100nada

Glugluglugluglu

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  1. vanus

    Início em Fim
    Por vezes começamos afogados, olhamos os céus que nos parecem recortados, vivos pelas ondas que embalam a visão, olhamos o céu que não passa de um mar, estamos abaixo, tão abaixo que não percebemos.
    Um dia atravessados por uma corrente forte, somos trazidos ao de cima, e pela primeira vez respiramos o ar que dói nos pulmões, vemos as cores que nos cegam os olhos, o mundo imenso, sentimos as gotas a secarem minguando-se até desaparecerem, o vento a beijar-nos a face com a força de uma lâmina, o sol escaldante sobre a pele sem textura, disforme. Nesse dia, queremos o mundo, desejamo-lo, aprendemos a nadar, e tentamos, tentamos chegar a terra, sê-la, seca, com cheiro, espalhada em nós, sólida.
    No entanto, sabemos onde pertencemos, onde foi o começo, ansiamos pelo regresso, pelo conforto do útero húmido onde tudo fomos, onde tudo pensamos poder voltar a ser. Ao mesmo tempo a terra não deixa de estar no horizonte onde os nosso olhos descansam, na linha infinita onde o mundo se forma belo. Teme-se, desconhece-se, deseja-se ainda mais, e sobrevive-se.
    Percebemos que nunca seremos a terra desejada, aquela que o mar abraçará e não mais deixará, encontramos tanta terra, tão mais sólida, perdemos o rumo, olhamos para o lado e o Norte dissipa-se no mar, perdemo-nos, somos nós e o silêncio. Sempre o silêncio entre, aquele que faz bater o tempo com o som do coração. O nosso mundo cai, para dentro de nós, e nós, sós, sentimos o corpo perder a forma, o frio tomar-nos o coração, diminuir o seu ritmo, já não temos calor, apenas bolhas saem para fora como o último vestígio do ar que um dia respirámos, e no fundo do mar, uma concha, feita à nossa medida, como casa, caixão do corpo que foi ar, tão pequena, parece-nos, tão pequena, que nos encolhemos para nela caber, e sentimos que nunca de lá saimos, sempre lá estivemos, no fundo do mar, olhando os céus recortados do mundo que a linha de água separa, e que pensamos ser o real.
    A descoberta dói, não emergimos, apenas nos deixamos ficar, como sempre estivemos. Os cabelos ondulam, separados em gomos, em frente do meu olhar, dentro da minha concha pequena, onde me aninho, cheia de silêncio entre, tentando ouvir o mundo cair na superfície da água, do meu Mar, só meu.

  2. Maré

    Gluglugluglu uma fava que pelo aspecto da coisa já tem caracas que cheguem para ver que não acabou de fundear! Tá mais para o enterrada e em decomposição.
    A imagem tá super o teu estado é que livra-te que não esteja melhor que o da âncora!

    Up, up, up, up…

    Vai suando mas não deslargues. 😀

  3. Maré

    Muito, muito bonito Vanus!

    Estendo-me em branco num cair morno sem ideias. Só vontade de engolir mar e retirar sal que me alimente sonhos que escorracei sem pensar como podia doer perder o que me sustentava.

    Eis que se acorda e no rasgar da alma que já não chora se larga o oceano numa só golfada de coragem.

    E venham ondas que não me levam o resto que sobra do peso que carrego. Um mistério de sentires que me faz subir das profundezas ao encontro do que se perpectua para lá do fundo azul pintado com a mesma cor que o espírito que mesmo algemado ao sofrimento, esvoaça ainda…

    Querendo! Esgotando-o até à seiva da raíz que só seca quando morre.

    Subindo no cordão umbilical do sonho que nunca se cortou, se volta à superfície num desespero de oxigénio.

    E correm braçadas e risos de volta ao areal onde um corpo a rolar na areia se abre ao sol.

    Caramba Pli abraça-me esse mar!

    Beijos às duas.