Uma Maré de palavras
Cruzamo-nos com as pessoas na rua e não sabemos quem elas são.
Há duas meninas a brincar num recreio de um colégio sob um sol tropical. Não sei se brincam juntas. Mas brincam no mesmo sítio, colocam as mãos no mesmo portão, pisam as mesmas pedras, descansam à sombra das mesmas árvores e riem-se (provavelmente) das mesmas coisas. E cruzam-se nas mesmas ruas, apanham conchas nas mesmas praias e mergulham no mesmo mar quente.
Essas duas meninas, não sabemos se apenas se cruzaram sem se verem ou se abriram um sorriso uma para a outra, quase adivinhando que passariam os sorrisos um dia, mais tarde
noutra cidade. Onde no cimo de um monte existe uma universidade. E as duas meninas, já grandes, não se sabe, mas talvez se tenham sentado no chão, uma perto da outra, ou tenham fugido da água azul. Ou talvez apenas se tenham cruzado, com crianças pela mão. E também não sabemos (mas adivinhamos) que aqueles sorrisos das duas (talvez para a outra, talvez não) passaram para outras
duas meninas. Há duas meninas (são outras agora) a brincar num recreio de um colégio sob um sol tropical. É o colégio onde andaram as mães. Não sabemos se estas duas se cruzaram, se sorriram uma para a outra, se algum dia cruzaram o olhar uma com a outra, quase adivinhando. Mas sabemos que brincaram e mergulharam e apanharam conchas quase iguais.
Há duas meninas (já grandes) que se cruzam nos mesmos sítios. Têm amigos que são os mesmos amigos. Nenhuma delas sabe que lá está a outra. E vão-se cruzando sem dar por nada. Acabam a jantar numa mesa com mais cem pessoas, na mesma mesa. Cruzam-se. Mas não sabem quem são.
Há letras no monitor. Palavras, poemas. Sorrisos. Risos. Gargalhadas e lágrimas partilhadas.
Há pessoas com quem nos cruzamos na rua e não sabemos quem são.
Foi preciso ser assim. Foi preciso um abecedário.
Um beijo, minha querida. E um dia muito feliz.
Uma gaja agora faz o quê para além de chorar baba e ranho, tremer que nem varas verdes e sentir o coração a saltar da boca?
Um dia tinha que ser. O destino foi mais forte que tanto desencontro nosso.
Hoje há duas meninas que se olham, se brincam, se tocam e sorriem ao sonho que chegou feito barquinho de papel carregadinho de letras que foram atirando ao mar uma da outra como quem retira água de um barco que não quer ver naufragar… Veio de longe, trazido pelo vento Sueste com o cheiro do vento quente de África… Subiu o Mondego. Duas meninas a vê-lo passar no alto do Penedo da Saudade sabiam porque sabiam que aquele barquinho ia ser delas…
Há uma comoção estranha que nos penetra a alma quando se vê um barquinho de papel a navegar e se espera que ele nos chegue à mão devagar, na ondulação quase quieta da hora docemente calma.
Não há limites de querer! Nós quisemos.
Tu sabes que não podias ter-me dado melhor presente para tudo o que não se vê e se sente. Fundo, profundo, guardado no ventre como quem cuida de uma gestação para sempre.
E duas meninas assim nunca deixam de ser meninas até ao fim e há mais meninas nossas sempre de mão dada a guardar um jardim que regam com risos e lágrimas e sonhos e letras a voar sem medo…
E o barquinho de papel sempre a passar num horizonte seguro.
Catarina, tu és tanto tanto linda!
Obrigada por me veres passar e sentires o nosso cruzar que já não podiamos deixar escapar.
Não se pode ficar triste, vocês não deixam.
Todos os oceanos cruzados de beijos molhados mas de felicidade.
Desculpem a intromissão neste momento tão privado, mas… que bonito! Fiquei muito emocionada com as vossas palavras. É bom saber que há pessoas lindas, com sentimentos bons. Beijinhos para as duas.
Que bonito!
Lindo, lindo, como linda és, querida Catarina, e como linda deve ser a pessoa a quem dedicas. E digo isto sussurando, para passar despercebida nesta troca que é tão vossa. Beijinhos mimados
Um beijo, Catarina. Excelente texto.
Já agora estendo o comentário à Maré, que os dois textos fazem parte de um todo.
Lindas meninas, crescidas agora.
Começar o dia quase sem conseguir ler de tanto, lágrimas a rolarem seguidas, aqui e ali e ali, sem ser possível dizer mais, a alma a transbordar. E espero que estejas a dormir, Maré, que eu bem vi as horas a que colocaste comentários. E obrigada por tudo e tudo.
Obrigada a todas, são os anos da minha querida Maré, é um dia feliz.
Um gajo…um gajo fica sem palavras e mais contente porque ainda há pessoas capazes de…
Houvesse um milhão de mal-feitores que uma “história”, uma verdade-verdadinha destas, nem que fosse só entre duas pessoas, bastava-me para me ir a eles.
Beijos!
Oh pá!!! chorar logo de manhã não vale!
Ainda para + quando se acorda tarde e cheia de stress, com vontade de mandar tudo para as urtigas!!!
Beijos Catarina… e essas recordações, quase quase que tb são minhas!!!
Para a Maré, nunca haverá palavras suficientemente bonitas e grandiosas para lhe desejar Um Dia MUITO FELIZ! Mais uma vez, aqui deixo o meu Xi Grande a esta rapariga de aura dourada!
lindas, as duas meninas. e lindo o vosso (entre)olhar.
sorrisos para vocês.
Entro, leio, comovo-me e saio com um sorriso, de mansinho, para não incomodar. Muitos parabéns para a Maré, cujas palavras vou encontrando tantas vezes aqui.
Obrigada.
Eu venho só aqui na surra, deixar um beijo enorme às duas, uma que me é muito querida e a outra que supeito que o venha a ser em igual dimensão.
A imagem é linda e o texto, nem se fala, já não me lembro como chamei a tua escrita esta noite Catarina, mas é isso, foram-se as palavras e ficou só o sentir.
Pronto, e não vou chorar mais
Beijos
E outro beijo para ti, Vanus, que cada vez que entro no teu não consigo sequer acabar de ler. :,,-)
Fica-me esta noite guardada como uma noite à volta de uma chama de velas, meninas abraçadas contra o frio do mundo.
falam,falam,dizem mal do do (desculpem gaguejar mas é a 1ª vez que aqui venho)governo,mas há muito tempo que não tinha esta sensação de como a vida é bela.
Vim só deixar um obrigada geral. Ufa, já não é o meu dia hoje. É que o de ontem ficará marcado para sempre.
Beijos