Moving Pictures

O mesmo filme, sempre o mesmo filme.
Vou andando por aqui e por ali e o filme vai passando contra o mesmo papel de cenário.Um filme com uma personagem ou mais, nem sei, uma talvez, ou seria espectadora? também não sei. Sei que a uma certa altura desaparece alguma coisa, mas o filme continua, sempre o mesmo filme, o mesmo fundo, cenário, serão aquelas árvores pintadas? Com uma trincha, traços largos, árvores de folhas amarelas, não, as folhas já voam, seria outono, ou talvez a poeira que resta do fim do verão, árvores sem folhas, luz apagada, lente gelada, espera que tenho de limpar isto, o mesmo filme, mesma personagem de mistério, mas há crime, algum corpo largado no fundo da doca, água suja e verde, aquilo é um braço? Não, apenas um traço. Tiras de nevoeiro, um carro numa estrada escura, consegues dar com o caminho? Não te perdes, pois não? é sempre a direito, se fosse a direito estava agora às cambalhotas pela serra abaixo, devia ter ido contigo, mas a estrada acaba um dia destes e depois? Um corpo largado perto de um tanque, um relvado de cães abandonados,vou tirar os sapatos, deitá-los pela janela, vês, estou descalça agora, um chão de vidros quebrados.
Um risco de giz no chão, não basta apagar com os passos de todos os dias. É preciso voltar a desenhar por cima. Pintar tudo da cor do mundo, pintar pegadas de alcatrão, as penas mergulhadas em tinteiros, de que cor é esta tinta?

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