De qualquer coisa num saquinho, tília, cidreira, camomila, uma colher de mel. Uma caneca de publicidade, que insisto em usar desde os primeiros chás nocturnos que escrevi, o mesmo piano do destino de Amelie em banda sonora, a tentar agarrar outro tempo em que outra pessoa era eu. Depois, um gesto brusco, corre chá pelo chão e eu (tão ainda eu) ignoro o chão e registo o facto.
Levámos a cadela à praia, outro facto. Com frio e luz já sem sol, quase deserta, areia molhada com pegadas de pessoas e cães, um regador azul atirado, pneus presos nas rochas. Um rapaz e um cão a correr para cá e para lá, numa trela de 15 metros, não, não a soltámos, outro dia. Aos poucos, eu (tão ainda eu) sou aos poucos, mas se calhar não era. Não me lembro, mudei talvez, também aos tão poucos que não dou por isso. Às vezes fazemos coisas, há quem diga acontecem, são sortes ou azares, mas recuso-me a aceitar um destino aleatório de acasos, todas as minhas escolhas foram escolhas, sem saber, é certo, mas escolhas sempre, recuso-me a não me responsabilizar, mas sei que seria mais simples culpar qualquer instância exterior, às vezes fazemos coisas que não são aos poucos, são aquele momento (aquela escolha) e o que vem depois, muda-nos aos poucos. E nem sempre é o óbvio, pode ser outra coisa, as coisas todas emaranhadas em fios quase da mesma cor e já não se percebe que princípio (qual coisa, qual escolha) era o deste ou daquele fio. Uma praia cheia de pegadas na areia (e parecem tão aleatórias mas foram escolhas) e eu a tentar traduzir fios, um exercício quase inútil, o facto é que (tão ainda eu) estou aqui.