Já os dias tinham recomeçado e voltado a desaparecer e, fosse a luz tão clara que quase os cegava, fosse noite escura já sem lua, continuavam lá no alto, agora sempre em fila cansada, quase exausta, olhos postos no da frente que via um qualquer horizonte que aos outros lhes parecia sempre o mesmo: um mar que nunca mais acabava. Esse, o da frente, ia tentando animar que sim, que era só mais um dia, dois, já faltava pouco, que alternativa lhe restava? Nenhuma, só o esconder a dúvida, apresentar certezas absolutas e a manada seguia em fila.
Lá em baixo desfilavam ilhas, pouco mais que pedras, nada que servisse de paragem e eles voavam lá em cima, sobre calhaus plantados na água, um barco por vezes, um marinheiro que olhava para o céu e esfregava os olhos, as nuvens a pregarem partidas em forma de elefantes.
É nestes cenários, também nestes, em que o céu parece estar cheio de elefantes voadores em direcção a parte incerta, em que os marinheiros contam histórias nas quais ninguém acredita, em que todas as ilhas são apenas de rocha parda, que aparecem as coisas mais extraordinárias: esta surgiu lá em baixo, no meio de um dia de vários azuis, um verde a destacar-se, um ponto que foi aumentando até tomar a forma de uma costa cheia de árvores e de rios, uma miniatura de ilha onde na verdade os arbustos eram contados com os dedos de uma mão e os riachos nem isso. Mas as perspectivas e as expectativas enganam e aquele pedaço de terra, por momentos, pareceu-lhes o paraíso, o oásis que se deseja desesperadamente.
Os elefantes pararam no ar. Pairaram, melhor dizendo, em círculos sobre a ilha; sempre em fila. Consultaram-se uns aos outros em silêncio e o da frente ia começar um movimento com a cabeça, as orelhas um pouco murchas; mas não conseguiu. O tempo requerido para abanar uma cabeça de elefante é demasiado longo comparado com o tempo que outro elefante demora a sair da fila e a picar sobre a ilha.
Lamento. Lamento mesmo muito, eu, o autor já quase de lágrimas nos olhos, os elefantes em estado de choque: todos nós sabemos o que vai acontecer. Todos nós olhamos para baixo e vemos um elefante feliz, a voar alegremente, orelhas estendidas de antecipação, a tromba esticada para mais depressa tocar nas folhas, para se encher de água, de descanso, de finalmente repouso. Voa cada vez mais depressa sem olhar para trás. Não pode ver a fila de elefantes que voa o mais depressa possível, sabendo todos eles que, mesmo à velocidade máxima, será sempre tarde demais, aquele leva já um avanço fatal.
São assim as coisas e acontecem em segundos. Os segundos que demoram o mais feliz dos elefantes a colocar quatro patas em terra, desatar a correr como um doido e, finalmente, olhar para cima. Sobre ele paira uma fila de elefantes que voam em círculo. Espanta-se que não aterrem. Chama-os aos gritos, venham venham! de que estão à espera? e os elefantes desatam a chorar. E não há coisa mais triste no mundo agora, este onde chovem lágrimas de elefantes sobre um elefante ainda intrigado, parado, sobre uma ilha paradisíaca, uma ilha pequena no meio do mar, uma miniatura de ilha onde não há sequer uma pista para aterrar.
Nem para levantar.