100nada

A.B. (Antes do Blog)

Na época A.B. havia muita coisa para me entreter e lá ia escrevendo as minhas tretas por aqui e por ali. Mas o início dos inícios, de escrever para alguém ler, era uma coisa que se chamava ‘Os emails das sextas feiras’, enviados a meia dúzia de amigos que achavam graça às ditas tretas. De toda a gente que agora lê este blog, creio que apenas o RC se lembra (foi ele, aliás, que mo inspirou a escrever, como se verá…) Mas como foi há muito tempo, aqui vai um post, enlatado desde 1999. A história é de 1997 e é uma facto absolutamente verídico…irra, como o tempo passa…

Copos, carros e comboios

Porque um casal de amigos recentemente me contou uma verdadeira história de terror na A5 que felizmente acabou em bem, lembrei-me de vos contar uma história mais leve, também com automóveis, comboios e um conjunto de quatro criaturas bastante alcoolizadas. Para quem já conhece a história, paciência, ouve outra vez.

Ora bem, às vezes as noitadas mais engraçadas são aquelas que acontecem por acaso. E aqui há coisa de dois anos, um casal de amigos nossos – que agora se mudaram para o campo – resolveu começar a fazer em casa os chamados jantares de quinta feira, onde apareciam os amigos que queriam ir naquela semana e só precisavam de telefonar na véspera.

Um dos jantares de quinta, por motivos vários, passou para sexta. E por essa razão foi menos frequentado do que o costume, tendo acabado com o referido casal e dois ou três amigos, que saíram do jantar às 2 da manhã. Dois dos tais convidados, que já tinham bebido um copo ou quatro, e sendo sexta feira, resolveram que se calhar era engraçado ir beber mais uns noutro lado qualquer (hábito antigo já dos dois).

Portanto são duas e meia da manhã e estou eu com a minha roupa de ir jantar à casa ao lado, sapatos rasos e cara lavada, a entrar pelo T-Clube fora, com o meu amigo João e só paramos no bar, onde eu puxei de um banquinho e pusemos a escrita toda em dia até às 5 da manhã. Esta escrita, escusado será dizer, foi acompanhada não só com baldes de whisky mas ainda com vários shots de cores lindas, cada qual diferente dos outros.

Portanto quando os empregados vieram avisar que não podiam deixar a chave para nós fecharmos o estabelecimento, metemo-nos à estrada, que no caso concreto era a Marginal.

No desvio para Caxias notamos alguns carros parados na berma direita da Marginal e umas pessoas a olharem lá para baixo, para a saída do túnel dos comboios da linha de Cascais, que ali passa mesmo por baixo da Marginal. E reparamos também que a placa a dizer .Caxias. está meia de lado. Para quem não conhece o sítio, explica-se que a Marginal segue ligeiramente para a esquerda e o desvio de Caxias é para a direita. Portanto exactamente em frente, está a dita placa, e por trás um nada de alguns metros de altura, onde passam os tais comboios em baixo.

Bom, confesso que ficámos os dois curiosos. Encostamos o carro, já no desvio para Caixas, e vamos também espreitar para ver o quê que se passa com os comboios, que ainda por cima, estranho, mas só começam às 5 e meia da manhã, portanto ainda não é a hora deles.

E lá em baixo, em cima da linha do comboio está qualquer coisa, mas não é um comboio. Não.
É um Audi 3.
Muito direitinho (fora as mossas e a racha a todo o comprimento), com as rodas assentes nos carris e virado para Lisboa.
E duas alminhas sentadas por trás dos airbags abertos.

O meu amigo pega no telemóvel e liga para o 115, enquanto me manda para dentro do carro, para eu não ver desgraças. E eu deixo-o a ligar o telefone, e descubro que há ali uma escada de ferro encostada, e zuca, quando dei por mim já lá estou em baixo na linha a espreitar para dentro do Audi, e o meu amigo ainda a acabar de dizer não vás lá abaixo.

E dentro do carro estão dois rapazes novos, tão ou mais alcoolizados como eu, alucinados, e sem um único arranhão. Eu pergunto então estão bons, e eles dizem hã? E eu digo bom se não vos dói nada se calhar é melhor saírem daí, que estão em cima da linha do comboio e eles hâ? E eu vá lá, vá lá (com a minha melhor voz de generala) toca a sair daí, vá, pela escada, isso, à minha frente, siga.

E em 30 segundos estamos os quatro lá em cima sentados no parapeito da estrada, a fumar cigarros e à espera do 115, que entretanto foi avisado que caiu um carro na linha do comboio.

E depois lembramos-nos de duas coisas. Uma o carro ainda lá está em baixo. Duas o primeiro comboio àquela hora já saiu do Cais do Sodré. E telefonamos para a estação. Que não atende. Telefonamos outra vez para o 115, e avisamos que ainda pode haver um ligeiro problema, que só queríamos lembrar que o comboio está quase aí a chegar. Eles respondem que já tomaram nota da ocorrência e os meios estão a acorrer ao local.

E depois, quando começamos a ouvir sirenes ao longe, lembramo-nos de uma terceira coisa. Dos copos todos que bebemos. E que temos ali o carro ao lado. E resolvemos dizer aos outros dois voadores que nós vamos andando e vocês nunca nos viram.

E nessa altura ouvimos o comboio a entrar no túnel. Cuja saída tem ainda um A3 em cima da linha. E sem sequer acreditar no que estamos a ver, olhamos para baixo e vemos o comboio chocar com o A3 e arrastá-lo mais uns metros até parar!

E já com as sirenes perto, é mesmo hora de desandar dali para for a o mais depressa possível.

Mas a curiosidade é mais forte, e 10 minutos voltamos a pé.

No local estão ambulâncias, carros de polícia, reboques esquisitos, montes de carros de curiosos e carradas de pessoas que saíram entretanto do comboio. Ainda fomos perguntar a um polícia o quê que tinha acontecido, e os dois voadores ali a serem observados pelos paramédicos portaram-se muito bem e não nos reconheceram. Ainda hoje devem estar para saber quem nós éramos, se se lembrarem de alguma coisa.

E desta história se tiram as seguintes conclusões:

O A3, passe a publicidade, é de facto um carro sólido;

E o elevado teor de álcool no sangue às vezes faz-nos fazer coisas decentes em vez de asneiras, porque eu nunca lá teria ido abaixo buscar as duas alminhas mais sortudas daquela noite, se não estivesse no estado de inconsciência em que estava.

0 thoughts on “A.B. (Antes do Blog)

  1. catarina

    Não posso saber não Du, se calhar tinha lá ido à mesma…mas não tenho a certeza. Se calhar pensava: estas escadas estão podres, isto é muito alto, ainda fico debaixo de um comboio…não sei. Sei que naquele momento nem pensei um segundo sequer. E, graças a Deus eles não tinham nada senão estarem em estado de choque, porque se tivessem ficado magoados, não sei o que faria.

  2. Mar

    Ora, ora, e quem é que tem mais defeitos que toda agente, é apardalada e mais não sei o quê, quem é ? Afinal…saíste foi uma grande desenrascada, tu!

  3. Jack

    Para as criancinhas que lêem este blog:
    -Não abandonem o Super-Homem, ele ainda não foi superado pelo ‘Estebes’ cus copos! :)