100nada

O portátil Magalhães (2)

Ao post em baixo acrescento uma coisa ou três:

Para os defensores de não se começar pelos mais pequenos, que a existirem computadores de baixo custo, deveriam ser para os mais velhos, informo que no site da e.escola, existem condições para aquisição de computadores também baratinhos, ao abrigo daquela coisa das Novas Oportunidades (que acho uma treta, mas isso será matéria para outro post).

O Magalhães não é nenhuma bomba topo de gama de portáteis: é um computador cujo custo é baixo, porque – penso eu – os componentes também são básicos: talvez os alunos mais crescidos não o achassem assim grande espingarda. Mas isso é apenas uma gota de água no tema.

Quanto a mim, o principal é o seguinte:

A educação começa-se de pequeno. Eu defendo que o investimento grande na educação deveria ser no ensino básico. É durante esses anos que se forma o tipo de aluno que segue depois pelo ensino fora. Os hábitos de trabalho, a atenção, a concentração, o civismo, tudo isso se ensina a miúdos pequenos. Se as escolas tivessem não só um corpo docente decente como ainda o apoio de outro tipo de profissionais, auxiliares suficientes para realmente tomarem conta da miudagem nos intervalos, profissionais de educação especial, psicólogos nem que fosse uma vez por semana, pessoas que pudessem conversar com os pais, enfim, todo um conjunto de pessoas que pudessem cada um delas desempenhar o seu papel, em vez de se desdobrarem em tarefas que não são das suas competências, os miúdos ficariam muito mais bem preparados para prosseguirem os estudos com algum respeito pela escola e pelo que aprendem e facilitaria bastante a tarefa dos professores dos anos posteriores. Digo eu.

O Magalhães entra nessa perspectiva. É mais uma ferramenta de aprendizagem e é uma daquelas imprescindíveis nos tempos actuais. Quanto mais depressa – e mais facilmente, porque a miudagem aprende essas coisas num instante – os miúdos aprenderem a utilizar computadores pessoais e a internet, mais bagagem útil levam para a sua vida escolar futura.

E isto tem que se começar por algum lado. As vozes que berram que aquela escola levou Magalhãeses e a outra não, talvez pensar que a empresa que os distribui poderia sempre armazenar Magalhães até ao telhado e um dia, assim o dia M, fornecia um Magalhães a cada aluno do 1º e 2º ciclos em Portugal. O dia não seria este ano, claro, e o custo teria que englobar os custos de manutenção de stocks, mas se calhar a malta mais invejosa ficava contente. Ou então não, porque faltavam os outros alunos. E se fosse a todos os alunos portugueses, do infantário até aos doutorados, faltavam Magalhães para os que não estavam a estudar. E depois faltavam aos idosos, que também merecem uma oportunidade de ter um Hi5…

16 thoughts on “O portátil Magalhães (2)

  1. Vítor I.

    A única medida positiva deste Governo foi o lançamento do portátil Magalhães, algo que constitui um exemplo a nível mundial.
    Porém o acesso fácil às “novas” tecnologias por si só não basta, é necessário haver uma educação exigente onde se aprenda a pensar, a adquirir conhecimentos e principalmente a ter o domínio da língua materna (pela leitura e pela escrita), competência fundamental para qualquer ser humano.

  2. catarina

    Bom olhos te vejam, ó miúda! Finalmente um intervalinho para os blogs, hein? Pois é, nem mais (quer dizer, haveria muito mais que dizer, mas estaria aqui a noite toda).

    Vítor, tens toda a razão. Mas eu colocaria o bold nas 3 coisas.

  3. João Pedro

    A ideia dos miudos terem computador parece-me bem, mas não sei até que ponto é de facto benéfico numa idade tão precoce. Gostaria de ver opiniões de pedagogos entendidos no assunto. Outra coisa que não sei é de onde vêm eles, quem os pagou. São 200M que não se sabe bem de onde vêm ou para onde vão. Acho que existe uma falta de escrutinio muito grande não só neste como em muitos outros casos. Anda tudo tão contente com a ideia que ninguém se dá ao trabalho de investigar as coisas. Mais uma vez concluio que os nossos jornalistas andam a dormir.

  4. catarina

    @na :)

    João Pedro, benéfico não sei se é, mas deve ser bastante mais que a televisão. De outra forma não existiriam excelente conteúdos para crianças: basta consultar sites como o da Porto Editora, que tem excelente jogos para ajudar a aprendizagem de uma série de matérias, (as hoje em dia todas as editoras de livros escolares, têm também material didáctico dessa natureza).

    Quanto aos custos e proveniência dos fundos, alguma coisa se pode encontrar fazendo pesquisa sobre o assunto, nomeadamente parcerias que existem com fornecedores de net (pelo menos no caso dos computadores para as Novas Oportunidades, isso está explícito no site e.escola). Acredito que alguns jornalistas andem a dormir, mas outros não andarão por certo: naturalmente não encontraram nenhum “escândalo”, daí a falta de informação. Eu não sou muito dada a teorias de conspiração. :) E, mesmo que seja totalmente financiado pelo Orçamento de Estado, sinceramente prefiro que os meus impostos sejam canalizados para este tipo de iniciativas, do que sirvam para colmatar outras coisas, como perdões fiscais ou afins.

  5. mariajosevitorino

    Piquena reflexão gramatical

    TER não é o mesm que SABER USAR ou mesmo de USAR
    SER CAPAZ DE USAR(PODER) requer ter acesso a (o que muita gente julga que é igual a ter, mas não é)
    Por isso, fazer ter não é o mesmo que dar o poder
    nem o saber

    Por estas e por outras, consumir é muitio mais fácil que construir, e há países de gente estúpida em que se usam transportes públicos, equipamentos colectivs mas acessíveis, apoios de gente capaz de dialogar com gente e ajudas a aprender a usar – a dominar – Magalhães e outros, do ponto de vista de quem usa e não de quem … vende?

    A batalha da info-exclusão tem muitos cambiantes. O combate pelo acesso à inteligência passa por fazer pensar e escrever – com o Magalhães? Claro! Mas também em cada coelho de propaganda em cartola enganadora.

    Começar de pequenino a educação é boa política, mas a apropriação de uma ferramenta como o computador de um poto de vista não consumista passa sempre por medidas para todas as idades- os pequeninos imitam os grandes, sabias? É ver exemplo dos telemóveis, para só ficarmos pela esfera tecnológica.

  6. emiele

    Catarina, o teu 5º parágrafo, o que começa «A educação começa-se de pequeno» está excelente. E quando dizes «Se as escolas tivessem não só um corpo docente decente como ainda o apoio de outro tipo de profissionais,…» pareço eu a falar. Nem imaginas as vezes que tenho dito isso. Na minha vida profissional andei anos a trabalhar em áreas do pré-escolar [não, não sou educadora :) ] e sei que o que se planta nessa idade vem dar fruto quando é necessário.
    Completamente de acordo.

  7. catarina

    Maria José Vitorino, a sua reflexão pareceu-me mais de carácter político-demagogo que gramatical. E fiquei sem saber qual era exactamente a sua questão, embora a postura seja clara. O Magalhães é mais uma ferramenta e é feito à medida dos mais pequenos. E começar de pequenino a educação não é só uma boa política, é a única forma de assegurar que, em mais crescido, estão ali pessoas educadas e formadas.

    Emiéle, sempre ouvi dizer que se ensina (ou educa) de pequenino e é o que a minha experiência directa me diz. E está mais que provado que aqueles primeiros anos na vida das pessoas são importantíssimos para a vida futura, quer nesta matéria e campo – a escola – quer no ambiente familiar. Se o investimento fosse em grande no primeiro ciclo (e no pré-escolar), poupavam-se muitos custos depois.

  8. Cool Mum

    Não vou chover no molhado, concordo com quase tudo o que aí em cima foi escrito, e estou ansiosa que o Magalhães chegue lá a casa.

  9. Carla

    Eu acho a ideia do Magalhães gira e tal, sou dada a gadgets e pronto, acho giro. E relativamente a isso mais não digo, que não me debrucei o suficiente sobre o assunto.

    Tenho um filho com 6 anos, que está na class 2, vivemos em Londres. O meu filho anda numa escola, onde não pagamos NADA, no nosso caso é uma escola católica, suportada pelo Estado e pela Diocese (quando digo nada, é nada, nem livros, nem canetas, nem lápis). É uma escola pequena, dos 3 aos 11 anos, com cerca de 200 alunos, o meu filho tem 20 colegas na turma, e a tempo inteiro na sala, além da professora responsável, tem uma auxiliar de educação (e esta senhora não está lá para limpar a a sala, ou cortar cartolinas, cumpre o nome de ajudar a professora na educação dos miúdos), ainda tem mais uma professora que o está a ajudar diariamente a aprender inglês.

    Para nós (pais) isso agora é muito mais importante que um Magalhães.

  10. Carla

    Ah, e além disso têm computadores com internet na escola, em que os miúdos (supervisionados) aprendem a pesquisar, googlar, traduzir, etc.

    O meu filho tem 6 anos, e provavelmente vai herdar o meu portátil em breve. Para cá para casa não podemos mandar vir o Magalhães, talvez nem quisessemos, mas há-de haver casas em que será muito útil. Digo eu.

  11. mariajosevitorino

    Catarina
    A questão gramatical é a do sujeito activo do uso do computador. O rótulo político é correcto – todas estas conversas são políticas, e sobre uma medida política, o Magalhães. O rótulo demagogo pertence-lhe, e não o assumo, claro, mas a leitura é sempre mais de quem lê que de quem escreve, e lá tera as suas razões. Ninguém é perfeito, por isso tentarei esclarecer o meu ponto de vista

    De pequenino se começa a educação, mas tem de haver medidas em várias frentes – oferecer computadores aos mais pequenos e promover neles a literacia da informação é bom, se se fizerem ambas as medidas, e a segunda é mais essencial que a primeira. Essencial é ainda incidir em vários segmentos etários, tendo em conta a aceleração do fosso digital entre gerações, por exemplo, e ainda a importância efectiva e afectiva de construção de usos e linguangens comuns entre mais velhos e mais novos para a apropriação mais adequada das tecnologias como ferramentas de conhecimento e de criação, e não tanto de consumo de conteúdos produzidos por outros. Há abundante literatura sobre este assunto, na web, em diversos tons e afinidades ideológicas, se quisermos aprofundar o tema.

    Quanto às limitações da oferta de computadores, creio que os posts da Carla são esclarecedores. Já os usei para promover debate e reflexão entre educadores (ex. docentes, não docentes e pais/mães) e cuidadores de proximidade (ex. avós, profissionais de ATL…) e foram deveras úteis. Bem haja!

  12. catarina

    Cool, também eu.

    Carla, eu já vivi em Londres durante uns anos. Estamos a falar de realidades completamente distintas, não é? Quem me dera que a escola aqui fosse essa, mas não é. Por outro lado, quando se fala da participação dos pais na educação dos filhos, lembro-me sempre que os ingleses, alguma parte deles (e todos os outros têm essa ambição, já que são essas as escolas consideradas melhores) enviam os filhos para colégios internos desde tenra idade e passam com eles as férias, quando passam. Mas a educação em escolas públicas será de certeza em condições melhores que a nossa, assim como os hospitais públicos são melhores, os transportes públicos, a burocracia, enfim, tudo.

    Como é evidente, para as mães e pais de cá, ou pelo menos para aquelas e aqueles que conheço, há coisas bem mais prioritárias que o Magalhães nas escolas. Mas o Estado português não faz exactamente uma gestão global das coisas e nem sempre são coordenadas. Ou então havia verba para Magalhães (que é uma iniciativa privada), mas não havia para computadores para as escolas. Isto tudo para dizer que muito haveria que fazer, mas já que *ao menos* há o Magalhães, pois é muito bem vindo.

  13. catarina

    Maria José,

    A demagogia no seu primeiro comentário estava na propaganda negativa, quando referia o consumismo, como se o Magalhães fosse apenas um brinquedo, quando o meu post era sobre a educação no primeiro ciclo. Como deve calcular, eu não sei quem são as pessoas que aqui comentam e tenho a minha quota parte de gente que aparece apenas para deitar abaixo sem grandes argumentos e foi dessa forma que li o seu comentário.

    Creio que com o seu comentário seguinte, regressamos ao tema de forma muito mais construtiva.
    Não me passa pela cabeça que o Magalhães seja distribuído sem haver a outra parte, de formação ou pelo menos informação aos professores, sobre a utilização dos mesmos e como ensinar isso aos miúdos. Aliás creio que os quadros interactivos estão relacionados, resta saber como, e que os Magalhães vêm já com alguns programas didácticos.

    A medida é política, como são todas as tomadas por um governo; será política na medida em que faz parte de uma política e será política na medida em que serve interesses políticos, não tenho qualquer dúvida. Período pré-eleitorais são sempre assim, cheios de rebuçados para o eleitorado. O que não quer dizer que todos eles sejam envenenados.

    Quanto ao computador como ferramenta e criação em vez de utilização de conteúdos feitos por outros, não entendo esta diferença. Tudo – menos programação – são conteúdos. Googlar é uma utilização de um computador e da net, mas o Google é um programa (feito por outros) para encontrar conteúdos. Consultar uma enciclopédia online é consultar conteúdos. A menos que se refira a conteúdos meramente lúdicos e sem caracter didáctico e, nesse caso, estamos de acordo, embora eu não seja contra jogos de computador. Mas não acho que o Magalhães fosse de distribuir se fosse apenas para dar aos miúdos oportunidade de jogar Sims e Super Mário. O que não quer dizer que não o façam, mas nesse campo entram duas coisas: a escola, que espero faça bom uso do facto de os miúdos disporem de portáteis (e não sou ingénua: haverá professoras que farão aulas interessantíssimas e haverá outras que passarão o tempo a queixar-se que não tiveram formação e não sabem mexer nem ensinar). O outro factor são os pais e aí, não há nada a fazer. Uns ajudarão e ensinarão, outros dirão “a escola que te ensine” e outros ainda, como li nuns comentários noutro blog, vão vendê-los à feira do relógio. Como em tudo o resto, há pais que ajudam os filhos na leitura, outros que lhes dizem “para que queres tu essas mariquices de livros”, mas pelo menos todos os miúdos terão este portátil, como têm também lápis e canetas e cadernos e manuais. Educar os pais é muito mais complicado que educar os filhos pequenos…

    Finalmente os posts da Carla, aqui estou perdida, não faço ideia a que se refere, não sei em que blog estão e agradecia imenso que me colocasse aqui o link.

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