Ai que soidades!

Apesar de não reler o 100nada, há coisas que até me custa acreditar que escrevi (e essas releio)…

(um bocado de ‘A aventura na A1’ por Lili:)

Ah, amiguinhas, até que enfim que tenho um bocadinho para continuar a contar a minha aventura da A1! Iamos aonde? Ah eu estava no quarto a pensar no Morgan, na viagem, no sono…

Estou eu a adormecer, começo a ouvir a televisão no quarto ao lado. Uma gritaria que só visto. Canal 18, penso eu, e do outro lado, do lado oposto ao barulho, outra berraria. Não era estereofónica. Era outro canal. E estou eu a pensar, olha! Agora já é em português, pensava que ainda tinham estes canais naquela coisa mexicana do ‘ai cariño!’, pimba, cai o poster da aguarela dos patinhos no laguinho ao por do sol da parede do lado de lá da cama ao chão! Como estava meia a dormir, nem percebi bem mas, pelo sim pelo não, pus-me de pé e tirei logo o da pardala a alimentar pardalitos no ninho, da parede por cima da cama. Aquilo, amigas, era a maratona da A1, no mínimo! De um lado gritava ela, ai filho, assim, isso, ai meu Deus, ai meu Deus, isso, sim, sim, pera lá, assim não, isso, agora, vá, mais depressa, isso, sim, sim, Ai meu Deus, AI MEU DEUS, então paraste porquê??? e eu ali a pensar, ora aqui está uma maneira fervorosa de rezar o terço! Aposto que está de joelhos! E do outro lado da parede era um não acabar de ordens de voz grossa, assim sim, assim não, mas tu não tens mesmo jeito para isto, onde é que te fui buscar, mas para que te trouxe eu para aqui, opá mas tu não vês que assim não dá? Porra, pá, pára lá com essa merda, tás-ma morder o…bem, acho que dá para entender que a coisa estava um bocado trocada nos quartos e não estava a funcionar da melhor maneira possível. Até me passou pela cabeça ir bater às portas e aconselhá-los todos a uma troca a ver se se chegava a algum lado e se eu depois dormia alguma coisa…mas achei melhor ficar quieta, não fosse haver ali alguém com ideias brilhantes lidas em revistas do género (a Cosmopolitan por exemplo, deve ter inúmeros artigos sob o tema ‘adicione mais sal à sua comida, varie e coloque os ingredientes todos na mesma panela’, sim, na secção culinária, claro!). Uma menina sozinha num hotel da autoestrada pode dar azo a ideias erradas e convenhamos, de noite todos os gatos são pardos.

Bem, estou eu ali a pensar nestas coisas todas e a ouvir as ordens e desordens dos lados, oiço uma data de vidros a partirem-se do lado de fora da janela! Bom, digo eu, agora o que será isto? Será castigo para a incompetência nas rezas? Bolas, esta gente não faz a coisa por menos, é logo janela abaixo (apesar de ser primeiro andar), não há consideração, ternura, preliminares, festinhas, frases amáveis (deixa lá, acontece a todos, sabes que o cansaço, as cervejas e depois, já não tens vinte anos, fica para a próxima, ficamos aqui abraçadinhos só assim a conversar, queres falar sobre este problema, não é? Era melhor, se calhar devias ir ao médico, há uns comprimidos…enfim, coisas assim que animam sempre uma arvore milenar que já dá poucas flores…) e de consideração religiosa em consideração filosófica, de qualquer maneira fui espreitar à janela. Aliás, até demorou menos tempo do que este que demorei a escrever isto. E depara-se-me o seguinte quadro:
– lá em baixo estava um homem nu.

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