E depois há também o livre arbítrio
Há qualquer coisa de terrivelmente atractivo no nevoeiro. É por ser inquietante, talvez. Temos a mania que só a clareza e a transparência são “boas”, que o branco e a luz é que são “certos”, e provavelmente até serão, mas o lado escuro, obscuro, perdido em nevoeiros, também tem uma certa graça. Muita até.
Nem toda a gente concordará, é evidente, mas sei que há pessoas que me entendem.
Há um clube de pessoas de olhos de gato que conseguem ver no escuro e no nevoeiro. Uma espécie de visão raio qualquer coisa, que adivinha o que lá está dentro, que antecipa e se arma até aos dentes e que entra sem hesitar, porque é nesse lusco-fusco, nessa terra de ninguém, que se encontra aquilo que é contraluz, as sombras que fazem parte da vida dessas pessoas. Não há aqui escolha, é puro impulso, emoção crua, não há cá óculos especiais para ver essas zonas, a visão está dentro (ou não existe e permanece-se do lado de fora e não tem problema absolutamente nenhum e a vida até é mais simples a preto e branco e nada redutora, apenas diferente). Mas quem gosta (não sei sequer se se trata de gostar, é uma necessidade absoluta, não se trata aqui de likes e sim de have tos) de nevoeiros e quem já lá andou dentro entende. É a natureza dessas pessoas, nascem ou em certa altura aparece-lhes um bocado de não-tem-nome na alma e essa parte acha giro coisas que outras pessoas acham estranho. Não quer dizer que não se tema, mas isso faz parte do giro, é um desafio. E giro é também pensar, aqui e agora, que 99% acha maradice literária e menos de 1% sabe. E algumas pessoas, que nunca pensaram nisso, estão a olhar para dentro e a fazer a pergunta
E eu, também sou assim?
- Considerações sobre pedras e calhaus
- agora fica assim
Olha que no clube das pessoas de olhos de gato há quem sabe o que é entrar dentro do nevoeiro e entende o que escreveste