100nada

Um (re)(re)publish

dedicado à festa do DJ JPC.

Noite de shots aqui na Rua Blogsfera, hein? Vamos embora! Sai já um enlat…er…um pedaço de prosa reciclada, digo. Escrito em Fevereiro de 2002. E baseado numa mistura de coisas passadas, reais e imaginárias…coisas que acontecem a quem anda nos shots…

Noites de lobos

Quando dou por mim, estou a dançar em cima de um balção de vidro no meio de vários loucos. Dançamos doidos de braços no ar, pisamos copos, mãos de clientes que tentam chegar aos empregados através das nossas pernas, sacudimos trocos do caminho com os pés. Não queremos saber. Nas mãos garrafas de água, não se mistura alcoól com o que se toma nestas noites, toda a gente sabe.

Estou a dançar com um homem, os dois vestidos de igual, de uniforme. Botas pretas, as minhas de saltos as dele de gang. Calças de cintura descaída, t-shirts pretas e curtas de alças. É o tempo de ter fios com sementes amarrados ao pesçoco e de mostrar pele bronzeada. E suada. Sacudo cabelos ruivos e compridos, ele cabelo máquina dois. Dançamos um com o outro sem olhar. Mas vemos tudo.

De cima do balcão vê-se tudo. Gente que bebe, gente que dança, gente que tenta conversar. Mas nestas noites, toda a gente sabe, o que esta gente toda é. É gente que engata. Não há mais nada a dizer. Por isso é que este espaço não é escuro. Tem luz, muita luz. Que se veja bem quem se engata. É o mínimo que se pretende. Vou dançando e vendo bem. E enquanto danço também me vêem bem a mim. É um talho de corpos suados em mostras e promessas. Porque é o que se faz, quando se dança assim em abandono. Mostra-se e promete-se. Há quem dance bem e quem dance mal. E há quem dance em cima do balcão.

Já vimos tudo. Eu e ele, o das botas de gang, que eu não sei o nome. Tem olhos de lobo. Não precisava de mais nada. Mas dança também muito bem. Não falamos, só dançamos. Fixos um no outro, sérios. Olhares sérios são medidas. Sorrisos são promessas. Dançamos agora colados. Pele molhada. Mais uma medida.

Já dançámos tudo. Aqui. Vou-me embora. Não preciso de olhar para trás para saber que ele, o dos olhos de lobo, está ali. Não falamos, só andamos. Andamos como dançamos, certos. Paramos. Olhamos um para o outro. Sorrisos são promessas. Ele sorri. Eu também.

in 100nada, Set.2003

0 thoughts on “Um (re)(re)publish

  1. PN

    Um brinde a este post. Dei aqui um saltinho, mas tenho a cerveja a aquecer nas ruínas.

  2. Zazie

    então menina? vens à patuscada? vá lá, confirma que já não sei onde para o teu mail. Manda para os radicais. Não tens password?
    beijocas

  3. mana

    ai mulher, que desarvorada…
    a susana f já foi identificada: é o santo (personagem; vide uma sessão longíqua da festa do amassa amassa). o trocadilho poderia ter indiciado, mas eu cá estava longe de imaginar que era ele.

  4. mana

    Ah, é verdade: sim, é verdade que é a beleza que me deve mais a mim, em nome de tudo aquilo que tenho produzido a seu favor (convencida). Quanto ao sobrinho, não era bem isso. Foi numa daquelas instâncias em que se queixava de que era feio, porque nenhuma rapariga gostava dele (sounds familiar?): Então e a fulana? e a beltrana?, perguntei eu. Mas essas são feias, disse ele. Foi aí que lhe expliquei que mesmo as feias, quando se apaixonam, não tendem para os feios.