100nada

Que coisa estranha

Nunca releio esta treta, como estou farta de dizer. Não é conversa, é mesmo verdade. Não sei porquê, não calha, tenho mais que fazer, não tenho paciência para andar para trás e o que aqui está é atrás do que vem depois e nem para o depois tenho tempo que chegue, quanto mais para o antes.

E quando, por mero acaso, encontro noutro lado, uma coisa de lá mais atrás, escrita por mim, acho estranho. Já não me identifico, já não estou lá, foi escrito por uma pessoa quase-eu mas que não é exactamente eu-agora. (Quanto mais para trás, pior. Um dia tive a infeliz ideia de abrir ao calhas um diário que mantive ali nos 16, 17 anos. Não só não era eu-agora mas sim um eu-tão-antes-que-quase-nem-me-lembrava, como fiquei mesmo envergonhada: pareceu-me que estava a devassar a vida de outra pessoa completamente diferente. Não li nem mais uma página.)

E acabei de ler uma coisa escrita por mim-há-um-não-tão-distante-assim-tempo. O curioso da coisa não foi ler como se se tratasse de outra pessoa, porque tenho sempre, em maior ou menor dose, essa sensação: o curioso foi (desculpem a cagança) é que, com essa dose de distanciamento ao autor (que sou/fui eu), achei que era um bom texto.

Claro que sei em que circunstâncias o escrevi, claro que, sendo vago, se referia a coisas específicas. Não me lembrava do texto, mas lembro-me do tempo em que o escrevi. O que me leva à ideia, cada vez mais enraizada, que tenho vindo a clarificar: a prosa poética tem tempos. Este agora, não é, decididamente, tempo disso.

Um gajo deixa sempre qualquer coisa pelo caminho. Umas coisas boas, umas coisas más. Não sei se gostei de escrever prosa poética. Não sei se se gosta. Tá ali, tem de sair por qualquer lado, comigo é mais isso. Foi mais isso. E um gajo fica com um bocado de pena se olhar para trás e pensar, porra, será que eu tinha mesmo alguma coisa em mim? Que se visse? Que eventualmente crescesse e se se transformasse em qualquer coisa mesmo? Mas um gajo tem é de pensar para a frente e deixar o resto pelo caminho, mesmo com essa pena. Não é o meu caminho.
Não é, definitivamente, o meu caminho. Tenho pena, mas este que agora sigo e que, parecendo fácil, nem sempre é, é que é aquele que me faz rir. E um gajo, pá, se não se ri…pura e simplesmente bate a bota.

0 thoughts on “Que coisa estranha

  1. Ruiva

    Bom dia Cat!
    Defenitivamente, estes não são tempos de prosa poetica. Pena…
    Assim sendo, passemos bons bocados rindo 😉

    Beijinhos

  2. Cristina

    Tambem acho! se eu não me rir, quem se irá rir por mim? ;o)

    Beijo e Bom DIA!!!

  3. TheOldMan

    Vai passando lá pela tasca, que sempre vais podendo rir de vez em quando… Quanto ao resto, nunca somos a pessoa que se deitou ontem á noite. E felizmente, senão continuávamos cheios de sono… 😉

  4. Maré

    É para lá de estranho. Espantoso como muitas vezes relemos umas tretas que escrevemos, algumas até perdidas nas gavetas e bolsinhas de carteira onde ficaram esquecidas e nem na letra nos identificamos. A mim dá-me para rir exactamente. Aliás, adoptei mesmo a corrente do riso tolo.

    Mas também te digo minha linda, isto é do caraças, mas de repente, sem nem darmos conta, voltamos lá, nem que seja só de vez em quando. E depois, a poesia não tem que ser uma coisa séria. Já Bocaje me fez disparar boas gargalhadas.