100nada

A corrente do "eu já"

Anda por aí uma corrente do eu já fiz isto e aquilo e até já vi posts em blogs que leio e pior! em bloggers que me visitam, mas a ver se me convidam, népias, tristeza, ninguém se lembra aqui da surda provisória (agora em estado febril, deve ser efeito do antibiótico, estava-se mesmo a ver que ia dar merda).

Mas não quero cá saber e portanto aqui vão alguns dos meus eu-também-fiz-coisas, que não sou uma apardalada a ver a passarada.

eu já fui a correr (e berrar palavrões) atrás dos ladrões que me roubaram a mochila na praia de Ipanema (e eles devolveram-ma sem facadas e ainda pediram desculpa)

eu já chamei a protecção civil, os bombeiros e a PSP para me tirarem um bicho de dentro de casa e a PSP veio mesmo.

– eu já fui blogger anónima em troll cor de rosa, em troll ordinário, em troll gaja boa, em troll trolha-de-leste e agora não me estou a lembrar de mais nada, assim de repente, mas acho que foram mais.

– eu já fui e continuo a ser uma criatura com um ego do tamanho do mundo, que acha que as três coisas acima arrumam com todas as outras que toda a gente já foi e já fez e isso de já ter sido, de qualquer forma, não interessa porra nenhuma, que o que conta é o que se vai ser depois. E o que eu vou ser agora é uma antipática que também não passa esta corrente a ninguém, ide buscá-la como eu fiz!


Ao longe, o mundo quase em silêncio

Toma contornos de coisa longínqua, este mundo assim, ouvido lá ao fundo, muito em surdina. Vozes abafadas, sons quase inexistentes, um sossego total. Os putos a berrarem e eu, zen, sem distinguir muito bem, naquela, ainda não será grave, que mal os oiço. Uma semana de calmaria e mundo lá longe.

Uma puta de uma otite, das grandes, é o que me diz a médica das urgências (ela não diz “puta” mas digo eu) quando começo a ficar surda do segundo ouvido, só me oiço respirar e muitos sons estranhos entre zumbidos e plocs, a coisa começa a doer e eu lá vou saber de opinião especialista. Nos dois ouvidos. Dentro em breve, não só vou ficar a ouvir muito bem como vou berrar muito alto todos os efeitos merdosos da porra do antibiótico que, pela segunda ou terceira vez em vinte anos, sou obrigada a tomar.


Passarada de inverno

Entre as chuvadas, alguns momentos de céu branco e luminoso, o sol a bater do lado de lá das nuvens. Tudo o que não é cinzento de ramos sem folhas, verde, muito verde, um verde contrastante e brutal, a relembrar que a vida ali está, debaixo da terra, que as minhocas saem nessas alturas. Aproveita a passarada para sair também e ir almoçar, sem ligar pevide à espectadora imóvel que fuma cigarros no alpendre. A passarada, digo eu, que até há tão pouco tempo chamava pássaros a bichos com asas que voam, piam e, quando muito, eram talvez pardais. Mas o tempo convida à contemplação e ali estou eu a distinguir pássaros, esses até agora pardais, sem me saber sequer interessada até ali.

Que me apareceram de repente, como são todas as coisas que nos chamam, de repente, a atenção, ou foram aparecendo ao longo dos dias, primeiro os corvos, em tempo cinzento sem luz, enormes e pretos, já os sabia por perto, mas o inverno distingue melhor, sem grandes distracções de formas ou cores. Em silêncio, que nada mexe com corvos por perto, grasnam e ficam pousados numa árvore durante muito tempo, investigam os arredores e depois, lá se atiram à terra, um após o outro, quando tudo parece seguro, como se algum pássaro se atrevesse a meter o bico de fora e eu pasmada, achando-os belíssimos e uma injustiça que sejam pássaros de má sorte, mas aquele feitio talvez não ajude, a seriedade e o descaramento negro à mistura. Levantam voo depois, quando lhes parece que alguma coisa mudou de sítio, um ramo talvez, que se move com o vento e desaparecem lá ao fundo. E, nem trinta segundos e o verde enche-se de…pardais? Não, não são pardais, são alvéolas, sei depois, aos montes, muito pequenas e saltitantes, alegres agora, depois de escondidas, cheias de fome talvez, terem esperado pelo desaparecimento dos corvos.

E já os pardais aparecem e agora os distingo, nada parecidos afinal, tão diferentes, bastam uns dias e como é que chamei pardais a todos, era passarada, agora têm nomes e conheço-os e estão ali todos. E depois, um dia, um dos choupos, só ramos, pejado de mais pássaros pretos, são todos pretos em fundo branco, com o verde do chão, não há mais cores e no choupo, conto-os, dez, quinze, vinte? Não consigo distinguir, um choupo, só um, carregado de pássaros, os outros todos vazios. Levantam em bando e voam sobre o verde, pousam mais além, sempre juntos e mais uma volta, como se soubessem que estão a ser vistos e admirados. São estorninhos. Estes não se vão embora no final do verão, ficam durante o inverno. Aves de arribação, mas vão ficando, talvez gostem do sítio, talvez o inverno lhes seja menos duro que o voo para sul, talvez se tenham atrasado alguns, um dia, foram ficando, um dia e depois mais um, de cinzentos ou céus brancos, dias de silêncio cortado pelo grasnar dos corvos e pelas minhocas que saem após a chuva.

Pudesse eu ser estorninho (até comia minhocas se fosse caso disso).


Isso sim são verdadeiras cerejas em cima do bolo!

Depressa, querida, conta-me tudo. Quem é, quem é, esse que parece melhor que a encomenda, esse “alguém conhecido na blogoesfera que optou por um outro registo” mas em versão anónima, que isso sim, é blog de se ler com gosto! Blogger sério de direita (ou será de esquerda?), pater familias mais que respeitável, que mantém a distância fria enquanto debita sexo anónimo? Oh meu Deus e divide foder e fazer amor? Cada vez melhor portanto! Faço ideia das assanhadas, coitado do rapaz, nem sabe o que o espera, ah conta-me tudo depressa, antes que se vá abaixo das canetas e apague o blog sexy. Quero saber tudo, tudinho! Mmmmm, desviar um rapaz honesto que já se meteu a jeito pelo caminho da perdição, que beleza de coisa, vamos a apostas? Vai apagar a coisa ou papar as leitoras? Que achas? Ai estou em picos!



Um Natal Feliz

E cá estamos, todos, quase quase na consoada. Rabanadas e bacalhau e batatas cozidas, belhoses e sonhos e presentes embrulhados com papéis de cores de Natal. Estrelas nas árvores, bolas e o Menino Jesus do presépio lá apareceu no fim, depois do drama do Jesus desaparecido. Por aqui vamos vendo Nárnias enroscados em mantas no sofá e o estaminé dos embrulhos (que os faço eu, quase todos; porque os embrulhos são tão importantes como os presentes, é a surpresa e o mistério e o monte do sapatinho e das meias com os nomes deles, tudo feito com prazer e gosto e cada coisa é uma coisa importante, mesmo que dentro não seja nada de grande coisa) já arrumado, tudo tratado. Encontro estrelas à última hora, com luzinhas, uma para cada um, nos lugares à mesa do dia 24. Sei já que os dias estão lindos e as noites geladas e quase consigo cheirar a casa daqui de longe.

Temos uma sorte extraordinária, nós. Uma família unida, amiga, que se adora, que se junta e todos nós, desde aos mais pequenos até à Avó, que fez noventa anos, adoramos os nossos Natais que começam oficialmente a 24 (embora os preparativos comecem muito antes) e se prolongam em semana seguida ou quase até dia 1 de Janeiro. Com calma e com tempo, com peru até aos olhos, com visitas às casas uns dos outros, com frio e geada e com enormes sorrisos quase permanentes. Felizes para sempre, como me desejou esta noite o meu filho: “o que eu mais queria era que a nossa família e todos fossem felizes para sempre”. Porque não? É Natal, podemos desejar o que quisermos. Felizes e em paz, parece-me lindamente bem.

Como todos os anos, vou recebendo todos os votos de feliz natal de toda a gente e, como todos os anos, daqui a nada já respondo. Daqui a nada, mas depois já imersa em família mood total, há uma coisa aqui e mais outra ali e o alisar de um tapete ou o fechar de um saco de coisas que não se podem ver ou uma roupa mais quente que ainda falta lavar e secar. Egoísta e enfiada na toca, virada apenas para quem mais gosto, não por ser Natal mas porque no Natal ao menos tenho essa desculpa de me dedicar só a quem mais quero, o resto do ano alarga-se o leque, mas agora, agora não. E depois, é preciso que tudo se mantenha, a magia e o encanto e os filmes debaixo das mantas até mais tarde porque é tempo de férias de escola. Coisas assim, desculpas talvez. Sirvo-me do blog, pragmaticamente, para agradecer e retribuir, Feliz Natal a todos. Sonhos doces, dias felizes e paz na terra ou, pelo menos, nos espíritos de quem está mais perto. Abraços amigos e sentidos. É o que vos desejo a todos, meus queridos amigos, que tenham um bom Natal.




Vejam esta pérola que encontrei nos comentos!

O Tiago Ulisses fez ali uma visita aos comentos e deixou esta ameaça:

“Acho bem que siga para natal e bem depressinha porque tanto a senhora como sua amiguinha Hipatia acima vão ser processadas por plágio (matéria utilizada sem a devida autorização dos autores). Comecem a pensar em apagar o blog bem depressinha. É só um conselho amigo. Dentro em breve seguirão as más noticias.
T.U.”

Bom, estou cheia de medo e a pensar seriamente em apagar o blog! Acho que deve ser levada a sério uma ameaça destas, não vos parece? Reparem, para quem não se deu conta, este senhor é aquele que apareceu no blog abaixo indicado, o tal que plagiava textos e foi apagado, a oferecer os seus préstimos à autora com as provas dos tais plágios das pessoas envolvidas. Agora vem aqui ameaçar-me a mim e à Hipatia, mas é até queridinho, pois dá-nos a hipótese, em “conselho amigo” de ainda conseguirmos fugir à justiça, apagando nós mesmas os nossos blogs. Acho muito simpático da parte dele! Mas enfim, embora agradecendo o cuidado do senhor, vou mesmo ficar à espera da citação do tribunal, que eu gosto sempre de coisas absurdas e divertidas.