O Carnaval é uma coisa que acontece aos outros
Que me lembre, nunca achei a mais pequena graça. Mas eu tenho mau feitio e detesto ser obrigada a divertir-me porque existe uma data estabelecida para isso. Detesto festas de fim de ano, por exemplo. E, não detestando o Carnaval, se puder passar ao lado, melhor.
Com uma criança, passar ao lado do Carnaval é impossível.
Começa a coisa uns tempos antes. Queres mascarar-te de quê? De rinoceronte. De quê??? Rinoceronte. Não pode ser leão? Não. Elefante? Não. Girafa? Não. Tigre? Não. Polícia? Não. Homem aranha? Não. Índio? Não.
Vamos às lojas todas.
Gostas deste?
Não.
E deste?
Têm de rinoceronte?
Não.
Não gosto de nenhum, são todos horríveis!
(birra)
Finalmente entramos numa loja onde há umas espadas.
Eu quero uma espada.
Uma espada de rinoceronte???
Não! Uma espada de pirata! Quero duas!
Duas? E um chapéu de pirata, queres?
Siiiiiiiiiiiim!
Os rinocerontes não usam chapéus de pirata…
Não quero ser rinoceronte! Quero ser pirata!
Já foste de pirata quando eras bebé…
E agora também quero!
Não queres mesmo ir de rinoceronte?
Não! Pirata!
Ok…
Não vale a pena comprar mais nada. Nos Carnavais anteriores arrancou tudo antes de sair de casa, não quero isto! Não gosto! É feio! Ainda mal sabia falar, já sabia que não queria nada daquilo.
A amiga Ana emprestou um gancho de Capitão Gancho.
Hoje de manhã:
Queres levar uma espada à cintura, porque nas mãos levas o gancho e a outra espada?
Não!
Queres levar só uma espada?
Não!
Não tens três mãos!
Levo tudo num saco de plástico!
(este miúdo dá cabo de mim…)
Vou pintar-te uns bigodes e umas cicatrizes.
Tá bem.
Ficam de cores diferentes, é giro não é?
É!
Vamos vestir o casaco…
Não quero os bigodes!
Mas agora estão pintados!
Tira! Tira os bigodes! Tira os bigodes ao espelho para eu ver que tiraste!
(…1…2…3….4….5….)
Onde é que tão as minhas espadas???
No saco de plástico…
Não quero as espadas no saco, quero levar na mão!
Faz como quiseres!
Chegada à escola:
Onde é que está a outra espada?
Deixei em casa, mãe! Não vês que não podia trazer na mão tantas coisas?
Creio que se vai vingar do Carnaval à ganchada e à espadeirada na cabeça dos amigos. Creio que devo um gancho novo à minha amiga Ana. Creio que este meu filho, com este espírito carnavalesco, tem a quem sair…
Gostava do Carnaval há uns anos atrás. Quando era, ainda, genuinamente português. Agora é uma mistura de brasileiro com figuras ridículas a desfilar para ene pacóvios. E chamo-lhes pacóvios não porque o sejam mas porque fazem figura de tal quando em vez de participarem se limitam a aceitar ser espectadores.
Tirando a parte do saco plástico, está tudo muito bem.
PS: É impressão minha ou este post está desarrumado?
Sim, eu já nem falo nos carnavais com os reis e rainhas importados das novelas…
Devia ser de papel, o saco?
Pois tá desarrumado, tá! Foi um pequeno momento de estupidez e sono…agora nem sei se tire e ponha no sítio, se deixe aqui e ponha também lá…