casa por terem pais atentos, é noutro lado qualquer, ou alguém que está a ler isto nunca leu nenhuma revista porno com 11, 12 anos? Tenham paciência…), sofram por aí além por alguém lhes indicar uma geografia corporal. Mesmo que seja mal ensinada, qualquer coisa é melhor que o enfiamotodo das portas da casa de banho. Nestas coisas, uma pessoa tem sempre de pensar nas alternativas existentes.
agora posso escrever o mesmo post defendendo o oposto se quiserem…
- Um pensamento súbito mas já me passa
- Adenda ao post de baixo
E porque é que não foste para advogada? 😉
O meu gaiato de 5 anos foi dizer à mãe que viu mulheres nuas cá em casa.
Porra! Queixinhas pá!
Era só a Maxmen!
Moralismo, hipocrisia, o ancestral medo do sexo ou do prazer ou lá o que é. É pecado. Entretanto as miúdas vão aprendendo à sua própria custa e os rapazes vão sendo protegidos das realidades da vida.
Eu quero de defenda o oposto.
Tudo o que disse faz sentido, mas exactamente por isso é que este programa escolar não tem ponta por onde se lhe pegue!
A partir dos 10, 11 acho normal que se fale das coisas e que se ensine, mas que se incite, lamento, mas não concordo!
Tudo deve seguir o seu rumo natural! E acho que eles terem a informação os ajuda, mas também acho que há coisas que têm que ser descobertas por eles próprias! Esta é uma delas!
Cat, vou assentar que este post foi escrito com a emoção mas também, pela forma como está escrito, com a razão. Se pretendes defender o contrário, avisa logo no início do post que é para eu não perder tempo a lê-lo. O NIM nunca foi a minha praia. Não se pode defender com a mesma convicção uma coisa e o seu oposto. Este eu penso que reflecte uma visão honesta. Do mesmo modo que acho que pode revelar uma visão honesta o seu contrário, mas nunca vindo da mesma mente.
Uma vez, após um post mais polémico, fi-lo: escrevi uma segunda versão defendendo o contrário. Seria um bom desafio não?
Para o/a Justme : mas alguém está a incitar porra alguma? em vez de se ir atrás de “Virgem santissima, estão a ensinar a bater punhetas às nossas criancinhas” não faria nada mal procurar-se olhar para os materiais de que se fala e os que são utilizados nas escolas portuguesas. Como mãe (e tia e amiga de muitos pais de meninos e meninas portuguesas) posso garantir-lhe que não só ninguém incentiva a nada como, pior, isto é tudo show off porq nas escolas continua a reinar um silêncio assustador sobre o tema.
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A parte biológica da reprodução já é dada em biologia, a parte afectiva e psicológica é mais complicado, mas querer silenciar/ridicularizar/diabolizar a questão (levantada com mais rúido do que factos) é apostar no imobilismo, perpetuar os mesmos preconceitos. Se os pais não sabem gerir os afectos ou desafectos é problema deles, mas não queiram perpetuar essa amputação nos seus filhos.
Ah! e se calhar até não era mal pensado espetarem-se uns livrinhos sobre “técnicas” de masturbação às nossas adolescentes. Talvez assim perdessem o medo de mexer no próprio coprpo (oh abençoadinha moral cristã da culpa) e não chegassem aos 40 anos a dizer, tal como afirma a catarina, que nunca tiveram um orgasmo na vida
Catarina, os sofistas é que se divertiam a provar uma coisa e o seu contrário. Cá na terra já temos os escribas a soldo que escrevem conforme a encom$nda, em assuntos destes, por mais dúvidas que possamos ter não podemos encarar isto só como um mero exercício de virtuosismo estílistico.
Sara, junta-te à minha mãe nessa pergunta.
Azenhas, o meu gaiato de 4 anos tb vê pelo menos uma mulher nua que sou eu. Sem qualquer problema e respondendo a todas as perguntas que me faz sobre o corpo que, obviamente, é diferente do dele.
Fred, é mais do que isso, creio eu. É a negação de que existe uma sexualidade pré-adolescente e mais grave ainda: a negação de uma sexualidade que não é assim tão latente, nas crianças. Esse então é o assunto dos mais tabus que existem, apenas conversado entre algumas mães e à porta fechada.
Just me, a minha última frase era retórica…aliás, o contrário está mais do que bem defendido na Controversa Maresia, onde creio que também participaste na discussão (devia ter feito um link para aquele magnífico post da Vieira, e se calhar ainda faço).
Admito que o programa escolar seja uma merda. São todos, seja de que tema for, de qualquer maneira: educação sexual ou matemática, é tudo muito mal ensinado aos miúdos. O problema para mim resume-se ao seguinte: é que me parece que as ‘coisas que devem ser descobertas por eles próprios’ são descobertas da pior forma possível: a ver às escondidas coisas pornográficas, nas anedotas porcas que mal percebem, nas piadinhas dos amigos, no empurra e vai lá se és homem/mulher, enfim; até agora a descoberta por eles mesmos não me parece ter dado grande resultado – temos milhares de pessoas com problemas sexuais mal resolvidos, principalmente mulheres.
Pre, esta é realmente a minha opinião como terás calculado. A última frase era apenas uma provocação. O que não quer dizer que não fosse capaz de escrever o oposto e defendê-lo com argumentos válidos. A questão é essa mesma: o tema é ambíguo, mexe com valores morais à mistura com questões culturais e com medos que as pessoas não confessam, por muito prafrentex que sejam.
Seria um bom desafio, Luna, mas já responder a isto tudo me tira tempo…:(
Outra discussão aqui:
http://www.livejournal.com/users/triciclofeliz/68238.html
Mas o que realmente me espanta é que quando se fala em ensinar educação sexual uma grande parte dos adultos pensa que é mostrar às crianças como se faz e quais as melhores técnicas para se atingirem orgasmos gigantescos!!!
Tudo bem, qualquer coisa será melhor, mas é preciso uma disciplina específica para o efeito?
Essa é a minha dúvida.
Fui ver a discussão no Triciclo Feliz (obrigada Mário) e o post do Murcon.
A minha opinião é que, e se calhar isto pelos vistos e a avaliar pelas reacções de muita gente é uma ideia peregrina, quem educa mesmo são os pais. A escola, os amigos, servem para deseducar e ensinar a ler e a escrever e a contar e saber mais umas coisas, mas o resto (desde comer à mesa até se pode mexer na pilinha/no pipi e quando e como e em que circunstâncias) cabe aos pais explicar.
E também tenho a ideia peregrina que ninguém se preocupa lá muito com a forma como é desensinada a matemática, por exemplo.
Boa pergunta, Carlos. Poderia muito bem fazer parte do currículo de biologia, na parte do corpo humano…? Pelos vistos já é, de acordo com o Mário.
mon cher pre
eu por exemplo tenho sempre muitas opinioes sobre um dado assunto e variam com o tempo, com o conhecimento de causa e com o ouvir de outras opinioes. posso ter alguma predileccao por um lado ou outro, e posso defender ferozmente o lado de que nao gosto so para contrariar o chefe. permita-me portanto discordar desse ponto de vista em particular.
e so para nao dizerem que nao me pronunciei sobre o assunto em questao: o sexo, por ser proibido e pecado e tabu esta demasiado sobrevalorizado. tenho dito.
Alberto, tudo isto é um tema muito complicado. A educação sexual num modelo clássico deveria ser factos, prevenção e algumas coisas mais. Mas retirar o peso do tabu de cima do sexo, isso é muito mais complicado.
Ah. E não me falem que retirando o tabu, isso acaba com a intimidade e mais balelas desse género, estou careca de ouvir esses argumentos. Só com uma visão do sexo como uma coisa realmente natural desaparecem os entraves à verdadeira intimidade.
Ah tasqs, a gente as duas é um bocado parecidas em certas coisas.
Há uma parte muito importante da educação que cabe aos pais fazerem, no entanto a escola deve complementar o papel dos pais, dar outras perspectivas, questionar, contribuir para a sociabilização (isto parece uma palestra….) e não só despejar a matéria para a cabeça dos miudos. Possas dá trabalho educar, mas dá gozo também (muito).
Mário, também me parece que a escola tem um papel fundamental, como é evidente (claro que às escondidas penso sempre que conseguiria ensinar muito melhor o meu filho, pelo menos nos primeiros anos, tivesse eu todo o tempo disponível – mas a função da sociabilização é essencial, isso sim): seja no ensino directo, seja no do canto da casa de banho.
Mas se o meu filho vier para casa a saber escrever, ler e contar eu já me dou por satisfeita, sinceramente…do que oiço dizer, a coisa tá preta e não é só nesta disciplina nova.
Continuo com a mesma pergunta: porque é que não vejo a mesma indignação geral quando os miúdos não percebem fracções e números negativos???
Assim a enviezar na conversa. Desliguem as televisões por algum tempo – (fica metade da (des)educação sexual feita). Aproveitem o tempo livre que daí sobra – a outra metade fica agora feita. E então sim – que venham as escolas dar uma segunda perspectiva.
(será que a importância de tudo isto não no facto de nos dar jeito que (também aqui, como em muitos outros capítulos da educação) estejamos a subcontratar o nosso ensino para tratar de “coisas” que já não temos tempo nem paciência? mais uma coisinha que empurramos para fora de casa?)
Excelente pergunta final, Catarina!
Catarina, não vês a mesma indignação porque uma disciplina como educação sexual transmite não só informação, mas sobretudo valores, e esses quanto a mim, deveriam ser essencialmente passados pelos pais.
Não me causa estranheza nenhuma que se informe, para mim, e porque já partecipei na primeira formação para dar essa mesma disciplina nas escolas, o que me preocupa são os ditos professores.
Não é na matéria que está o problema, mas é na forma como é passada e por quem a passa.
Há dias em que penso que há uma conspiração para estupidificar os alunos que andam no sistema público, mas isso é só ás vezes!
Do mesmo modo que é atribuida aos professores a instrução do aluno, aos pais cabe a responsabilidade de os educar.
E como a maioria de nós sabe, o sexo não tem muito a ver com instrução.
Não considero que isso deva ser considerado disciplina escolar.
Mas “Fisiologia e Planeamento Familiar” seria capaz de se tornar uma ideia interessante…
😉
Dear Catarina,
Quem segue o teu blog, como eu o faço “há canos” sabe perfeitamente que serias capaz de sustentar uma posição perfeitamente oposta à escrita primeiramente. Um outro comentador teu terá (ou eu entidi mal) te comparado a um sofista. Por acaso na tua pele, sem nenhuma bajulação escondida ou descarada – esta da bajulação está na oredem do dia, na blogosfera – dizia eu na tua pele, consideraria até um elogio enquanto sábia capaz de elaborar discursos fascinantes, com intenso poder de persuasão. Num sentido mais restrito da sofismática de facto seria para mim chocante ver-te defender o “coiso” e o seu contrário. Sem fazer nenhum juízo de valor de qual dos coisos deve ser defensável, uma vez que, para além do artigo do expresso e de uma o outra referência na blogosfera ainda não domino o tema com a propriedade de ser eu próprio eloquente.
Cat, tomando a liberdade de usar a tua casa para responder á nossa querida tasqs, já que ela se me dirigiu:
Minha chère tasqs,
Quantas vezes eu não usei o mesmo “truque” que referiste só para ser espirito de contradição? Às vezes apetece-me, mesmo que isso não corresponda ao que efectivamente penso, só para partir a tola a alguém. Só que depois de partida não corro atrás, para colocar ligaduras. Se é para partir é à pedrada mesmo. Toma!
Caro Vitor, só falei nos sofistas como exemplo devido ao facto de no fim do post estar a referência “agora posso escrever o mesmo post defendendo o oposto se quiserem…”, e me parecer que o talento da Catarina seria mal empregado nesse exercício.
Suponho que toda a gente concorde que ideal será que sejam os pais e o grupo de amigos a enquadrar a educação sexual, com a escola a veicular uma explicação mais científica para a coisa. O problema é que a escola se substitui ao papel dos pais em muitas tarefas que estes não conseguem desenvolver, sendo uma das mais evidentes a da educação sexual, que eles mesmos não dominam lá muito bem. Suponho que aqui também será consensual que: melhor ser a escola do que ninguém.
mana,
nem mais!
(este post também já deu o que tinha a dar, siga para um novo. E claro que subscrevo a opinião da mana)