100nada

No semáforo vermelho

(Av. António Serpa, Lisboa)

Estão uns bombeiros a pedir. De fato vermelho, Associação Nacional de Bombeiros ou coisa assim. O semáforo está quase a mudar e não tenho tempo de abrir a carteira e procurar trocos. E sigo, a roer um peditório de bombeiros. Não é que seja coisa nova, já vi antes mas, por qualquer razão, ali, agora, dá-me cabo dos nervos. Não está certo. Não está nada nada certo. O país está em crise, não há verbas, nunca houve, daí os peditórios, nunca chega, mas foda-se! São bombeiros, caralho! Bombeiros! São os tipos que apagam os fogos. São os homens que dão o corpo ao manifesto quando as matas não são limpas, mais uma vez naquele ano, quando os planos directores ou seja lá o que passe por isso, se esquecem que é preciso ruas e estradas para se chegar aos incêndios, quando toda a gente acende e apaga cigarros no chão, faz piqueniques com fogareiros e queimadas quando ninguém está a ver, quando este país de merda se incendeia assim que começa uma nesga de calor. São esses homens que para lá vão, salvar o que podem, o que resta. Contra o fogo, pá. Não é contra um papel burocrático, não é contra uma chatice, não é com conversa e artigos e posts e retórica, é com mangueiras e carros e tudo aquilo já velho e obsoleto e a cair aos bocados. Estes tipos são heróis todos os dias e, bolas, estão nos semáforos a pedir, como se fossem aleijadinhos da tanga a falar línguas esquisitas. Não é justo, está profundamente errado. Os bombeiros não deviam ter que andar a pedir na rua. Tinham mais era que ter tudo a que devem ter direito, sem sequer dizer duas vezes.

Eu quero parte dos meus impostos para os bombeiros, já. Peguem fogo a meia dúzia de institutos inúteis. Ou três dezenas e o orçamento que sirva a quem merece. Porcaria de país sem vergonha na cara.

[quando era miúda, uns 15 anos ou isso, pediram voluntários no meu liceu, para ajudar os bombeiros no verão; fui logo dizer que sim. Não se riram de mim, os professores, responderam-me que, com o meu tamanho e peso, nem para ajudar a agarrar a mangueira teria força. Não se riram porque fui a única aluna num liceu de centenas de miúdos que se deu como voluntário. E sou socorrista, de treta, mas sou, com cartão da Escola Nacional de Bombeiros; uma pessoa faz o que consegue]

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7 thoughts on “No semáforo vermelho

  1. Karla

    Também houve peditório este fds aqui na zona. Demorei um bocado a explicar às miúdas porque é que estavam a pedir e porque é que eu queria mesmo mesmo contribuir. Não que tenha essa coragem de me dar como voluntária; mas o sonho de ter filhas melhores que eu não morre.

  2. catarina campos Post author

    Karla, eu tive essa coragem quando era miúda, agora sei vagamente fazer aquelas coisas de socorrismo, enfim…mas de facto esta causa dos bombeiros dá-me uma raiva das grandes.

    Sandra.:)

  3. Sandra Noronha

    não tenho visto bombeiros a pedir nos semáforos por onde passo, mas há uns tempos atrás o meu marido contribuiu num semáforo para um peditório e noutro mais à frente pediram-lhe novamente. o meu marido, naturalmente, respondeu: “já dei…”, resposta pronta do bombeiro, com um tom de voz raivoso: “pois pois, isso é o que todos dizem”.
    até para pedir é preciso jeito….

    e voluntária para bombeira?? grandes tomates, hein? :))) eu não sou voluntária dessas coisas, tenho medo de fazer asneira à conta dos nervos :-S

  4. catarina campos Post author

    Ng quer o meu sangue. Primeiro não tinha peso suficiente, mas é sempre com ferro a menos.

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