100nada

London Tube

Sentamo-nos e olhamos para a frente. Um cheiro a refogado que não se aguenta. Está um tipo esgroviado, a comer arroz de cenoura e ervilhas de uma embalagem transparente rectangular. Desviam-se os olhos para o outro lado onde está uma rapariga com um lenço cor de rosa enrolado ao pescoço, uma mini saia e perna cruzada, a ler um jornal. Olho para os sapatos de salto agulha muito alto e verifico que são, sem exagero, pelo menos três números acima do tamanho do pé. Ficamos aparvalhados “mas como é que ela consegue andar com aquilo?”. Ela sai numa estação anterior e ficamos a ver se anda bem sem chinelar. O espanto é que sim, anda normalmente. Deve estar com os dedos dos pés cravados nas biqueiras. Nunca pensei que fosse possível.

Quando saimos já vamos a meio da história. Os pais não a deixam sair naquela figura, pediu uns sapatos emprestados a uma amiga e leva as chinelas na carteira. Ou então não tem dinheiro para saltos altos e ofereceram-lhe aqueles. Não sabe que pode meter uma bola de papel na ponta e ficar com os pés mais atrás. Quando volta para casa, esconde os sapatos.

O tipo do arroz de cenoura e ervilhas continua dentro do metro,  a comer.


Alan Moore

Fã absoluta e só tinha lido um livro de Alan Moore. Mas é O LIVRO. Li-o emprestado, assim numa de “como é que não conheces isto?”, dito por um grande amigo,  há muitos anos. Nunca mais lho devolvi e esse meu amigo acabou por mo oferecer, contentíssimo por ter feito mais uma vítima de Alan Moore. Porque é disso que se trata, de livros que nos tornam vítimas de transformações: esse é um dos livros que alterou, sob a forma de abanão forte, talvez não a minha vida, mas a forma de olhar para algumas coisas (nomeadamente a banda desenhada). Há uma aura à volta do Watchmen  e uma pessoa nunca mais olha para um smiley da mesma maneira. É incrível como uma tanga de super-heróis (eu nunca fui muito super-heróis Marvel, era mais bolos Lombard) consegue ser assim e – esta é a parte da minha transformação em obsessiva Watchmenólica – eu achar que aquele livro é o melhor livro de banda desenhada do universo. Nada a fazer, é mesmo.  Faço parte de um grupo de tipos que provavelmente são meio tontinhos e tudo o resto empalidece em comparação.

O melhor livro de banda desenhada do universo, digo eu e o resto é conversa.

A menos que agora,  que sou a feliz proprietária de mais quatro do mesmo autor, mude de ideias.

Logo direi assim que os ler.

E comprei outro exemplar do Watchmen, claro. Para o emprestar a alguém que também gosta de banda desenhada. Talvez não mo devolva.  



Bagagem

Partida:
– um saco tamanho médio, sem estar cheio e com outro saco dobrado, tamanho médio-pequeno, dentro.

Regresso:
– um saco tamanho médio, cheio
– um saco tamanho médio-pequeno, cheio
– um saco-mala com rodinhas, tamanho médio-grande, cheio
– outro saco-mala com rodinhas (comprado meia hora depois do primeiro que afinal era preciso outro), cheio

Desculpem lá: Londres é caríssimo? Londres é caríssimo?? Onde???



Londres, SW7

À chegada, o taxi deu tantas voltas que me perdi. Ou então o encanto de rever a minha (minha, minha, minha) cidade, tão minha que é a única cidade do mundo onde quis viver toda a vida, depois dos anos lá passados. Sabia onde ia ficar, mas perdi-me, quando saí porta fora, não percebia exactamente onde estava. Dez passos até à esquina para me orientar e, de repente, uma chapada no cérebro. Do lado de lá da rua, do cruzamento, montras diferentes mas tudo igual e eu, olha, olha, é o meu jardim, é o jardim da minha casa! Na minha rua, em casa, uma sensação estranhíssima de tudo na mesma, tudo diferente. Muitos anos sem lá ir, fecham lojas, abrem novas, as casas iguais, o resto diferente e só o Christie’s no mesmo sítio (e depois os correios e as cabines telefónicas e a estação de metro e o tipo a vender flores), a ancorar-me ali à minha cidade, à minha casa.

A porta da minha casa, para lá da esquina seguinte e não a dobrei. Tudo diferente, tudo igual e, na minha memória,  a minha porta. Não fossem tê-la pintado de outra cor (que pouco mais se pode ali alterar), prefiro mantê-la (de que cor? já nem sei qual era, mas que interessa que não me lembre? se a tivessem pintado de outra cor, eu notaria) da cor que (não) me lembro.

E é engraçado que agora, depois de ter passado várias vezes pelas mesmas ruas onde passei milhares de vezes e de ter visto todas as alterações, sei que me hei-de lembrar de tudo, outra vez,  como era antes. Como se estas memórias mais frescas não sejam suficientemente opacas que cubram  os anos e todos os passos que ali dei. Ou então porque estas são outras e não serão memórias de passos em ruas mas antes de outros caminhos.


I'm a Bimby girl!

Frito, não estarás, Rui, que a Bimby não frita. 😉 Mas esqueceste-te de picado, ralado, feito em molho bernaise (5 minutos)  partido no meio do gelo das caipirinhas, misturado no bolo de chocolate (mmmmm!) ou tranformado em fanático das tais oitocentas receitas do FJV. Digam aleluia, as minhas bimbys amigas Ana, aNa, Cristina, Cool e mais uns quantos milhares de raparigas espertas: a Bimby está a chegar à rapaziada! Qualquer dia é vê-los a discutir a melhor maneira de lavar estores com o aspirador rainbow.

btw, cliquem aqui, só por curiosidade e vale a pena seguir alguns dos links: as bimbólicas é todo um programa.

(e não digam a ninguém que a minha o que faz mais cá em casa é mesmo apanhar pó)




Iamos para NY

(vinte sites de companhias aéreas normais, low cost e mais umas quantas com motores de busca) 

– foda-se, não há bilhetes?
– em cima da hora…
– que merda é esta? Não há datas?
– pois…
– mas estes gajos voam para Bunjumbura e não voam para NY?
– pra onde???
– se formos a Moscovo depois apanhamos a Aeroflot!
– tás doido?!
– deixa-me só ver mais estes…

(três horas depois)

Iamos para NY mas não vamos.