100nada

sem luz

Moby (repeat mode).
Oiço isto há mais de dois anos. Ouvi isto durante esses anos. Às vezes não sou capaz de ouvir. Outras é assim, o tempo inteiro, como se a noite acabasse amanhã. Ouvia isto quando escrevi a primeira palavra, a primeira deste nada, a que é um número. E depois escrevi a segunda e fiz um título. E depois abri a minha mão. E escrevi para ninguém
Dois anos depois, abri o 100nada. Sem luz. Sem Moby.

Hoje estou a ouvir Moby outra vez.

Sem Luz

Estou sentada na sala a ver um video e a luz vai abaixo. Olho pela janela e vejo que foi geral. Está tudo escuro.

Passada a confusão de onde estão as velas e após os comentários da praxe,
que chatisse e agora, o que é que se faz…

…sento-me na minha varanda, e oiço…

Um silêncio feito de ausência de luz artificial. É um silêncio que tem cães e vozes ao longe, mar e folhas abanadas por uma vaga brisa, que quase nem se sente. Um silêncio que arrepia, ou talvez seja o vento. Um silêncio a preto e branco, com todos os cinzentos do mundo.

Acende-se a primeira vela…

E o silêncio enche-se de sons. Vozes de crianças que ficaram privadas do Cartoon Network e que se iniciam no prazer de andar de bicicleta de noite nos caminhos do jardim. Vozes de donos de cães que se encontram. Vozes de pessoas que se lembram que têm varandas e está uma noite de Verão. Vozes de pessoas que descobrem que as noites sem luz se podem transformar em noites preenchidas com silêncios feitos de gente.