100nada

De bandarilhas, o touro a pilhas

Confesso que não sou uma pessoa contra a tourada. (crucifiquem-me depois, para acabar primeiro o post). É uma daquelas coisas que uma pessoa quer ser contra. Que é contra, em teoria e na prática também é. Que é um espectáculo deprimente e horroroso de ver, de assistir ao sofrimento de um animal, enfim, eu entendo tudo isso. Racionalmente. É como a porra da religião que nos caiu em cima, em certa altura da pré-adolescência, que assim que apareceu, logo desapareceu à primeira missa em que não se podia entrar de vestido de alças. Um gajo não acredita, mas caneco, por outro lado enfim e tal (e lá vem aquela coisa da catequese que faz duvidar um bocado da certeza da ausência de fé). Ou seja, quando se leva com as coisas em cima numa idade sensível, é difícil deitá-las para o lado e eu, confesso, sou uma selvagem e gosto de touradas. Nunca vi nenhuma ao vivo, mas gosto, que se há-de fazer, não as vejo, não assisto, não defendo e não educo no gosto. É o que me é possível. Adoraria conseguir ter mais convicção que isto, mas não tenho e não invento só porque é suposto.

Nada disto impede de, como disse acima, ter convicções fortes na educação das gerações de futuros adultos, que não tiveram televisão a preto e branco e tourada em família ao fim de semana, directamente da Figueira da Foz ou do Campo Pequeno. Que sejam mais humanos para os bichos do que eu sou, parece-me ser esse o caminho certo (tirando baratas e mais umas quantas famílias de insectos que só à sapatada mesmo).

Eis-me portanto numa grande loja de brinquedos (que por mero acaso fica debaixo de uma praça de touros) já na parte de embrulhar os ben10’s mais baratos que no continente (fica a dica) e a olhar para a parede da frente, onde estão montes de coisas pequenas, bonequinhos e colecções e homens aranhas e mais umas quantas coisas. Tudo às cores, até mais para o lado dos côr-de-rosas com brilhantes, quando uma mancha preta me chama a atenção.

São várias caixas empilhadas com um animal preto dentro. Olho melhor e vejo que parece mesmo um touro. E, nessa altura, vejo o rótulo: Bullfight. É mesmo um touro. São touros, pretos, com cornos e bandarilhas. E que, é anunciado na caixa, funcionam a pilhas.

Fico ali, pasmada, a olhar, sem acreditar no que estou a ver. Uma coisa é eu ser uma selvagem que levou com touradas quando era miúda e ainda acha bonito. Outra, completamente diferente, é saber que se vendem touros para crianças, a pilhas. As pilhas, não sei porquê, ainda me ofendem mais.

Depois, saco do telemóvel, mando uma fotografia a uma amiga que essa sim, é de convicções fortes.

E saio dali a pensar, seriamente, que enfim, os brinquedos são de facto mais baratos que no continente, mas o risco, tem que ser traçado em algum lado. E acho que o meu é este. Não me apetece muito, sinceramente, associar brinquedos a touradas. Muito menos de brincar a pilhas.


Chuva em Novembro, Natal em Dezembro

(todos os anos escrevo um post com o meu provérbio favorito)

E agora não me apetece abrir o babyblog. Vai aqui mesmo, depois “transfiro”.

Entra o Natal, assim, a lembrar-me que o Natal é tudo aquilo que se quiser chamar de nomes alguns até feios, mas quando é visto pelos olhos dos miúdos, é NATAL, com todas as maiúsculas, todas as letras enormes, com bolas penduradas e laços e embrulhos. Não de Natal, ainda, presentes para amigos, embrulhados no chão, com metade do rolo da fita-cola, acho que ainda precisa de mais um bocadinho aqui, main, também acho que sim, querido. E depois, faz embrulhos de todas as coisas que encontra, com os restos de papel. Embrulhos com presentes e que ainda têm surpresas, rebuçados metidos pelo meio do papel, mais fita-cola, e eu digo, vais ser uma grande ajuda este Natal, é uma grande ajuda em tudo, já, tão pequeno, tão grande, crescem tão depressa. Gostava de ainda acreditar no Pai Natal, diz-me, mas depois acrescenta: e acredito! e eu, claro que sim, porque não? Também eu acredito, nas coisas boas e felizes, nos duendes a pensarem já que daqui a nada algumas das coisas da lista – tens que pensar em escrever a carta! – desaparecem (é sempre assim) e

entramos no centro comercial e é já Natal. Oh que bonito! Embora nem seja muito, não sou muito daquelas cores, é mais verdes e vermelhos mesmo, mas que interessa isso? É quase quase Natal, não tarda nada. Como é que fizeram isto de um dia para o outro? Lá aparece a parte prática, que depois se desvanece nos dois baldes de pipocas. Não, um para cada um! E eu, a celebrar filmes ainda da Disney, mas já com gente mesmo e legendas (consegues ler tudo? se passarem devagar, consigo) dois baldes de pipocas, seja, um volta para casa quase cheio (depois levo para os amigos amanhã) e ele, ainda pela mão. Aos saltos, a entornar as pipocas todas, mas ainda pela mão. Mas já fora do carrinho das compras, no supermercado, até não resistir e surfar lá dentro (assim cais! pra baixo, já!) e

depois fazemos planos para estantes novas e amigos cá em casa aos fins de semana. Se calhar até podem ficar a dormir, não achas? E eu acho que sim.


Novembro

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liguei aquecedores

nullcomecei novas arrumações, já que o camião tir (era bom, era…) do Ikea chega no fim desta semana

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fui ao cinema, onde fui confrontada, mais uma vez, com a lógica implacável das crianças “acabou de dizer que não sabia dançar e agora tá ali às voltas, que estupidez!”

(dois baldes de pipocas são demais! Eu já sabia…)


Isto vai dar pano para, pelo menos, uma semana de comentos

Ora então vamos lá a saber as vossas opiniões (não precisam de ser personalizadas, podem ser em abstracto, se têm receio que se tirem conclusões pessoais e tudo o mais):

– O que é que as caríssimas leitoras e os caríssimos leitores pensam da depilação integral masculina? (e não me venham inocentemente perguntar “mas estás a referir-te a pelos nas costas?”; não, não estou e, uma vez que pergunto, deixo já a minha opinião sobre o assunto: nada contra, mas acho uma coisa bastante apaneleirada, à qual não acho a mais pequena graça).






e começo a trazer os livros

que cheiram a livros e isto de os trazer, oferecidos, aflige-me. É organização apenas, eu sei, nada mais que isso, nada mais que isso…

Lembro-me de ficar chocada com as pilhas no chão, há um ano ou dois. Que se tinham que tirar dali e todos em montes no chão. Quando eu tinha a tua idade também era capaz de ter ficado chocado (não, quando tinha a minha idade, já tinha vivido tanto, tão mais que eu, não tinha nada ficado chocado), aliás comprei-os e li-os, mas são maus, não prestam. Não vale a pena guardá-los. Queres? Leva, mas aposto que não os vais ler. É lixo, e eu chocada, mas a aprender. (tá a ver, ainda estou a aprender). Não há tempo para ler todos os que gostaríamos, mesmo que tivéssemos todo o tempo, aprendo. Trago sacos, mesmo assim, escolho das pilhas, esse é uma porcaria, para que é que levas isso? Só vai ocupar espaço, trago sacos ainda naquela ideia (infantil, é um conceito infantil)

[desculpe, eu sei que é católica praticante mas isso é catequese da terceira classe; pode ser o que lhe ensinaram mas não é isso que significa]

(iguais os dois, ateu e jesuíta)

quase aposto que os outros voltaram para as estantes

naquele conceito infantil que os livros, mesmo os maus, não se deitam fora. E cresço muito depressa, cresço muito depressa (embora tenha ainda os sacos algures, agarrada a uma livreira “catequese da terceira classe” da outra que fica branca com aquela resposta) mas percebo

é o primeiro passo para interiorizar, parece-me

ainda não sou capaz de ser ateu ou jesuíta

e os oferecidos guardo mesmo bem.