Começaram as jantaradas de natal e dói-me a cabeça, acordei agora…(4 da tarde? 4 e meia da tarde? ai!)
Eu sei, não tenho que dar explicações
mas gosto sempre de distribuir abraços e beijos.
Muito simples. Não me anda a apetecer dar conta da minha vida. Um gajo desliga um bocado, faz-lhe bem, tem mais tempo; diverte-se mais, pensa mais, diz mais asneirolas, é melhor onda.
Mas estamos sempre por perto. Eu, myself and I, que isto é uma catrefada de gente num cérebro só (sou muita boa, pá!)
A tal música "demais" de ontem
Ora então era isto: the 80’s channel, dot nine seven seven
Para saudosistas, claro.
Um avatar
é isto, ó caramelo! (a criatura de cabelo à sportem, ai, meu rico sportem…só me dá desgostos…)
E não trates mal as leitoras!
Não se peguem todos, que eu tou de olho em vocês! Ah pois!
(e beijos que são uns todos uns queridos)
(mas a música lá tava demais, demais)
Eu sei
que as minhas merdas são mesmo só merdas. Que comparadas com merdas muito piores são umas merdas de treta. Mas, caralho, são as minhas e, carregadinha de espírito natalício de partilha (eis-me aqui a partilhar vernáculo) e de altruismo ou lá o que seja, estou-me borrifando para que as merdas dos outros sejam muito mais graves que as minhas: que as resolvam, que é o que eu faço também às minhas, ou farei ou então não, ou o caneco. Não é “que se foda!”, mas vai lá dar. Pelo menos, ao “já me fodi” vamos para bingo.
Nem os palavrões aliviam.
(não falem comigo que estou um bicho)
Só merdas
Não falem comigo. Preciso de ficar quieta.
Soleiras
Algum do tempo que me pertence, gasto-o sentada à tua porta; e, no entanto, que espanto! se encontro alguém adormecido, cansado de esperar à minha.
Semáforos vermelhos e as montras do Rossio
Os meus cheiros matinais são sempre os mesmos: torradas e café acabado de tirar, o primeiro tabaco do dia, gel de banho e perfume em mim, champoo sonolento nos cabelos do meu filho. Depois há o cheiro da terra molhada, dos cocós de cão, de bolachas comidas no carro, de escapes e maresia diluída.
No semáforo vermelho algures em Alcântara, janela do carro aberta, entra um cheiro infernal pelo errado que é, àquela hora, aquele cheiro: a fritos, a alguma coisa a ser cozinhada em muita gordura. Que antes do almoço, um cheiro daqueles possa obrigar alguém a entrar naquela ou noutra tasca e pedir o prato do dia (quantas vezes já me aconteceu, ir atrás de bifanas ou sardinhas, dessa maneira!), é normal; mas, antes das nove da manhã, é de fugir aos vómitos.
Ainda o semáforo não caiu para verde e já eu estou a lembrar-me da 1º de Dezembro.
Para quem não sabe, a Rua 1º de Dezembro é a que fica por trás do Rossio, melhor conhecida pela “rua onde fica o Celeiro”. Já menos gente saberá que a rua continua e, na verdade, aquele bocadinho que liga o Rossio aos Restauradores ainda é a 1º de Dezembro. E ali há outro semáforo, daqueles que está ligado para os peões exactamente o tempo de atravessar quase a correr. Sei bem disso porque, durante uns anos, atravessei essa rua várias vezes por dia.
De um dos lados, na esquina da 1º de Dezembro, quase já de frente para a Estação do Rossio, há um café. Repare-se. Há mais cafés ali, entre aqueles edifícios, alguns deles lindíssimos; o Rossio é o coração da Baixa de Lisboa, um local que é um pouco estranho, com variações espantosas em lojas e pessoas. Mas, em insólito, nada ganha àquele café de esquina: se uma pessoa atravessar a rua do lado de quem vem dos Restauradores para o Rossio e for a andar sempre em frente até bater na parede, não bate numa parede. Bate na montra do café. Na montra que fica ao lado da porta.
E, se olhar para dentro da montra, aquilo que vê é uma frigideira de um metro de diâmetro onde nadam bifanas em molho. Uma montra de bifanas em gordura, às oito da manhã, numa zona nobre da cidade.
Que me desligo e por aqui me penitencio
É verdade que sim, que me desligo. Nunca sei quando e nem sequer lhe noto o princípio. Um dia digo menos e no outro já quase nada, passam os dias, não conto que passaram tantos e eu calada, desligada. É um silêncio de retiro e de me retirar da frente e me colocar à margem. Não é importante que seja esta ou outra, calha que é aquela, calha que é naquele momento. Não sei porque é assim, mas sei que é desde que me conheço. Saio um tudo nada, aparentemente ainda ali estou (depois já não) e tudo parece exactamente a mesma coisa para quem está perto (mas sabem que não é exactamente a mesma coisa, que me desliguei e, quem me conhece bem, não liga, nem me invade o espaço, deixa correr que eu já volto).
Egocentrismo, sobrevivência, há quem a encontre noutro lado qualquer. A minha depende sempre dos meus silêncios interiores, dos meus interruptores. A intensidade com que aprecio os dias inteiros e o meu equilíbrio é mantido por extremos. A minha felicidade precisa desse lado de sombra, de solidão. Uma e outra, encontro-as em todo o lado, debaixo das árvores e dentro dos livros, nas primeiras chuvas, nas ventanias fortes, nos dias azuis ou nos dias cinzentos, nos textos que leio, nos textos que escrevo, nas coisas que vejo, nos locais onde passeio, na realidade e na imaginação. Vivo muito bem comigo, tão bem que – e por aqui me penitencio – não é nada, mas nada fácil viver comigo seja a que título fôr. Não sou capaz de me prender e desligo quando me vejo demasiado amarrada: quem é assim, como eu sou, falha sempre a alguém (a todos menos a um que vive dentro do meu abraço), porque pode muito bem existir um momento coincidente em que alguém me chama e eu, eu já nem oiço, perdida dentro do lado de lá.
Por aqui me penitencio (mas não mudo, é assim que eu sou e não posso ser de outra forma).
tu-ru-ru-ru
i’m a virtual girl
tu ru ru ru
in a virtual world
(é o ótolinque, pá!)