Já os oiço nas paredes. Nem sequer tenho a certeza que estejam dentro dos fios eléctricos, tal é o ruído do esforço que fazem, para manter o silêncio. Vêm com fúria pela ausência prolongada, por encontrarem fios cortados e buracos tapados. Imagino-os nas esquinas, armados até aos dentes, com os capacetes e óculos especiais de visão nocturna, tudo em verde ou roxo como nos filmes, naqueles sinais com os dedos, um, dois, cinco, vocês por ali, nós por aqui, dividem-se e multiplicam-se, ganham mais uma passagem por um fio. Pés de algodão (porque está calor e as botas de lã fazem mais atrito) mas oiço-os à mesma, já os conheço, quase adivinho a parede onde estão, é apenas uma questão de tempo, embora saiba que, quando atacarem, haverá sempre uma sombra de mim que dirá olha! Não era bem naquele fio, era noutro.
Só os oiço, ainda não os vejo ao canto do olho depois de os fechar com força. Já pensei instalar na córnea um star rover para perceber exactamente de onde vão aparecer mas, por qualquer razão, o meu cérebro não apanha o wifi de casa e sem gps nada feito. Temo que os capacetes dos turbanões tenham um sistema mais sofisticado e captem as minhas ondas nos últimos microsegundos antes de os ver. A ser o caso, não tenho grandes hipóteses a não ser escrever um fio de terra que os conduza a outra parede e esperar que o truque resulte.
Claro, tenho comigo uma arma de destruição maciça que eles acham sempre que não vou usar (também me conhecem muito bem):
Posso desinventá-los a qualquer momento.
…
Embora me custasse, óbvio.