Vistas curtas
Ainda se vê uma tira de mar.
A vista foi desaparecendo com o tempo e a exuberância da flora. No lugar dela, dessa água agora quase imaginária, sobrou uma mancha vaga e disforme, a ocupar o espaço que vai dos olhos à distância, como se a visão ali falhasse, quebrada. Essas coisas que toldam aquilo que se vê, embora se saiba que lá está, são (uma merda) um aborrecimento, para não dizer tristeza. Não é simples de arredar e vai crescendo (literalmente também) até se esquecer do que está para diante e passar a ser tudo baço.
Ainda se vê uma tira de mar. Nessa transparência (estreita, estreita) é (ainda) possível focar.
- Termómetro num dia de chuva
- O (único) post do ano
Pois é, partindo do princípio que o mar é (e será sempre) o referencial estático (e paradoxalmente o lugar fantasmagórico da nossa liberdade), assalta-me que tu, enquanto escreves, estás em movimento (o que não é novidade nenhuma e tão frequente quanto o número de parêntesis de que eu não consigo fugir para me justificar sempre nos comentários), e que é o ponto de vista que muda, que oculta que emagrece a linha do mar que continua lá, como sempre. É tudo uma questão das nossas … vistas (nada) curtas.
É isto. Um gajo complica mas tu tazaí e desmerdas a coisa. Tens toda a razão.
Ainda há essa tira. O meu está quase com a janela fechada. Até já teve melhores dias, acho.