100nada



Diário de obra (1)

(aguentem-se que vai ser uma novela daquelas de duzentos capítulos)

Um gajo como eu que é uma rapariga economista sem grande experiência de obra a não ser na parte financeira do caderno de encargos e mesmo assim vamos indo pensa que entram uns tipos em casa para mudar as janelas e tá a coisa feita. Não sabe que é preciso mudar os móveis que estão perto das janelas e, eventualmente, tapar um bocado o resto da tralha porque aquilo faz pó.
A parte do mudar e tapar está sob controlo (mais ou menos): a parte do pó fica para o próximo capítulo.

Agora umas notas avulsas: uma pessoa pensa que pastilha (aquele mosaico de piscina) é uma coisa que se chega à loja, estão lá umas amostras às cores e é aquela que nós queremos, embrulhe aí uns metros quadrados e entregue no sítio tal.
Errado.
Primeiro quer mate ou brilhante?
Segundo, dentro do brilhante, há mate e brilhante. E também folheado a ouro, mais ou menos mil euros/metro quadrado, muita saída para o Bahrain. Feio todos os dias, diga-se, mas enfim, há gostos para tudo. E orçamentos, claro.
E depois, abrem um catálogo com montes de quadradinhos de vários tons de várias cores e de vários tipos e dizem, então agora escolha a mistura. Qual mistura, digo eu? A mistura. Para cada m2 qual é a percentagem que quer de cada uma das cores.
Então e como é que ficará, pensa um gajo e a seguir escolhe umas cores e diz hum meta 10%, não, 20%, hum melhor 30% deste e deixe cá ver deste se calhar uns 35% ou ficará melhor 40%? ou deixe-me pensar, não, não quero liso, ora se se pode misturar claro que eu misturo e depois logo se vê! Ora que se lixe, depois logo se vê! É isso!

Não faço a mais pálida ideia como vai ficar. É do caráças, isto, não é? Não-faço-a-mais-pálida-ideia-como-vai-ficar.

Começo as obras com paredes total mistério.


Amanhã

(amanhã, amanhã mesmo, não é amanhã de manhã que já é hoje) é Março. Março. Março é o fim do inverno. Março é um mês que já se pode dizer quase primavera, uma coisa mais composta

– agora deste em dar o estado do tempo, foi?
– Caneco! Ou desandas ou assim não há condição para blogar!


Estava aqui a pensar

é isso.
Estava aqui a pensar. É o que eu faço, o que tenho feito. Estar aqui a pensar. Há coisas que um gajo não lhe apetece naquela altura e então pensa noutra coisa qualquer. O que eu tenho feito, é estar aqui a pensar. Isso requer um esforço do caneco e não me sobra energia para grande coisa mais.

(epá e quando não perceberem o que eu escrevo, estejam completamente à vontade para comentar, hein? Não há problema absolutamente nenhum! Um gajo passa-se um bocado, mas no problemo, se não percebem o post porque raio hei-de perceber eu os comentos? Não é?)

– hás-de fazer grandes amigos assim…
– ah tazaí?
– tou sempre
– olha e se fosses pró real esse mesmo?
um gajo não poder (poder, pode, mas enfim…) escrever real caralho é fodido…
– andas cá uma não-me-toques-que-me-desafinas
– epá não chateies
– escreve lá mais um palavrãozinho, anda
– mas tu achas-te piada, não achas?
– e tu, não te achas piada, não…?
– …
– (amua sempre, hehehe)




Escrito com a ponta dos dedos

É sintomático. Poderia escrever ali em cima “à flor da pele” que é o que é mesmo, mas não me apeteceu. Apenas indico para melhor compreensão da ideia. E é sobre isso, ou talvez não seja bem, com a ponta dos dedos apenas quer dizer que vai o que for e encolho os ombros ao resto.

Hoje aconteceram (várias) coisas, como todos os dias, das quais não me apetece falar; mas há duas, duas que aqui registo, nada a ver uma com a outra, mas estão misturadas, não no conteúdo mas na minha atitude perante as mesmas (e talvez alguma mágoa de ser assim, nem sei, nem sei).

Uma (vamos à mais simples): faz 20 anos que morreu Zeca Afonso (ou fez, que já passa da meia noite). E se há uns anos, já aqui, escrevi também sobre, hoje fui acompanhando a Emiéle nos seus passos e textos sentidos, quieta no meu canto. Não é que não me toque, não é que me tenha desligado, é que deixo as palavras para quem as diz alto e fico-me no meu silêncio, parece-me mais acertado a mim mesma. Há qualquer coisa que quase me obriga a ser não uma pessoa mais silenciosa, mas uma pessoa mais reservada. A idade, talvez, a maturidade, o guardar cada vez mais ferozmente as minhas emoções para fora do papel. Para onde? Não sei, para dentro? E porque não? Já não sinto necessidade de as atirar ao ar e ver onde vão parar. Guardo-as agora (em vez de estoirar com elas) com cuidado, até; não posso dizer, organizadamente, não, isso nunca, mas aquele cuidado com que atiramos todos os papéis para dentro de uma caixa, ao monte, sabendo perfeitamente que lá estão. Digo, desligo-me e se calhar parece mesmo e se calhar até pode ser, mas para mim, em mim, não desligo nada. E daí a outra

segunda coisa; que é tão complicada e essa, não, não é atirada para dentro da caixa no monte de emoções, essa tem lugar certo, só dela e de mais ninguém, na linha das minhas queridas pessoas que amo (amo sim, é essa palavra mesmo que aqui quero usar) profundamente. Há pessoas que eu amo profundamente. Esta é uma delas. Não parece, eu sei, parece um sentimento desligado mas não é, não é para mim, provavelmente deveria ser menos desligado para essas pessoas. Mas é como eu sou, não sou capaz de mudar, não sou de grandes demonstrações a todo o momento, fico de longe…é mau, mas caneco! Não tira nada ao que eu sinto.
E hoje falei com ela. Falei com ela. Que força naquela mulher, meu Deus! Disse-lhe, quando for grande quero ser como tu e ela a rir e eu a pensar que um gajo tem uma sorte do caráças na vida em ter amigas assim que mereciam bem mais de mim do que este meu amor calado e (aparentemente) desligado.


BD heroines

O AA escreve sobre a Laureline (em resposta a um magnífico post do Corta-fitas , que descubro colecionador da revista Tintin e mais não é preciso dizer para que alguns dos meus leitores cliquem já no post e nem leiam o resto do meu).

eu cresci a colecionar a revista Tintin (já escrevi aqui sobre isso, com o link para o BD oubliées). E estas coisas são giras. Uma pessoa pensa logo, ora ali está uma das minhas heroínas de juventude

quais eram as outras?
(vontade doida de ir ali à estante, que esses volumes todos andam sempre comigo para todo o lado onde vou)

Logo a que me ocorre, directo, a rapariga que eu gostava de ser quando fosse grande. Whip Rafale e não encontro uma única pic na net…a única mulher na equipa Bruno Brazil.

(afinal está aqui, em grupo, mas gosto mais dela no meu album favorito “Os Olhos sem Rosto”)

Esta Capella também tinha imensa graça.

Hum. Realmente não tenho grande paciência para mulheres. Ou não tinha na altura. Não me consigo lembrar de mais nenhuma. A princesa do Chevalier Ardent é uma pata-choca. A Comanche não está mal, mas tanta independência é demais; Olivier Rameau, a loira é um bocado burra…ah! Há uma rapariga fabulosa no Corentin, “Le royaume des eaux noires”: a que não fica com ele. Prancha sublime essa. Está visto que tenho que arranjar um scanner…

(era capaz de ficar até de manhã a escrever sobre isto)