100nada

Meias solas, meias feitas

[tu nas obras descritas, mas eu sempre fui mais o sapateiro das meias solas]

Um elefante não tem asas, essa é a imagem real. Essa foi sempre a coisa real, um elefante não levanta voo porque não é aerodinâmico (para além de não ter asas). Isso foi sempre o que era suposto (depois ninguém ouve, é sempre assim). Mas também me aborrece não conseguir sequer pregar um prego numa sola, francamente, uma porcaria de um prego mínimo e um gajo a dar com o martelo nos dedos sempre que tenta e tanto sapatinho até bem arranjadinho que era possível antes.

O que é que resta a um sapateiro com remendos nos dedos? Nada, dar umas marteladas noutra coisa qualquer, umas estantes pré-fabricadas, compra uma aparafusadora eléctrica, é só ligar e acertar no parafuso, nada de especial mas sempre se consegue um resultado que se veja (e se use, que seja útil, que meias-solas já ninguém usa). Pregar (sim, pregar) candeeiros às paredes, já que caem as buchas soltas na areia chamada tijolo pelo construtor, coisas úteis que iluminam de facto, 11 W baixo consumo. Feiosas mas servem, não são nenhuns elefantes de luz, mas coisa prática.

Sempre achei, de qualquer modo, que meias-solas era assim uma coisa um bocado merdosa, se não ficasse bem feito.

2 thoughts on “Meias solas, meias feitas

  1. Curioso. Ainda ontem consegui pregar um prego numa sola! o pior foi depois para arrancar a tábua …ou o pé (conforme a direcção da dor por onde se queira olhar)
    … estive quase a pensar voltar para casa em ski.

  2. Variante

    Os sapatos consertados com meias solas não cosidas e/ou coladas, provocam-me lágrimas de dor, não pelas bicadas dos pregos, mas pela dor das marteladas nos dedos da gaja.

    (O rabecão armado em sapateiro assume uma variante muito interessante.)

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