100nada

04.04 am

Marcava o telemovel, unico relogio que uso. Nao posso dizer que foi exactamente ‘as 04.04 am que me lembrei da palavra “telepac” (sim, eu sei que sou insistente nas minhas obsessoes: senao nao eram obsessoes, certo?)mas tera’ sido uns momentos antes.
Eu gosto destas coisas assim, 04.04, numeros giros, iguais, seguidos, um gajo vai logo ler significados, principalmente quando esta’ com insonias. Essas nao eram por causa da palavra, como e’ evidente, mas serviram para deixar aquela pesquisa seguir o seu rumo de forma mais cerebraloffline.
Nao cheguei a conclusao nenhuma. Sobre o significado. Agora fico aqui meio sem saber se nao seria so’ que eram quatro da matina e mais que horas de estar a dormir.




Sebes

Param o carro perto daquela sebe, a ser aparada por um jardineiro da camara. Perguntam ao jardineiro o nome da planta. Ele responde

– Isto? Sao sebes.
– Sim, a sebe, como se chama?
– Entao, sebes.
– Sebes?

e o jardineiro, um pouco impertinente e agastado com tamanha ignorancia, a apontar para outras sebes mais longe, essas sem flor, de cedro

– Sim, sebes! Ha cedros e ha sebes. Estas sao sebes.


Hei-de estar a dormir

e o cabrao do nome da linha antiga de internet ha-de atravessar o sono e acordar-me a meio da noite. Hei-de ficar ali, ‘as voltas na cama, ja sem conseguir adormecer depois, a repetir “….” (o nome da linha antiga de internet), danada de ter acordado por uma razao tao estupida. Depois, hei-de levar um estalo de silencio total. Daquele que entra pela pele e nos risca os ossos, como um pau de giz a cair de um quadro preto. E depois, pela milesima vez, acordada a meio da noite, hei-de ficar indecisa entre querer viver aqui e fazer planos de emergencia em caso disso: e se aparecessem ladroes ou incendios ou lobos maus.


O ceu negro sobre a provincia

(sem acentos ainda fica mais ridiculo o escrevinhar de postais, mas va’)

O ceu negro sobre a provincia, ‘a hora do cigarro depois do jantar, era quase branco. Nao me perguntem a razao, ceu encoberto, escuro em todos os lados, menos naquele. Um sobressalto, ver o recorte dos choupos a uma hora em que a mancha se junta ao ceu. Lua, pergunto-me, sem saber a quantas ando, se estas noites sao de lua ou nem por isso. Mas nem e’ hora, nem sera’ lua, provavelmente, talvez a luz la’ mais longe, sobre a cidade (agora e’ cidade), hoje acesa, um jogo? Nao sei. Muita interferencia da civilizacao, aqui, onde se quer um ceu negro (e tambem gostariamos de estrelas, mas cheguei de ferias e trouxe nuvens que so passam ao entardecer, uma hora ou duas). E depois, um motor potente, tambem la’ longe. Adivinho rotacoes altas, mudanc,as a serem mudadas, sempre a aumentar e fico ‘a espera da rotunda ali a uns quilometros. Eu espero, o condutor e’ apanhado de surpresa. Nao ouc,o travoes mas as rotacoes reduzidas muito depressa. Um silencio…depois o arranque. Aquele nao vai abrac,ar a relva de mais uma rotunda de provincia. (quando a rotunda foi feita, sem luz na estrada, era desporto ir ver qual o carro que la’ tinha ficado de noite *).

* inventei esta parte mas fica bem como epilogo.