100nada

Sem filtros e outras merdas

Cai a noite devagar e não encontro o caminho para casa. Pode ser da neblina de verão, misturada com o pó que se levanta e fica da cor do sol de fim da tarde. Pode ser de estar de olhos fechados, a sentir o vento na cara, à procura com o nariz, como um cão. Imagino sempre que os cães vêem (com o faro) riscas às cores ou em vários tons (os cães não vêem cores, pois não?) cada risca uma coisa diferente, uma pessoa, um coelho, um osso, o vento, o medo, deve ser tão bom ver tudo em riscas (imagino que são fitas) e sem filtros, tão mais simples também. Se abrir os olhos, verei tudo em riscas? Uma fita muito a direito, onde quase se consiga ler “é por ali” mesmo que a noite caia e já não seja neblina ou pó cor do sol, apenas ramos de árvore desenhados contra o escuro, não seja capaz de ver onde tenho os pés e, mesmo assim, eu saiba.

(mas o mais provável é tropeçar e enfiar um ramo num olho)

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